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Vai ter farofa com uva passa, sim

Virou moda reclamar dos pratos natalinos com sua profusão de uvas passas e nozes. Se bobear pega até mal não reclamar. Tradições importadas, coisa lá do inverno do Norte, a gente aqui no verão do Sul com as árvores carregadas, usar fruta seca pra quê?

Pega mal Natal também. Esse de Papai Noel encapotado, sofrendo entre um ar condicionado de shopping e outro, sentado no trono entre renas de pelúcia. No seu colo, criancinhas listam presentes que os pais se revezam para “resolver” ali mesmo: “Querida, fica com ele na fila do trenó enquanto eu corro na loja de brinquedos”.

Qual é o sentido disso tudo? Cadê o espírito de Natal?

Eu acho que está na farofa doce da minha mãe. Porque é o prato que ela prepara quando a família está reunida, e para mim é isso que mais importa nessa época do ano.

Não sei como o prato entrou para a família, mas agora já faz parte dela. Cheio de passas, ameixas secas, nozes, castanhas. Como leva castanha-do-Pará, ops, do-Brasil, serei perdoada pelos sommeliers de Natal?

Em tempo: tenho gastura de pensar em vestir roupa de veludo, bota e gorro no dezembro brasileiro. E não pude deixar de notar algo fora da ordem quando vi meu filho à beira da piscina, calor de 30 e muitos graus, comendo biscoito em forma de boneco de neve.

Quanto às passas, se você gosta delas, ótimo. Se não gosta, ótimo também, faça outro prato.

É Natal, vamos deixar as rusgas de lado e discutir apenas o inevitável. Nutella, por exemplo.

RECEITA

Ingredientes

50 gramas de bacon picado

200 gramas de manteiga

1 cebola média picada

100 gramas de ameixas secas picadas

100 gramas de uvas passas

100 gramas de castanhas-do-pará picadas

100 gramas de nozes picadas

1 ou 2 conchas de molho de assado (opcional)

500 gramas de farinha de rosca

200 gramas de presunto em cubos

Sal

Pimenta-do-reino

Em uma frigideira grande, doure o bacon. Retire os pedaços com uma escumadeira e reserve, mantendo a gordura derretida na frigideira.

Acrescente a manteiga e refogue a cebola até deixá-la transparente.

Junte as ameixas e as passas e refogue um pouco.

Junte as castanhas e as nozes e refogue um pouco mais.

Se estiver fazendo uma carne assada, aproveite e jogue uma ou duas conchas de molho na frigideira.

Vá despejando a farinha aos poucos e mexendo.

No final junte o bacon que estava reservado e o presunto.

Acerte sal e pimenta.

Macarrão eu como com farofa

farofa de farinha de rosca, macarrão ao sugo, frango assado, rúcula

Os chefs da Settimana della Cucina Regionale Italiana vão ter que me perdoar, mas foi assim que eu aprendi a comer macarrão ao sugo: com farofa. Talvez não perdoem, afinal vieram da Itália até São Paulo justamente para divulgar sua culinária autêntica, que não é uma, são várias, dependendo da região do país (confira informações sobre o  evento aqui). Mas acontece que, quando a cozinha migra, perde um ingrediente aqui, ganha outro lá, vira mexidão de referências.

Nas casas da minha avó e da mãe dela, no Paraná, almoço de domingo era assim: frango ou porco assado, banana frita, farofa de pão ou de milho, macarrão com molho de tomate, maionese de batata. A gente não tinha italiano na família, não; os imigrantes mais próximos vinham da Espanha. Mas essas coisas boas se espalham. Como não gostar de macarrão com molho de tomate?

O cardápio ítalo-ibero-brasileiro (ou como você queira chamar) viajou quilômetros e décadas na bagagem da minha mãe até chegar à minha infância em São Paulo. Ali, no sobradinho de uma vila no Brooklin, aprendi a delícia crocante que é espaguete enrolado no garfo e passado na farofa. E esses gostos adquiridos na infância, você sabe, a gente leva pra vida — embora, em ocasiões que exigem fineza, às vezes os esconda.

Anos mais tarde, descobri a mollica, uma espécie de farofa de migalhas de pão que, no sul da Itália, se serve com macarrão. Comi tempos atrás no restaurante da Basilicata, padaria tradicional no Bixiga onde pão não deve faltar. Agora vi que está também no menu que o chef Angelo Fiorisi, da região italiana da Basilicata (vem daí o nome da padaria paulistana), prepara no restaurante Pasquale durante a Settimana della Cucina Regionale Italiana. O prato: cavatelli (massa que parece uma concha), pimentões secos, rúcula, queijo cacioricotta e mollica crocante.

Então, se alguém perguntar que ideia é essa de servir macarrão com farinha de rosca, posso dizer que é mollica, um preparo que tem origem no sul da Itália. Mas para você eu conto: é farofa mesmo.

Ingredientes

Pão amanhecido
Azeite ou manteiga
Opcionais: alho, ervas, aliche, bacon… (veja dica abaixo)

Modo de preparo

Leve o pão ao forno para secar bem — dependendo da idade do pão, você pode até pular essa etapa.

Bata no liquidificador ou no processador para triturar, fazendo uma farinha grossa, com pedaços irregulares.

Em uma frigideira, aqueça o azeite ou a manteiga e doure a farinha.

Sirva em um pote à parte, ou jogue sobre a massa na hora de servir (não jogue antes para a farinha se manter crocante).

Dica

Há muitas variações possíveis: doure bacon e use a gordura dele para tostar a farinha; comece dourando alho e acrescente ervas e pimenta no final; adicione aliche, como se faz no sul da Itália; adicione os miúdos do frango assado, como se fazia na casa da minha avó.

