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A panqueca salva o dia

Dizem as más línguas históricas que a rainha Maria Antonieta perdeu a cabeça porque mandou o povo francês sem pão comer brioche. Pois se eu fosse ela, e tampouco tivesse noção, teria dito: que comam panquecas. Muito mais fácil de preparar…

Brincadeiras infames à parte, vim aqui para falar em defesa da panqueca. Porque ontem de manhã, de fato, apelei para ela na falta de pão. Na verdade, eu até tinha um pão velho, tristonho, duro, que já não era dos melhores quando jovem. E não tinha lanche para mandar para a escola do filho. Mas tinha banana bem madura, tinha ovo, tinha leite. Juntei tudo, fiz panquecas para o café da manhã e o lanche. O pão velho que vire farinha de rosca.

Servi as panquecas com morangos, manteiga, mel. Achei bonito, fotografei, postei no Instagram. Uma amiga comentou: “É um bom dia chique!”. Mal sabia ela que a elegância era culpa do pão velho! Também não sabia que anos atrás eu fiz uma aula de crêpes et galettes (pode chamar de panquecas) na escola Le Cordon Bleu de Paris e, no final, ouvi do professor:

— Obrigado pela presença, da próxima vez voltem para aprender algo mais interessante.

A receita da massa que fiz hoje não veio do espirituoso professor francês, mas do caderno da minha mãe, com a adição de banana que aprendi com a chef Morena Leite. No lugar da banana, também dá para colocar maçã ralada.

Sem a fruta, a panqueca salva outras refeições.

Na dúvida de como aproveitar uma sobra de carne, faça panquecas. Se o recheio for bem úmido, com um bom refogado de cebola e tomate, nem é preciso fazer molho para cobri-las. Foi o que aconteceu semana passada com um resto de frango assado.

Só que, no fim, sobrou massa. E o que fazer? Panqueca, claro. Com limão espremido e um pouco de açúcar polvilhado, do jeito que eu comia na infância, a panqueca salvou também a sobremesa.

panqueca de frango com salada

Teste número 94 – Panqueca
Fonte –
 Caderno de receitas da minha mãe.
Grau de dificuldade – Muito fácil.
Resultado – Gostosura multiuso.

Ingredientes
1 ovo
1/2 xícara de leite
1 colher (sopa) de manteiga derretida
2 colheres (sopa) de farinha de trigo
1 pitada de sal
1 pitada de fermento.

Modo de preparo
Frite em frigideira levemente untada.

Faça rolinhos com o recheio de sua preferência: refogado de frango desfiado com cebola e tomate, creme de espinafre, geleia…

(Para fazer versão com banana, acrescente a fruta amassada à massa. Sirva quente com um pedaço de manteiga por cima e, se quiser, um pouco de mel.)

panqueca de frango

Para cozinhar mais:

A jabuticaba é nossa

Harri Lorenzi, um dos maiores especialistas em plantas do Brasil, cruzou o país em busca de 50 variedades da fruta. Confira a história e uma receita de geleia 

Geleia de jabuticaba - foto O Caderno de Receitas

Na geladeira do engenheiro agrônomo e botânico Harri Lorenzi há sempre uns dez tipos de geleia. Grumixama, jabuticaba, flor de begônia… Os sabores variam de acordo com o que está dando nas cerca de 4 mil espécies, pelo menos 500 delas frutíferas, plantadas nos nove hectares do seu Jardim Botânico Plantarum, instalado em Nova Odessa, nas proximidades de Campinas. Aparecem também em sobremesas e licores nos dois restaurantes da propriedade, mantida em grande parte com o dinheiro obtido por Lorenzi com seus 30 livros. Frutas no Brasil. Nativas e Exóticas, Plantas Alimentícias não Convencionais PANC no Brasil e Árvores Brasileiras são alguns dos títulos que, segundo ele, venderam aproximadamente um milhão e meio de exemplares em quarenta anos.

