Prometi investigar receitas de Jericoacoara, aqui entrego uma receita de Jericoacoara. Ou melhor, de Jijoca de Jericoacoara, onde almocei hoje no Chez Loran Vip, ótimo pela comida e pelo ambiente, à beira da Lagoa do Paraíso. O nome do restaurante é meio francês, meio inglês, mas os donos atuais são portugueses. O prato que me impressionou leva ingredientes cearenses e sotaque lusitano: um arroz de camarão e lagosta bem caldoso – ou malandrinho, como dizem além-mar. Depois do almoço, a proprietária Cristina Gamito, simpática até (a ponto de ter se posto a dar a comida para o meu filho, com direito a “aviãozinho”), contou como prepara a receita.
Ingredientes
Tomate
Cebola
Alho
Louro
Arroz
Lagosta
Camarão
Sal
Modo de preparo Cristina faz um molho de tomate com cebola, alho e louro (e sal, imagino). No próprio molho, cozinha o arroz. Quando este já está praticamente pronto, joga pedaços da lagosta, com casca, e, em seguida, camarão sem casca. A etapa anterior, segundo Cristina, é muito rápida: os frutos do mar cozinham em questão de minuto. À mistura, ela acrescenta também um pouco (cerca de uma colher em um prato para dois) de um caldo que ela faz com a casca do camarão, que é cozida, depois batida no liquidificador e então coada. Para não desperdiçar, Cristina congela esse caldo em saquinhos.
Acabo de chegar a Jericoacoara, no Ceará, e vou passar alguns dias por aqui. Nesse período, assim como eu, o caderno de receitas da minha mãe ficará de férias (não tenho estrutura ou vontade de cozinhar grande coisa por aqui).
Quero lagartear.
Mas não abandonarei o blog. Pretendo postar curiosidades e receitas do que comer. Na verdade, já saí de São Paulo, onde moro, com uma missão: reencontrar uma senhora que, até minha última visita a Jericoacoara, anos atrás, vendia uma torta de banana sensacional (pelo menos na minha lembrança). Será que vou conseguir? Será que ela me passa a receita da torta? Será que é boa mesmo? Respostas nos próximos capítulos.
(Enquanto a torta não vem, público a foto do meu primeiro prato em Jeri: moquequinha de arraia com farofa do Bar do Alexandre.)
Já contei no post anterior que preparei biscoitos de castanha-do-pará para servir em um chá. Uma hora antes de minhas amigas chegarem, resolvi que faria também um bolo, para acompanhar a geleia de morango que cozinhei outro dia. Não à toa, escolhi no caderno de receitas da minha mãe um “bolo-relâmpago”, de fato muito simples e rápido. Consegui terminá-lo antes de as visitas chegarem, mesmo fazendo duas pausas para ligar para a minha mãe no meio da preparação. O benefício extra foi deixar a casa com um resíduo daquele cheirinho de massa assando no forno.
Ingredientes
11 colheres de sopa de açúcar (mais um pouco para polvilhar)
10 colheres de sopa de farinha de trigo
1 colher de sopa de manteiga (mais um pouco para untar)
1 colher de sopa rasa de fermento químico em pó
3 ovos
1 xícara de leite
1 pitada de sal
Canela em pó
Modo de preparo
Bati todos os ingredientes no liquidificador e obtive uma massa bem líquida (liguei para minha mãe e ela disse que era assim mesmo).
Despejei a massa em um tabuleiro untado e o assei em forno médio-alto (200ºC) até ficar levemente dourado e um palito, quando enfiado no meio da massa, sair sem pedacinhos de grudados.
Tenho uma amiga, a Paula Moura, que é especialista em chás. Escreve reportagens sobre o assunto, estudou a cerimônia do chá japonesa e morou no Japão para ver o ritual de perto (quer dizer, não cruzou o mundo só pra isso, mas certamente tomou bastante chá por lá…). Sempre que viaja, a Paula – ocidental, de uma família de produtores de café em Minas Gerais – traz chás diferentes. Agora, recém-chegada de Washington, ela propôs fazer aqui em casa uma degustação das variedades que trouxe na bagagem. Minha contribuição, ela ainda não sabe, serão os biscoitos de castanha-do-pará que eu ensinarei a fazer a seguir.
Não tenho costume de fazer biscoitos em casa. Muito menos de promover chás da tarde. Meu marido, Marcos, que mantém um blog botequeiro, achou graça: “Vocês vão brincar de casinha?”. E eu logo me imaginei como Elly, a elefanta do desenho animado Pocoyo, sentada diante de uma boneca e segurando uma xícara com o dedinho levantado – como mãe, é esse tipo de coisa que eu assisto ultimamente.
