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Sopa de cenoura assada para uma boa noite caseira

Sopa de cenoura assada

Eu gosto de segunda-feira. Gosto de terça, de quarta, de quinta, de sexta. Do sábado e do domingo também. Pensei nisso enquanto tomava esta sopa de cenoura assada e refletia sobre o privilégio que é estar à noite em casa com meu filho.

A panela fumegante ajuda a compor a cena, mas na verdade ela não é o mais importante, apesar de estar no centro da mesa. O que interessa é parar, um voltado para o outro, compartilhar o momento, conversar — “Mas não só conversar, filho. É para comer também”.

Voltando à sopa. Esta, eu fiz de última hora, porque era o tempo que eu tinha, e com os ingredientes que eu tinha. Tostar a cenoura ajuda a acelerar o processo e ainda dá um sabor especial, que você pode chamar de sabor reconfortante de rotina ao lado de quem a gente gosta.

Receita

Ingredientes

  • 1/2 dúzia de cenouras
  • Azeite
  • 1 cebola
  • 2 dentes de alho
  • Orégano, salsinha e cebolinha frescos (ou as ervas que você tiver ou preferir)
  • 1/2 litro de caldo de carne (veja aqui como fazer; ou compre um congelado, como este)
  • Páprica doce
  • Cominho
  • Molho inglês
  • Sal
  • Limão-cravo ou taiti
  • Pão integral
  • Modo de preparo
  1. Corte as cenouras em rodelas e jogue numa assadeira com azeite e uns galhinhos de orégano fresco. Leve ao forno alto, com a grelha superior ligada (se houver), e mexa de vez em quando.
  2. Enquanto a cenoura assa, pique uma cebola e dois dentes de alho e refogue no azeite. Acrescente o caldo de carne, páprica doce, cominho, salsinha, molho inglês, sal.
  3. Quando a cenoura estiver bem dourada, junte-a à sopa. Desligue o fogo e bata tudo com o processador manual (ou transfira para um liquidificador). Se quiser mais densa, volte ao fogo para apurar. Se quiser mais líquida, acrescente água.
  4. Ajuste o sal e complete o tempero com limão espremido.
  5. Na mesma assadeira da cenoura, coloque uns cubinhos de pão integral com azeite e orégano e toste rapidamente no forno. Sirva sobre a sopa, junto com cebolinha picada e um fio de azeite.

 

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O suco da vida

Roberta (de maiô branco), a mãe, Ana Maria, e a irmã, Polyana
Roberta (de maiô branco), a mãe, Ana Maria, e a irmã, Polyana

Este relato faz parte de uma série de depoimentos sobre as delícias e as histórias da cozinha de mãe

Por Roberta Dalbuquerque*

Minhas lembranças de menina quase todas envolvem a minha mãe e a doçura com que sempre tratou os assuntos da cozinha. Me alegra pensar na forma carinhosa com que ela conduzia as refeições. Ana Maria nunca teve medo de trabalho. E, apesar de passar muitas horas em consultórios e hospitais, fazia absoluta questão de almoçar todos os dias em casa conosco. Enfeitar a mesa, tirar a louça de festa num dia qualquer, deixar as crianças usarem as taças de cristal para tomar vitamina C.

Inventava pequenos mimos para deixar nossa vida mais leve. Dava nomes para os pratos que servia. Quando acabava o requeijão, ela misturava manteiga e queijo ralado e anunciava contente que hoje comeríamos pão com a sua especialidade francesa: o queijo La Marie. Em dias de aniversário, quem completava anos tinha direito de escolher o cardápio do almoço de toda a casa (inclusive o dos adultos). Era incrível! Nas semanas de provas, fazia arranjinhos de flores para enfeitar o lugar das crianças amedrontadas pela matemática ou por qualquer qualquer outra matéria. Até hoje, deixa bilhetinhos sob os pratos e pergunta animada: “Alguém achou alguma coisa embaixo do prato?!”.