Impressiona saber que tanta gente se interessa pela flora brasileira. Talvez ainda mais quando, no livro Frutas no Brasil. Nativas e Exóticas, lemos que a fruticultura comercial brasileira investe pesado em pouco mais de 20 espécies e deixa para lá outras 3 mil. Entre as queridas da agricultura estão frutas exóticas tradicionais, como banana, laranja, limão, uva, maçã, manga e mamão, e nativas, como abacaxi, caju, maracujá e goiaba. Há ainda as chamadas “potenciais”, com possibilidade de crescimento mas por enquanto no meio do caminho entre o fundo do quintal e os holofotes do mercado, como as amoras, a carambola e a jabuticaba. Outro funil é o das variedades da mesma fruta. Algumas se massificam, outras minguam. Exemplos do fenômeno no livro: “O plantio quase que exclusivo de determinados cultivares, apesar de trazer para a mesa maravilhas como a manga Palmer, nos priva de sabores tão brasileiros como a carlotinha e a rosa. As jabuticabas – de sabores, texturas e tamanhos tão diversos como a coroada, a caipirinha, a de cabinho, a branca, pintada, a ponhema – hoje praticamente se resumem à precoce (ou híbrida) e à sabará”.  

E olha que existem cerca de 100 variedades de manga no Brasil – a mangueira, de origem asiática, é uma dessas forasteiras que chegaram com os portugueses, no século XVI, e logo se sentiram em casa.

A jabuticaba é a mais antiga e a mais brasileira de todas as frutas”

De jabuticaba, nativa, há umas 50 variedades, divididas em dez espécies. E Harri encontrou quase todas em anos de expedições em busca de jabuticabeiras em estado nativo: achou uma no sertão de Pernambuco; outra, de frutos enormes, em Goiás; foi avisado de uma no Ceará, mas chegou lá e era outra coisa; a maioria, coletou no Sudeste, muitas na Serra da Mantiqueira. E tornou-se um entusiasta da frutinha. “A jabuticaba é a mais antiga e a mais brasileira de todas as frutas”, diz o engenheiro agrônomo, referindo-se a ela estar em cultivo desde o início da colonização. “Meio que se perdeu a origem local dela.”

Lembrando que Harri Lorenzi é entusiasta de geleias e de jabuticabas, pedi esta receita a João Henrique Nunes, chef que atua no restaurante Naiah, do Jardim Botânico Plantarum (e acaba de lançar o livro Panc Gourmet: ensaios culinarios). No Naiah, a geleia de jabuticaba entra em bolos, pavês e mesmo molhos de carnes. Você pode fazê-la facilmente em casa (como eu fiz semana passada e explico a seguir). Mas o passeio até o Plantarum vale como programa de fim de semana, para aprender sobre botânica (foi lá, por exemplo, que vi pela primeira vez uma araruta, de que já falei no blog) e passar o dia ao ar livre, entre plantas e eventuais esculturas (abaixo, a do boitatá).

Boitatá no Jardim Botânico Plantarum, em Nova Odessa (SP)

RECEITA DE GELEIA DE JABUTICABA

Ingredientes
Jabuticaba
Açúcar cristal

Modo de preparo
Bata a jabuticaba inteira em liquidificador por 50 segundos ou até que esteja bem processada, mas não bata demais para a fruta não amargar.

Coe em uma peneira.

Junte o açúcar – a proporção é de 500 g de açúcar para cada 1 kg de polpa de fruta.

Leve ao fogo médio sempre mexendo, por volta de 10 minutos ou até perceber que a mistura esteja brilhante.

Para saber mais:

Harri Lorenzi no programa Um Pé de Quê?:

Pequeno guia do brunch em casa

Evento que mobiliza restaurantes, bares e cafés em São Paulo, Brunch Weekend inspira dicas para quem quer abrir o dia com uma refeição longa e gostosa preparada em casa

Brunch do Cateto (foto: divulgação)
Menu do Cateto no Brunch Weekend, incluindo torrada carbonara (foto: divulgação)

Mais do que uma mistura de café da manhã e almoço, brunch é um estilo de refeição. Combina com dias preguiçosos, em que cada bocado pode ser desfrutado com calma. Quase um piquenique sem grama nem formigas. Em São Paulo, 22 estabelecimentos servem menus especiais no Brunch Weekend, nos finais de semana de outubro. Como há quem prefira o conforto do lar, conversamos com os responsáveis pela cozinha de casas participantes do evento e selecionamos ideias para preparar em casa um brunch digno de fim de semana ao léu.

Não complique. Quem quer se esfalfar no fogão antes da primeira refeição do dia? Então conte com alguns itens prontos, mas especiais: pães, geleias, embutidos, queijos (vale conhecer o novo Caminho do Queijo Artesanal Paulista, que reúne pequenos produtores).

Prepare cereais no pote no dia anterior. A sugestão é de Giovanna Vilela, da casa vegetariana Organique-se. No dia anterior ao brunch, pegue um pote de vidro e sobreponha nele as seguintes camadas: aveia com leite de vaca ou de amêndoas; banana com canela; pasta de amendoim; mais aveia com leite; morangos. Mantenha na geladeira e faça bom proveito.

Não se esqueça do ovo. Pode ser um simples ovo mexido, preparado com manteiga e em fogo baixo para permanecer cremoso. Ou algo mais elaborado, como a torrada carbonara que Eduardo Jarussi serve no bar Cateto. Faça assim: pré-aqueça o forno a 180ºC; coloque nele, por 5 a 10 minutos, uma fatia grande de pão de grãos ou integral; tire o pão do forno e disponha nele algumas fatias finas de bacon; posicione uma gema sobre o bacon (com cuidado para não estourá-la); leve o pão com bacon e ovo ao forno por 10 minutos, no máximo; rale parmesão sobre a torrada.

Forme sua opinião sobre avocado toast. Na Austrália, nos Estados Unidos, na Inglaterra, virou obsessão comer ou falar mal de torrada com abacate. Giovanna Villela sugere uma versão em que, sobre a fruta amassada no pão, são colocados um ovo poché, tomate e molho pesto. Prove antes de opinar.

Brunch Weekend
Quando: até 29/10/2017, aos finais de semana
Onde: 22 estabelecimentos de São Paulo – confira a lista aqui.
Preço: menus a R$ 55, incluindo um drink com espumante Chandon.

Menu do Organique-se no Brunch Weekend
Menu do Organique-se, com ovos e cereais no pote (foto: divulgação)

Para cozinhar mais:

Broinhas de fubá sem depender da padaria

broinhas-de-fuba-o-caderno-de-receitas

Broinha de fubá era a comida especial da padaria. Da padaria boa, mais longe, a que meus pais iam só de vez em quando, de carro. Um lanche para comer frio ou quente, mas melhor quente. Puro ou com manteiga. O ideal: quente, com nacos de manteiga derretendo.

Desde então, nas padarias da vida, as broinhas rivalizam com o pão com manteiga na chapa na preferência dos meus cafés da manhã. Gosto das versões bem aeradas, de massa macia que envolve grandes espaços, e também das mais compactas, algumas se aproximando de um biscoito amanteigado.

Agora posso fazer minhas próprias broinhas de padaria. Descobri esta receita simples de pãozinho de milho em um caderno de receitas da minha avó Viquinha. É bem comida de vó, comida de verdade, com gordura de porco em vez de margarina (se bem que, em outras receitas dela, o ingrediente industrial dá as caras).

Usei banha do frigorífico Cancian e fubá, farinha de trigo e ovo orgânicos comprados na feira do Parque da Água Branca. Adicionei 5 em vez das 4  colheres de fubá pedidas na receita original porque a massa me pareceu líquida demais e porque as quantidades não são exatas: o ovo varia de tamanho, a medida em colher não tem a precisão de uma balança, a banha sem derreter não ocupa perfeitamente a xícara. Misturando tudo, cheguei a uma consistência mole, de angu grosso, mas possível de moldar com movimentos suaves – uma vez na forma, as bolinhas acabam virando discos.

Ficou um bolinho saboroso, macio mas consistente, bom para comer no café da manhã ou fazer um lanche. De vez em quando. Porque é bem gordo, então nem passei manteiga, comi puro mesmo. Deve ficar bom também com geleia.

Teste número 76: broinha de fubá
Fonte –  Caderno de receitas da minha avó Viquinha.
Grau de dificuldade – fácil.
Resultado – Bolinho de milho com gosto de comida de vó.

Ingredientes
5 colheres (sopa) de fubá
7 colheres (sopa) de farinha de trigo
1 ovo batido
½ xícara de banha (sem derreter nem amassar na xícara)
½ xícara de leite
1 pitada de sal (dissolvida no leite)
1 pitada de erva-doce
1 colher (sopa) de fermento químico

Modo de preparo
Em uma tigela, misture todos os ingredientes com uma colher. Se ficar muito líquido, adicione um pouco de fubá ou farinha. Se estiver muito seco, junto um pouco de leite. A ideia é chegar a uma consistência de angu grosso, ainda mole, mas possível de moldar.

Pegue colheradas de massa, enrole entre as mãos untadas e posicione as bolas sobre uma assadeira também untada. Uma vez na assadeira, as bolas vão virar discos, mas tudo bem.

Asse em forno a 190 ºC até as broinhas ficarem firmes e a base adquirir um tom dourado (no meu forno, levou cerca de 30 minutos).

Deixe esfriar sobre uma grade (ou coma os bolinhos ainda quentes).

Para cozinhar mais: