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Biscoito de gengibre – a receita que meu filho mais gosta de fazer

Desenho de biscoito de gengibre

Quando a professora perguntou o que ele gostaria de saber fazer, meu filho respondeu: pilotar avião. Quando perguntou o que ele já sabia fazer, veio o desenho acima: biscoito de gengibre. Com formato de dinossauro.

Já publiquei a receita aqui, mas resolvi repetir. Porque fiquei tocada por meu filho ter escolhido, entre tantas habilidades que já tem, uma atividade tão nossa. Nos desenhos expostos na parede da escola, o resultado do ato de quebrar um ovo, misturar ingredientes, vê-los se transformar em algo diferente e delicioso. E nossas bagunças na cozinha equiparadas a seu futuro como piloto de avião –  uma carreira que, já fui informada por ele, é apenas uma preparação para a missão posterior, no comando de um foguete. “Lá no espaço vou sentir saudade de você, mamãe”.

Às vezes dá preguiça de pensar na farinha, na massa, no chocolate ou no ovo que, já sei, vai transbordar da bancada de trabalho, mas o prazer de cozinhar com ele sempre compensa (exceto, talvez, no dia em que uma torta inteira se espatifou no chão).  E esta é uma receita perfeita para fazer com crianças: simples, gostosa, com a atração extra de poder ser moldada em formatos diversos, dependendo do cortador de biscoito. Embora homenzinho, lua e estrela façam sucesso por aqui, nosso favorito é o de dinossauro. Depois me conte qual é o seu.

Biscoitos de gengibre

Ingredientes
110 gramas (1/2 xícara) de manteiga sem sal, mais um pouco para untar
350 gramas de farinha de trigo, mais um pouco para polvilhar
1 colher de chá de bicarbonato de sódio
1 colher de chá de gengibre em pó
150 gramas (1 xícara) de açúcar mascavo
2 colheres de sopa de mel
1 ovo batido
Decoração (opcional)
1 clara de ovo
250 gramas de açúcar de confeiteiro
Gotas de limão
Corantes comestíveis naturais de clorofila e urucum

Modo de preparo
Misture a manteiga, a farinha, o bicarbonato e o gengibre até fazer uma farofa.

Adicione o açúcar, o mel e o ovo e misture mais. Se a massa ficar grudenta demais para moldar, acrescente mais farinha.

Em uma superfície enfarinhada, estenda a massa com um rolo até deixá-la com uns dois milímetros de espessura. Use cortadores para dar formato aos biscoitos.

Coloque os biscoitos em assadeiras untadas, deixando espaço entre eles. Leve ao forno a 180ºC por cerca de 10 minutos, até ficarem dourados.

Para decorar, faça um glacê: bata a clara com um pouco do açúcar, em seguida junte o resto do açúcar e o limão e bata  mais até ficar firme. Separe em duas porções e pingue os corantes comestíveis. Aplique com bisnaga ou saco de confeitar.

 

Para cozinhar mais:

7 docinhos de festa para fugir do óbvio

As festas do meu filho são uma boa oportunidade para testar os docinhos anotados nos cadernos da minha família. Assim divido com os convidados um pouco do açúcar dos experimentos deste blog.

A seguir, selecionei algumas receitas para ir além dos beijinhos e brigadeiros de sempre. Nada contra eles, até porque brigadeiro é o doce de que meu menino mais gosta (ou talvez a coisa de que ele mais goste no mundo), mas acho que vale a pena provar novidades – mesmo que sejam da juventude da minha avó.

(Ah, mais uma vez, obrigada a Enfeites e Festas Infantis, que fez a decoração da mesa e cedeu parte das fotos.)

1. Abacaxizinho
Já tinha publicado esta receita. Repeti agora e ficou melhor, menos doce (mas ainda bem doce).
Abacaxizinhos
Ingredientes
1 abacaxi
1 coco seco
300 gramas de açúcar
Flocos de coco queimado (opcional)
Modo de preparo
Triture o abacaxi no processador ou no liquidificador. Triture também o coco (desta vez comprei a fruta em pedaços, refrigerada; se comprar o coco seco inteiro, veja as instruções aqui). Reserve um pouco do coco processado para enrolar (ou use flocos queimados para isso). Leve o restante ao fogo médio-baixo junto com o abacaxi e o açúcar. Mexendo sempre, deixe engrossar e secar bem até chegar ao ponto de enrolar. Quando tiver esfriado um pouco, molde bolinhas, empane no coco processado (ou nos flocos queimados) e acomode em forminhas.