Das receitas com nome, lembro especialmente do suco da vida. Era o terror das crianças. De uns tempos pra cá, redescobri o suco e tenho feito com frequência. Muito antes de as blogueiras fitness nascerem, a danada já fazia suco funcional. E enquanto o bebíamos (com uma certa má vontade), ela descrevia tudo de maravilhoso que ele faria por nós. “Esse suco deixa o cabelo lindo e brilhoso, as unhas fortes, a pele boa, protege o corpo da gripe, ajuda a cabeça a aprender melhor.” Era quase milagroso.

Muito antes de as blogueiras fitness nascerem, a danada já fazia suco funcional. E enquanto o bebíamos (com uma certa má vontade), ela descrevia tudo de maravilhoso que ele faria por nós”

Nunca ofereci o suco da vida para as minhas filhas. Pensando bem, vou tentar. Quem sabe em uma taça de cristal?

Suco da vida

Ingredientes
2 laranjas
½ beterraba
½ cenoura
1 colher de mel
Um pouquinho de gengibre

Modo de preparo
Bata tudo no liquidificador e está pronto. Agora é só esperar cabelo, unhas, pele, corpo e cabeça obedecerem a Ana Maria.

*Roberta Dalbuquerque é autora do livro Quem Manda Aqui Sou Eu – Verdades inconfessáveis sobre a maternidade (editora HarperCollins), criadora do site A Verdade É Que… e diretora de arte da revista Claudia.

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Bolo de cenoura com calda de cacau sem leite

Bolo de cenoura com calda de cacau (sem leite)

Fiz este doce para o meu menino, que está passando por um mês de dieta sem laticínios para investigar uma possível alergia. Tínhamos combinado de fazer um piquenique, e ele, empolgado, queria saber: vai ter bolo? Recorri então a uma receita de massa que lembrava de ter visto no canal Tastemade e inventei na hora uma cobertura de cacau.

O bolo ficou uma delícia, o que me deu mais segurança sobre essa dieta restritiva. Espero que a medida seja temporária, mas até que o período tem sido tranquilo. Fora um almoço em um restaurante onde a garçonete, questionada sobre quais pratos não tinham leite ou derivados, sugeriu que meu filho almoçasse o acompanhamento de salada de folhas. Nesse dia, com um pouco de insistência, encontramos outras opções. Acabamos pedindo uma moqueca.

Quanto ao almoço no parque, precisou ser cancelado porque caiu o maior temporal. Pena, mas acabamos o domingo um piquenique no chão da sala, com direito a toalha xadrez. Um daqueles momentos gostosos que eu espero não esquecer.

Piquenique no apartamento
Ingredientes do bolo
3 cenouras
3 ovos
¾ de xícara de óleo
2 xícaras de farinha
1 ½ xícara de açúcar
1 colher (sopa) de fermento

Ingredientes da calda
½ xícara de cacau em pó 100%
Açúcar aromatizado com baunilha (a gosto)*
1 colher (sopa) de óleo vegetal
Água
*Açúcar guardado com uma fava de baunilha (cujos grãos tinham sido raspados em outra receita)

Modo de preparo do bolo
Com um mixer, bati bem as cenouras com os ovos e o óleo. Em outra tigela, da batedeira, misturei a farinha, o açúcar e o fermento. Juntei a mistura de farinha com a de cenoura, ovos e óleo e bati bem na batedeira.

Despejei a massa em uma assadeira de bolo previamente untada com óleo. Assei em forno pré-aquecido a 200 ºC até que enfiei um palito no meio e ele saiu seco, sem pedacinhos da massa grudados. Esperei o bolo esfriar um pouco e tirei da forma.

Modo de preparo da calda
Mexendo sempre, aqueci o cacau com um pouco de água, açúcar e óleo em uma panela. Provei e estava amargo demais, então adocei mais (só um pouco, porque queria uma calda amarga para equilibrar a doçura do bolo). Joguei a calda ainda quente sobre o bolo desenformado.

