Um aviso: não sou cozinheira de mão cheia, muito menos chef. Adoro comer, mas cozinho pouco. Me viro. Tenho uma meia dúzia de especialidades que preparo de quando em nunca e me saio muito bem com elas. Mas, no dia a dia, quem mais faz comida em casa é o meu marido. Talvez por ver o gosto que ele tem em cozinhar (e sentir o gosto dos pratos dele), eu muitas vezes me acomodo na cadeira da mesa de jantar. Ou melhor, assumo outras tarefas enquanto ele corta, mistura, peneira, amassa, assa, refoga, frita.
A vida não estaria mal se seguisse assim, mas, há alguns anos, pedi emprestado para minha mãe, Amanda, o caderno de receitas dela. Desde então, ele me espreita na prateleira da sala, esperando que eu coloque em prática alguns dos pratos marcantes da minha infância. As páginas desbotadas contêm comida simples, feita para a família, boa parte dela datada (ou vintage…). Um mundo sem medo do leite condensado e outros atalhos de produtos industrializados (faça uma cobertura para o bolo ou use uma pronta mesmo, sugere uma anotação da minha mãe).
Assim como eu não sou prendada, minha mãe não era uma dona-de-casa que passava seus dias a ver programas de culinária na TV e preparar quitutes. Trabalhava fora, ralava, e o faz até hoje. Quando podia, cozinhava (bem) para os três filhos. Uma comida no geral equilibrada, mas que incluía às vezes doses altas de açúcar e sódio, gordura saturada ou mesmo hidrogenada – durmam com isso, mães que só compram orgânicos.
Eu mesma, que compro orgânicos com frequência mas não tenho medo de banha de porco ou de uma injeção de açúcar de vez em quando, sinto arrepios ao ler alguns trechos do caderno. Patê de salsicha enlatada?! Espero que você nunca tenha feito isso para mim, mãe, porque eu certamente não vou servir isso para o meu filho. Quanto a outros pratos, que vontade de preparar para o pequeno! E pedir ajuda para ele, assim como eu a ajudava – minha caligrafia de criança em algumas páginas lembra também que, certa vez, assumi a tarefa de passar a limpo as receitas que parentes e amigas tinham dado a você em folhas avulsas…
Mas, voltando ao (ugh!) patê de salsicha. Quem sabe se a gente adaptar, usar porco porco em vez de porco processado? Olha que pode ser bom! Está aí um desafio para um futuro post. Outros desafios virão. Para vencê-los, pretendo contar com a ajuda de profissionais, amigos, leitores, do marido bom de fogão e, é claro, da minha mãe, ainda que a algumas centenas de quilômetros de distância. Imagino que às vezes vai dar certo e às vezes não.
Neste blog, também pretendo conversar com chefs para entender como a comidinha da mãe (ou do pai, da avó, do avô, da tia…) marcou suas infâncias e influencia o que eles fazem hoje. E vou dar dicas e pitacos sobre restaurantes, bares, viagens e o que mais me der na telha.
Avante, com muito sabor, uma pitada de nostalgia e bastante coragem para colocar à prova e modificar a comida materna.
Já escrevi sobre a maior festa junina do mundo: a das minhas recordações de infância. Acontecia na vila onde eu…
Tem dias que não são sopa. Temos vivido uns tantos nos últimos tempos. Um prato de sopa não resolve, mas…
Minha coluna de setembro na Casa e Jardim tratou de uma obsessão familiar: o sagu. Leia aqui também. Em busca…
Gosto do visual da couve-flor assada inteira no forno e fatiada na hora de servir. Sem contar que é fácil…
Não tem segredo. O que tem é manteiga, alho e salsinha, uma combinação que fica bem com couve-flor tostada e…
Couve-flor é o tema da Newsletter do Caderno desta semana. Uma das receitas que a gente destaca lá é essa…