2. Goiabada com amendoim
Combinação deliciosa em um docinho facílimo de fazer.
Docinho de festa com goiabada e amendoim
Ingredientes
220 gramas de goiabada cascão em barra
70 gramas de amendoim torrado e moído – mais um pouco para enrolar o docinho
(Siga mais ou menos essa proporção; usei as quantidades acima porque comprei um pacote de goiabada com 220 gramas)
Modo de preparo
Amasse a goiabada com um garfo e misture com o amendoim. Molde bolinhas, empane no amendoim restante e acomode em forminhas de papel.

3. Brigadeiro recheado
Fiz o brigadeiro e meu marido, do blog Cozinha Bruta, recheou seguindo as instruções que aprendemos em um workshop do chef Diego Lozano.
Brigadeiros recheados

Ingredientes
1 lata de leite condensado
2 colheres de sopa de cacau em pó
1 colher de sopa de manteiga sem sal
Trufas ocas da Callebaut (casquinhas de chocolate à venda em lojas de confeitaria, como a Bondinho)
Speculoos para rechear (outra opção é usar geleia de fruta)
Granulado
Modo de preparo
Cozinhe em fogo baixo o leite condensado, o cacau e a manteiga, mexendo sempre, até a mistura desgrudar do fundo da panela. Espere esfriar.
Com uma colher pequena, encha as trufas ocas com o speculoos ou a geleia.
Molde bolas de brigadeiro, amasse para formar minipanquecas e envolva as trufas recheadas. Cuidado para não exagerar: o recomendado é usar 12 gramas de brigadeiro por trufa. Passe os doces no granulado e coloque em forminhas.

4. Banana-passa com doce de leite
Docinho lambuzado mais simples de preparar que brigadeiro.
Banana-passa recheada de doce de leite
Ingredientes
1 lata de leite condensado
3 pacotes de banana-passa
Açúcar cristal
Modo de preparo
Para fazer o doce de leite, coloque a lata de leite condensado coberta de água em uma panela de pressão e leve ao fogo. Quando formar pressão, baixe o fogo para o mínimo e deixe cozinhar por 50 minutos. Então desligue o fogo e espere perder totalmente a pressão antes de abrir a panela.
Corte as bananas em pedaços de cerca de 3 centímetros, depois corte cada um dos pedaços no sentido do comprimento, sem ir até o fim, criando uma fenda (como se estivesse abrindo um pão para fazer sanduíche). Com uma colher de chá, recheie as fendas com doce de leite. Por fim, espalhe açúcar cristal em um pires e passe nele a parte com doce de leite (isso evita que fiquem muito grudentos). Sirva sobre forminhas de papel.

5. Biscoito de gengibre
Já tinha publicado a receita no blog, mas na festa do meu filho fiz os biscoitos em formato de dinossauros e pegadas. As crianças adoraram.
Biscoitos de gengibre
Ingredientes
110 gramas (1/2 xícara) de manteiga sem sal, mais um pouco para untar
350 gramas de farinha de trigo (isso para começar; ao amassar, eu adicionei algumas colheradas a mais para dar liga), mais um pouco para polvilhar
1 colher de chá de bicarbonato de sódio
1 colher de chá de gengibre em pó
150 gramas (1 xícara) de açúcar mascavo
2 colheres de sopa de mel
1 ovo batido
Para decorar
1 clara de ovo
250 gramas de açúcar de confeiteiro
Gotas de limão
Corantes comestíveis naturais de clorofila e urucum
Modo de preparo
Misture a manteiga, a farinha, o bicarbonato e o gengibre até fazer uma farofa.
Adicione o açúcar, o mel e o ovo e misture mais. Se a massa ficar grudenta demais para moldar, acrescente mais farinha.
Em uma superfície enfarinhada, estenda a massa com um rolo até deixá-la com uns dois milímetros de espessura. Use cortadores para dar formato aos biscoitos (comprei alguns aqui; outra opção que testei e funcionou foi cortar biscoitos redondos com a boca de um copo e pressionar sobre eles os pés de um dinossauro de brinquedo).
Coloque os biscoitos em assadeiras untadas, deixando espaço entre eles. Leve ao forno a 180ºC por cerca de 10 minutos, até ficarem dourados.
Para decorar, faça um glacê: bata a clara com um pouco do açúcar, em seguida junte o resto do açúcar e o limão e bata  mais até ficar firme. Separe em duas porções e pingue os corantes comestíveis. Aplique com bisnaga ou saco de confeitar.

