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Rocambole de batata e frango — ou umas sobras bem enroladas (post no Globo em 7/8)

Escrevi hoje no site do Globo sobre a receita de rocambole da minha bisavó.

O texto, você lê também aqui.

Rocambole de batata e frango

Fazia tempo que eu pensava em testar este prato anotado no caderno de receitas da minha mãe: rocambole da dona Maria. Sentia curiosidade, mas nunca encontrava ocasião. E, quando a gente não encontra ocasião, alguma coisa tem.

Maria era minha bisavó por parte de pai, celebrada na família pelo talento na cozinha e lembrada por mim também pelas broncas terríveis que dava — “Acaba de nascer um ponto preto no seu coração!”, dizia para crianças malcriadas.

Gastei umas horas razoáveis da infância calculando o tamanho das manchas dentro do meu peito, mas acho que não vem daí a enrolação para enrolar rocambole. O problema era uma dose de preguiça, uma colherada de medo de errar e uma pitada de mau humor contra o que me parecia uma complicação anacrônica, um salamaleque culinário de tempos passados. Enrolar rocambole pro jantar? Quer que eu borde a toalha da mesa também?

E aqui estou eu mordendo a língua, digo, o rocambole. Porque finalmente enrolei o dito-cujo e descobri que ele embala maravilhosamente sobras de carne. Quem vai lembrar do resto do frango assado de domingo quando na segunda-feira ele vem refogado com tomate e entra no meio de uma massa bem batatuda? Viva a bisavó Maria! (Acho que ganhei um pontinho vermelho no coração.)

Receita

Ingredientes

Para a massa:

  • ½ quilo de batatas
  • 2 colheres (sopa) de farinha de trigo
  • 1 xícara de leite quente
  • 1 ovo (com a clara batida em neve)
  • ½ xícara de parmesão ralado (ou quantidade a gosto)
  • 1 colher (sopa) de manteiga derretida (mais um tanto para untar)
  • Sal a gosto

Para o recheio

  • Azeite
  • ½ cebola
  • 2 dentes de alho
  • Sobras de frango assado (uma sobrecoxa ou um pedaço de peito ou o que você tiver à mão)
  • 1 lata de tomate pelado
  • Salsinha
  • Sal a gosto
  • Pimenta-do-reino a gosto

Modo de preparo

  1. Cozinhe as batatas, depois as descasque e as amasse com um garfo.
  2. Misture as batatas com os outros ingredientes. Coloque por último a clara em neve, mexendo levemente, só o suficiente para incorporá-la à massa.
  3. Unte com manteiga uma assadeira de 25 x 35 cm.
  4. Espalhe a massa do rocambole na assadeira. Leve ao forno pré-aquecido a 180ºC e asse até firmar e ficar levemente dourado.
  5. Espere pelo menos meia hora antes de desenformar cuidadosamente sobre um pano de prato úmido.
  6. Faça o recheio: refogue a cebola e o alho picados em azeite; junte o frango e o tomate; quebre os tomates com uma colher; deixe apurar um pouco; junte a salsinha; acerte sal e pimenta. (Você também pode improvisar outros recheios, com carne de boi ou camarão, por exemplo.)
  7. Espalhe uma camada fina do recheio sobre o rocambole.
  8. Com a ajuda do pano, levante a massa e vá enrolando até formar o rocambole.
  9. Retire o pano e aqueça no forno (se não for comer na hora, guarde na geladeira embalado no pano).

Receita de rocambole de batata e frango

Para cozinhar mais:

Livro Cozinha de Vó

Capa do Livro Cozinha de Vó - Mariana Weber - Superinteressante

Uma torta de fubá e uma não-vontade de voltar no tempo

Torta de fubá (foto: O Caderno de Receitas)

Houve um tempo em que dependíamos menos do mundo lá fora. Não que esse tempo fosse melhor. Senhoras e senhores de nossos lares, sabíamos mais sobre como fazer nosso próprio alimento, nossas próprias roupas, nossos próprios consertos, nossos próprios móveis e até nossas próprias casas. Em compensação, se nos bastávamos em questões práticas, tínhamos menos autonomia para tomar decisões realmente importantes sobre como gostaríamos de viver. Eu não troco minha liberdade de hoje por nada aliás, quero muito mais , mas bem que invejo a desenvoltura de quem não precisa ligar para o seguro toda vez que um parafuso sai do lugar.

Minha bisavó Maria era uma senhora arredondada na forma e com arestas no trato. É minha memória de infância, pode ser injusta, mas, enfim, é a que guardei. Alguém que construiu o sítio onde eu passava as férias — não sei com quanto de ajuda externa, provavelmente com pedreiros, sem essas modernidades de engenheiro e arquiteto. Cuidava da horta e do pomar, costurava, organizava festas infantis, rachava o calcanhar de andar descalça, ralhava com os netos. E cozinhava. Muito.

Consigo vê-la na cozinha do sobrado em São Paulo, preparando miolo. Também consigo vê-la sentada à mesa da sala, o mundo lá fora entrando pela TV e se transformando em anotações. Receitas para um bacalhau e para um chantilly de margarina (não!) da Ofélia, conservas anunciadas no programa Revista Feminina, o telefone de seis dígitos de uma instaladora de antenas, um preparado com óleo de rícino para calcanhar rachado.

A casa, um dia, ficou vazia. Móveis, utensílios e gatos esperando para ser recolhidos. Virou clínica de cirurgia plástica, depois não sei mais o quê. Hoje, é mais um imóvel comercial de fachada sem gosto nem alma na Vila Nova Conceição.

Recebi uma caixa com as anotações da bisavó Maria. Cadernos, folhas soltas, recortes. Estavam guardados no sítio, foram mantidos por minha tia Lúcia. São tantas receitas, e a bisavó Maria era uma cozinheira tão celebrada na família, que ainda não consegui me relacionar com todos eles. Vou aos poucos. Começando com essa prosaica (e muito fácil) torta de fubá.

Em tempo: vi que muita gente chama essa torta de bolo, fique à vontade para chamar como quiser. Se preferir, confira nossa receita de bolo de fubá fofo com raspas de limão e queijo ralado.

Teste número 88: torta de fubá

Fonte: caderno de receitas da bisavó Maria.
Grau de dificuldade: fácil.
Resultado: uma torta cremosa, gostosa com café (ou na festa junina).

Ingredientes

2 xícaras de leite
2 ovos
¾ de xícara de fubá
1 colher (sopa) de farinha de trigo
1 xícara de açúcar
1 pitada de sal
1 colher (sopa) de manteiga
1 colher (sobremesa) de fermento

Modo de preparo

Bata tudo no liquidificador. A massa vai ficar bem líquida.

Despeje em uma forma untada.

Pré-aqueça o forno. Asse em temperatura média (200ºC) até firmar e dourar. 

Para cozinhar mais: