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Uma ambrosia acidental

Quem não tem ovos nevados come ambrosia

Vou falar a verdade. Eu queria mesmo era fazer os ovos nevados que a minha avó Viquinha costumava servir. Mas o creme talhou. Uma pena. Eu já estava pronta para jogar jogar fora aquela mistura de gemas, leite, açúcar, baunilha e raspas de limão quando… Espera, parece ambrosia!

Encontrei a receita que eu procurava no livro 500 Anos de Sabor, lançado 16 anos atrás, no 500º aniversário do descobrimento do Brasil. Nele, a autora, Eda Romio, conta que as combinações de leite, açúcar e ovos já faziam a fama de Portugal antes de Cabral desembarcar por aqui. Os doces de gemas, especialmente, abundavam, pois muita clara era empregada nos conventos para produzir hóstias e engomar as roupas usadas pelos religiosos.

Peguei no livro o passo-a-passo da ambrosia, que reproduzo abaixo, e adaptei. Na minha versão, a calda de açúcar só entrou em um passo posterior (eu a adicionei à mistura de leite e ovos já talhada e cozinhei um pouco mais). Também usei um pouco menos de açúcar (mesmo assim ficou dulcíssimo) e acrescentei raspas de limão.

Quanto às claras que sobraram, talvez eu faça com elas uma mousse de fruta ou suspiros. E o ovos nevados ficam para outro dia.

Ingredientes
2 xícaras de chá de açúcar (usei “só” 1 e ½)
Água
6 gemas
½ litro de leite
Essência de baunilha (usei uma fava vazia de baunilha que eu mantive guardada em um pote de açúcar)
Canela
Raspas da casca de um limão (acréscimo meu; a receita do livro não pedia)

Modo de preparo
Fazer uma calda bem rala com o açúcar e a água. À parte, bater as gemas, misturar com o leite, bater mais um pouco e acrescentar à calda, levando ao fogo brando. Os ovos vão coalhar. Mexer de vez em quando, e de leve, com um garfo. Juntar a baunilha (e as raspas de limão) e deixar cozinhar por mais 10 minutos (eu deixei bem mais, uns 30 no totalminutos), em fogo bem baixo. Deixar esfriar, colocar em compoteira e polvilhar com canela (eu não esperei esfriar para, com cuidado, misturar a canela e guardar na geladeira).

Bacalhau para a semana toda

Bacalhau espiritual: esse prato português é divino e rende um bocado
Bacalhau espiritual: esse prato português é divino e rende um bocado

Casa com pouca gente tem dessas coisas. Você pega uma receita, divide pela metade e mesmo assim faz mais do que precisava. Quando a comida é do tipo que perde muito quando requentada, dá uma pena danada. Outras, dá uma felicidade, porque isso significa repetir aquela refeição gostosa uma vez, duas vezes, três vezes…

Foi, ou melhor, tem sido assim com o bacalhau espiritual que preparei na sexta à noite. Já alegrou três refeições, acompanhado de batatas assadas, espinafre refogado e tomate. Agora vai para o congelador até ser requisitado novamente – certamente será.

Tirei a receita do caderno da minha mãe, e, segundo ela, minha avó também costumava fazê-la. No livro “As Minhas Receitas de Bacalhau”, o chef português Vítor Sobral conta que o bacalhau espiritual, inspirado no prato francês brandade de morue, surgiu em 1947, no Cozinha Velha, restaurante de luxo instalado no Palácio Nacional de Queluz

A preparação não tem muito erro, só dá um certo trabalho cortar fininho as cenouras e desfiar o bacalhau. Para facilitar, você pode ralar a cenoura ou usar um processador. Outra opção é encarar a tarefa como terapia relaxante. Não tem um monte de gente pagando para esquecer da vida enquanto pinta livros de colorir?

Teste número 35
Receita:
bacalhau espiritual.
Fonte: caderno de receitas da minha mãe.
Grau de dificuldade: médio (mas você pode usar atalhos, como um processador, para ficar fácil).
Resultado:
 gostoso, gordo e reconfortante.

Bacalhau espiritual

Ingredientes*
750 gramas de cebola
750 gramas de cenoura
350 gramas de miolo de pão de forma
250 ml de leite
1 quilo de bacalhau (comprei o já dessalgado, congelado)
200 ml de azeite
Sal
Pimenta-do-reino
Noz-moscada
250 ml de creme de leite
100 gramas de queijo parmesão ralado (ou outro queijo duro. Eu tinha um português)
*Usei metade de tudo

Modo de preparo
Fatiei a cebola em rodelas finas e cortei as cenouras em tiras. Embebi o miolo de pão no leite. Cozinhei o bacalhau, já descongelado, por 10 minutos em água fervente. Depois, esperei esfriar um pouco e o desfiei, aproveitando para tirar os espinhos.

Dourei a cebola no azeite até deixá-la transparente. Acrescentei a cenoura e refoguei um pouco mais, depois juntei o miolo de pão (com o leite). Mexi bem. Adicionei o bacalhau e os temperos (sal, pimenta e noz-moscada) e mexi mais.

Coloquei essa massa em um pirex, junto com creme de leite, e misturei. Deixei no forno médio até o creme ferver, alguns minutos depois. Então retirei, joguei por cima o queijo ralado e coloquei de volta no forno por mais dez minutos para gratinar (usei a santa função grill, que facilita o trabalho de dourar, mas minha mãe cozinhava sem esse recurso e também ficava bom).

Bolinho de bacalhau — um favorito do meu brasileirinho

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Os bolinhos de bacalhau do Rancho Português: boa pedida antes de partir para um leitão à Bairrada

Por uma fofa coincidência, meu filho de dois anos atropela algumas vogais e pronuncia bolinho de bacalhau como um pequeno português. Ele adora o petisco, que disputa — pau a pau com o pão de queijo — o posto de sua comida favorita. A receita abaixo foi provada e aprovada pelo meu especialista mirim em uma visita ao Rancho Português, em São Paulo.

Ingredientes
1 kg de bacalhau
1,5 kg de batata
2 gemas
4 colheres de sopa de azeite
4 colheres de sopa de salsa picada
Alho, louro e sal a gosto
Azeite para fritar

Modo de preparo
Remova todas as espinhas do bacalhau. Para tirar o excesso de sal, coloque-o de molho por três a quatro dias na geladeira, trocando a água duas vezes por dia.

Cozinhe o bacalhau em água, alho e folha de louro por 20 minutos em fogo médio. Depois de cozido, o desfie. Cozinhe também a batata por 20 minutos, em água com uma folha de louro.

Junte o bacalhau, a batata, as gemas, o azeite e a salsa em um recipiente e amasse bem. Ajuste o sal.

Frite os bolinhos em azeite bem quente por dois minutos ou até ficarem dourados.

Rendimento: 45 unidades

Para mim, com pimenta. Sempre
Para mim, com pimenta. Sempre