Bacalhau para a semana toda

Bacalhau espiritual: esse prato português é divino e rende um bocado
Bacalhau espiritual: esse prato português é divino e rende um bocado

Casa com pouca gente tem dessas coisas. Você pega uma receita, divide pela metade e mesmo assim faz mais do que precisava. Quando a comida é do tipo que perde muito quando requentada, dá uma pena danada. Outras, dá uma felicidade, porque isso significa repetir aquela refeição gostosa uma vez, duas vezes, três vezes…

Foi, ou melhor, tem sido assim com o bacalhau espiritual que preparei na sexta à noite. Já alegrou três refeições, acompanhado de batatas assadas, espinafre refogado e tomate. Agora vai para o congelador até ser requisitado novamente – certamente será.

Tirei a receita do caderno da minha mãe, e, segundo ela, minha avó também costumava fazê-la. No livro “As Minhas Receitas de Bacalhau”, o chef português Vítor Sobral conta que o bacalhau espiritual, inspirado no prato francês brandade de morue, surgiu em 1947, no Cozinha Velha, restaurante de luxo instalado no Palácio Nacional de Queluz

A preparação não tem muito erro, só dá um certo trabalho cortar fininho as cenouras e desfiar o bacalhau. Para facilitar, você pode ralar a cenoura ou usar um processador. Outra opção é encarar a tarefa como terapia relaxante. Não tem um monte de gente pagando para esquecer da vida enquanto pinta livros de colorir?

Teste número 35
Receita:
bacalhau espiritual.
Fonte: caderno de receitas da minha mãe.
Grau de dificuldade: médio (mas você pode usar atalhos, como um processador, para ficar fácil).
Resultado:
 gostoso, gordo e reconfortante.

Bacalhau espiritual

Ingredientes*
750 gramas de cebola
750 gramas de cenoura
350 gramas de miolo de pão de forma
250 ml de leite
1 quilo de bacalhau (comprei o já dessalgado, congelado)
200 ml de azeite
Sal
Pimenta-do-reino
Noz-moscada
250 ml de creme de leite
100 gramas de queijo parmesão ralado (ou outro queijo duro. Eu tinha um português)
*Usei metade de tudo

Modo de preparo
Fatiei a cebola em rodelas finas e cortei as cenouras em tiras. Embebi o miolo de pão no leite. Cozinhei o bacalhau, já descongelado, por 10 minutos em água fervente. Depois, esperei esfriar um pouco e o desfiei, aproveitando para tirar os espinhos.

Dourei a cebola no azeite até deixá-la transparente. Acrescentei a cenoura e refoguei um pouco mais, depois juntei o miolo de pão (com o leite). Mexi bem. Adicionei o bacalhau e os temperos (sal, pimenta e noz-moscada) e mexi mais.

Coloquei essa massa em um pirex, junto com creme de leite, e misturei. Deixei no forno médio até o creme ferver, alguns minutos depois. Então retirei, joguei por cima o queijo ralado e coloquei de volta no forno por mais dez minutos para gratinar (usei a santa função grill, que facilita o trabalho de dourar, mas minha mãe cozinhava sem esse recurso e também ficava bom).

Meu primeiro lagarto

Um anotação no pé da página avisava: “copiado por engano neste livro”. Que sorte, pensei. Minha avó, sem querer, tinha deixado para mim, em um caderno de receitas doces, o passo a passo do lagarto recheado que ela costumava cozinhar (o caderno de salgados, não sei onde foi parar). Decidi servir a carne no jantar de ontem à noite, e então me vi diante de uma série de tarefas inéditas na minha vida.

Pela primeira vez, limpei uma peça de carne, tirando capa de gordura e membranas brancas. Não ficou a coisa mais bem acabada do mundo, mas até que foi fácil – e, com parte das aparas, fiz a alegria da minha gata, a Lola, hipnotizada por meus movimentos com a faca.

O resultado da minha luta com o lagarto: comida caseira, simples, gostosa
O resultado da minha luta com o lagarto: comida caseira, simples, gostosa

Em seguida, lutei com força e certo constrangimento para enfiar a cenoura na carne. Por sorte, ninguém além da gata estava em casa para presenciar a cena. A cenoura era muito grossa, nenhuma faca dava conta de abrir um buraco adequado. No fim, cortei o legume no sentido do comprimento, para ficar mais fino, e tentei encaixar cada pedaço a partir de uma extremidade da carne. De um lado, deu certo. Do outro, a cenoura se partiu, mas resolvi deixar assim mesmo.

Veio então a dúvida sobre a quantidade de sal. A receita recomendava não salgar a carne e cozinhá-la em caldo de carne industrializado em cubos, mas eu tinha caldo de carne caseiro, bem menos salgado, feito outro dia pelo meu marido. Com medo de a carne ficar insossa, atirei um tantão de sal, depois me arrependi, porque o molho iria reduzir bastante. Acrescentei então algumas batatas, para que absorvessem parte do sal.

No fim, o tempero ficou bom. E, no fim, esta não era a receita que minha avó costumava fazer – descobri ao telefonar para minha mãe para tirar uma dúvida. Na receita mais usual da família, o lagarto é dourado já no início da preparação, formando uma casquinha na panela que, com água quente adicionada pouco a pouco durante o cozimento, cria um molho escuro. Na receita que peguei no caderno da minha avó, a carne é cozida desde o começo em bastante líquido – o visual branquelo só foi embora no final, com o acréscimo de um pouco de vinho do Porto (toque do meu marido) e após uma leve queimada (ou caramelizada, se você preferir).

O lagarto que preparei para o jantar pode não ser o que eu costumava comer na infância, mas ficou bem gostoso – já satisfeita, não resisti a repetir um pouco de arroz encharcado no molho, de tão bom que estava . Fora os perrengues que descrevi acima, é também bastante simples de fazer, embora de cozimento demorado (cerca de duas horas).

Vamos ao passo a passo.

Lagarto recheado de cenoura

Ingredientes
1 lagarto pequeno (usei uma peça de 1,3 quilo)
1 cenoura grande ou 2 cenouras médias
1 litro de caldo de carne
1 dente de alho espremido
1 colher de café de orégano
2 folhas de louro esmigalhadas
Pimenta-do-reino
Sal
1 colher de sopa de vinagre
1 dose de vinho do Porto
1 colher de sopa de manteiga
1 colher de sopa de farinha

Modo de preparo
Limpe a peça de carne – ou peça para o açougueiro fazer isso.

Fure a carne no sentido do comprimento e insira uma cenoura no buraco – ou abra um buraco de cada lado e insira duas cenouras. (Existem acessórios próprios para isso, e provavelmente seu açougueiro dá conta também desse serviço, mas eu fiz do jeito difícil, com uma faca.)

Tempere a carne com o alho, o orégano, o louro e a pimenta – não é preciso acrescentar sal se o caldo já for salgado.

Coloque o lagarto em uma panela om o caldo fervendo. Acrescente então o vinagre e o vinho do Porto. Quando o líquido voltar a ferver, diminua o fogo para o mínimo possível e deixe a carne cozinhar, virando-a de vez em quando, até o caldo quase secar. Então fatie a carne e coloque-a de volta na panela.

Com cuidado, deixe que o molho grude um pouquinho no fundo, depois acrescente algumas colheradas de água e solte essa crosta com uma colher de pau – isso dá cor e sabor ao prato.

Para finalizar, derreta a manteiga em uma frigideira e cozinhe nela rapidamente a farinha, mexendo bem para formar uma mistura homogênea. Jogue essa mistura no molho da carne para engrossá-lo.