Para cozinhar mais:

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Settimana della Cucina Regional Italiana

Até 28 de outubro, 20 chefs de diferentes regiões da Itália preparam menus especiais em 20 restaurantes de São Paulo. A programação completa está aqui.

Bacalhau caiçara

Bacalhau caiçara

Este é um prato livremente inspirado em uma receita de peixe seco de dona Madalena, mãe do chef Eudes Assis. Muito livremente. Porque ela seca o próprio peixe em um varal exposto ao sol e ao vento, enquanto eu comprei peixe dessalgado e congelado à venda no supermercado. Ela prepara o animal inteiro, de espécies várias – o que vier na rede dos pescadores de São Sebastião, litoral norte de SP. Eu fiz com postas de bacalhau de marca portuguesa, capturado em algum ponto do Atlântico Nordeste. Mas tentei me guiar por sabores citados por ela ou provados no Taioba Gastronomia, restaurante de Eudes na praia de Camburi.

Caçula de 14 irmãos, Eudes é desses chefs que saíram pelo mundo para depois encontrar o próprio caminho na comida da mãe. Trabalhou em vários países e estudou na escola francesa Le Cordon Bleu; hoje usa as técnicas aprendidas para servir cozinha caiçara, de ingredientes frescos e locais.

Seu PF de praia leva peixe do dia empanado em farinha de milho, pirão, banana assada e arroz com taioba. Este último ingrediente, que brota em qualquer mato dos arredores do restaurante, entra também em um bolinho frito de interior ultracremoso. E está presente no meu bacalhau caiçara – embora dona Madalena, neste prato, prefira couve-troncha. O coentrão ou coentro caiçara – aparentemente a espécie identificada como coentro-bravo no guia Plantas Alimentícias não Convencionais PANC no Brasil –, troquei por coentro qualquer comprado no mercado. Juntei também açafrão-da-terra, porque lembrava de Eudes dizer que estava entre os temperos típicos. O gratinado de pão de milho foi chinfra, porque tinha um pedaço desse tipo de pão. Vale usar qualquer farinha de rosca.

Ingredientes
Batata-doce
Abóbora
Cebola
Alho
1 pedacinho de raiz de açafrão-da-terra
Sal
Azeite
Bacalhau dessalgado em postas
Taioba
Tomate
Coentro
Farinha de pão de milho

Modo de preparo

Corte a batata-doce em rodelas e forre com elas o fundo de uma assadeira. Por cima, distribua pedaços de abóbora e cebola, além de alho e açafrão da terra picadinhos. Salgue levemente, despeje azeite e leve ao forno médio até os vegetais ficarem tenros, mas ainda firmes.

Cozinhe o bacalhau em água fervente por cerca de dez minutos. Escorra, espere esfriar um pouco e então desfaça o peixe em lascas, retirando os espinhos.

Afervente a taioba: coloque as folhas em uma panela com água fervente, espere alguns instantes até a água voltar a borbulhar então imediatamente as transfira para um recipiente com água e gelo.

Retire a assadeira com os vegetais do forno. Espalhe sobre eles o bacalhau, os tomates em pedaços, a taioba cortada e o coentro. Salgue com comedimento e regue com azeite à vontade. Salpique por cima a farinha de pão de milho (pão de milho moído no processador) e despeje um pouco mais de azeite.

Asse por alguns minutos para gratinar e mesclar sabores. Se seu forno tiver a função “grill”, use no final para ajudar a dourar a farinha.

Para cozinhar mais:

Confira também: todas as receitas com bacalhau

Pimentões recheados da Vó Helena

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Pimentões recheados de carne moída: o refogado deve ser bem úmido

Esta receita não saiu de nenhum caderno, mas da memória que eu tenho da minha avó Helena cozinhando. É comida simples, saudável, feita com cuidado por alguém que a vida toda trabalhou muito (em horas e intensidade) como professora de balé. Para mim, um prato com gosto de saudade.

Teste número 42: pimentões recheados
Fonte – Lembranças da comida da minha avó Helena.
Grau de dificuldade – Fácil.
Resultado – Ótima refeição caseira.

Ingredientes
1 cebola grande
1 dente de alho grande
Azeite
500 gramas de carne moída (usei capa de filé)
6 azeitonas pretas
1 lata de tomates pelados
Cominho, pimenta-do-reino e sal a gosto
Farinha de rosca (o suficiente para dar liga, cerca de 3 colheres de sopa. Outra opção é usar miolo de pão picadinho — acho que era o que minha avó fazia)
Coentro (acho que minha avó usaria salsinha, mas eu tinha coentro fresco em casa e resolvi colocar no prato)
3 pimentões verdes grandes (ou pequenos, em maior quantidade, se quiser porções individuais)

Modo de preparo
Em uma panela ou frigideira grande, refogue a cebola e o alho picados em um fio de azeite. Mexendo sempre, acrescente a carne moída e as azeitonas picadas. Quando estiver bem refogado, junte os tomates, previamente picados, e o cominho, a pimenta e o sal. Deixe secar um pouco, depois acrescente um pouco de farinha de rosca e o coentro picado. O recheio deve ficar bem úmido.

Corte fora a tampa de cada pimentão (a parte com o cabo e as sementes) e reserve. Pelo buraco, cuidadosamente retire com uma faca as partes brancas do interior.

Com uma colher, recheie os pimentões de carne moída. Recoloque a tampa e prenda com palitos.

Posicione os pimentões em uma travessa, regue com um fio de azeite e cubra com papel-alumínio. Leve ao forno quente. No final do cozimento, retire o papel-alumínio para dourarem um pouco.

Na hora de servir, retire os palitos. Esta receita vai muito bem com arroz, feijão e salada verde.