Quando o cheiro de castanha-do-Pará tomou conta da casa, Marcos trocou as gracinhas por um “Huummm…”. Depois provou a receita pronta e comentou, brincando, que eu poderia vender minha produção para a cafeteria perto de casa. Desde então, já o vi assaltar o pote de biscoitos algumas vezes. Espero que sobre algum para mais tarde.
Ingredientes
100 gramas de castanhas-do-pará moídas (pesadas sem a casca)
200 gramas de manteiga
200 gramas de farinha de trigo
70 gramas de açúcar
Modo de preparo
Em uma tigela, misturei todos os ingredientes com as mãos (que ficaram bem macias depois de mexer em tanta gordura) até obter uma massa compacta. Moldei bolas pequenas, pouco maiores que bolinhas de gude, e as distribuí em uma assadeira untada, deixando espaço para que crescessem. Depois de fazer 42 biscoitos, o que cabia na minha assadeira, ainda sobrou um pouco de massa, então eu a envolvi em filme plástico e a guardei no congelador para tentar assar depois. Levei a assadeira ao forno baixo (180ºC). Em 20 minutos os biscoitos estavam prontos. Na receita original, depois de assados eles eram passados em uma mistura de açúcar e baunilha em pó, mas eu açucarei um e achei que não precisava de mais açúcar na minha vida. Eles ficam perfeitamente bons sem essa última etapa.
É curta para a quantidade de beijos que eu quero dar no pé do bebê. Minúscula para completar 7 voltas ao mundo sem pressa e explorar todos os prazeres de dormir na própria cama, a sós ou acompanhada. Corrida para preparar as dezenas de doces e salgados do caderno de receitas da minha mãe. Apertada para ser jornalista, roteirista, historiadora, cozinheira, bailarina, florista, investigadora, veterinária, bióloga, agricultora – e até para viver tudo isso só nos bons livros, filmes, séries e revistas disponíveis por aí. Aliás, quem lê tanta notícia?
Se você der muita sorte (ou azar, sei lá), vai passar por 25 Copas do Mundo, mas não vai se lembrar das primeiras e talvez nem das últimas. Aliás, e nos 34 fins de semana que já ficaram para trás neste ano, o que você fez? Comeu bem, bebeu bem, transou bem, conversou bem, trabalhou bem, dormiu bem, viveu bem?
No intervalo entre duas Copas, vi a revista em que eu trabalhava fechar, participei do lançamento de um site, virei sócia de um restaurante, deixei para trás a vida de carteira de trabalho assinada (“Oi, desemprego!”), fiz viagens ótimas e médias, frequentei festas malucas e atravessei o Atlântico de avião com um bebê de colo, o que também é bem louco. Ganhei sobrinhos, conheci novos amigos e parei de ver outros, retomei e abandonei a academia 745 vezes, fiquei mais relaxada mas mais exigente, aprendi a me maquiar, bebi bebida boa, bebi bebida ruim, comi do bom e do pior. Acima de tudo isso e de tudo mais, tive um filho, o que me tornou uma mãe babona e me fez acreditar na verdade dos clichês. Porque, meu amigo, é verdade que o nascimento parece um milagre, que cada descoberta da criança é uma emoção para os pais (“Ele faz bolhas de saliva!”), que não existe amor igual, blablablá-blablablá. Também é verdade que o primeiro ano do bebê “passa assim, ó”. E vem daí o lugar-comum que me pega forte ultimamente.
A vida é curtíssima, quase tão curta quanto as saias das moças na homepage da Globo.com. Até agora, já fiz um bocado de coisas, mas deixei de fazer tantas e fiz tantas outras que eu não queria no tempo em que eu poderia estar fazendo o que queria…Os abraços do meu filho são gostosos demais para serem trocados por atualizações sem fim do feed do Facebook ou percursos inúteis no trânsito. Meu sono é precioso demais para ser comido por programas ruins de TV. Meu estômago é pequeno demais para aguentar escolhas erradas de restaurantes.
Melhor investir nos bons pecados, porque a vida é curta demais para ser apreciada com moderação ou abreviada com excessos. Cabe em uma biografia de 4 mil páginas, em duas datas entre parênteses, na inscrição de uma lápide.
Sabe aquela viagem para Londres? Foi há 8 anos. Sex and the City? Acabou há 10. O almoço de comida ruim? Já foi, está pago. O passeio de bugue nas dunas? Lá se foram 15 anos. E o próximo passeio, você vai querer com ou sem emoção?