6. Romanos
Sanduíches de castanha-do-pará com jeito de doce de antigamente
Romanos
Ingredientes
6 ovos (com gemas e claras separadas)
10 colheres (sopa) de açúcar
16 castanhas-do-pará (segundo a receita, também é possível usar 40 nozes ou 40 amêndoas) moídas
1 colher (sopa) de farinha de trigo
Para o recheio
100 gramas de manteiga
100 gramas de açúcar
1 clara de ovo
1 colher (café) de extrato de baunilha
Modo de preparo
Faça uma gemada batendo as gemas e o açúcar. Junte as castanhas moídas, a farinha de trigo e as claras batidas em neve. Despeje em um tabuleiro untado e leve ao forno médio até dourar levemente. Corte a massa em quadradinhos.

Para o recheio, bata a manteiga e o açúcar, depois junte a clara em neve e o extrato de baunilha.

Monte sanduíches de castanhas unindo pares de quadrados com o recheio amanteigado.

7. Bombom de mamão verde glaçado
Esta receita não é minha, mas da confeiteira Adriana Lira, da Dona Doceira. Já provei e recomendo.
Foto: divulgação / Dona Doceira

Ingredientes
1 mamão verde pequeno
1 litro de água
300 gramas de açúcar
Cravo e anis
Para glaçar:
250 mililitros de água
150 gramas de açúcar
Modo de preparo
Lave o mamão e parta ao meio em sentido longitudinal. Tire as sementes e faça fitas usando cepilho ou descascador. Com as fitas, faça rolinhos e junte-os com agulha e linha, formando um cordão. Deixe os cordões de molho por dois dias, trocando a água pelo menos 3 vezes por dia. Faça a calda em ponto de fio com a água, o açúcar e as especiarias e cozinhe os cordões por 30 minutos ou até a fita do mamão perder a cor branca opaca e ficar transparente. O docinho estará pronto para compota.
Se quiser glaçar, para servir individualmente, coloque os 250 mililitros de água e os 150 gramas de açúcar no fogo, por mais ou menos 20 minutos até atingir 106 ºC. Não mexa em nenhum momento. Se sujar as bordas da panela com respingos, vá limpando com um pano. Terminado o processo, banhe os rolinhos de mamão, já sem o cordão. Coloque para secar em local fresco por 2 horas. Depois de pronto, coloque em tapetinhos transparentes e logo após em forminhas.

Observação: o abacaxizinho e o doce de goiabada com amendoim foram o 69º e o 70º testes das receitas da minha família. Confira aqui todos os testes.


Para cozinhar mais:

O aniversário que não cabia em mim (e um bolo bem recheado de chocolate e morango)

O bolo e os dinos na festa do meu filho (foto: Enfeite Festas Infantis)

Minha avó Helena nunca perdoou as crianças que depredaram meu bolo castelo de chocolate antes do parabéns. O planejamento de dias, o trabalho de horas, tudo desmantelado por dedinhos ávidos pelos pilares feitos de palitos doces, pelas janelas de bolachas, pelas torres de wafer. Em um canto do vestiário, chorei. Mas não por causa das ruínas açucaradas — delas provavelmente só me lembro graças aos resmungos inconformados de minha avó que se repetiam praticamente todo aniversário, mesmo quando eu já era adulta. Chorei porque aquele dia não cabia em mim.

O aniversário era o ápice do empenho coletivo da família — pelo menos da parte feminina, que eu me lembre. A bisavó Maria, exímia fazedora de miolo de boi disfarçado de galeto assado, comandava o espetáculo. Talvez vivesse em estado contínuo de preparação de festas, como uma carnavalesca das comemorações caseiras, alimentando a criatividade com programas culinários na TV, revistas e prática diária. Projetava bolos, colocava a mão na massa e distribuía tarefas, instruções e broncas. Para mim, permanece um mistério a combinação de doce e amargo nessa mineira que esmagou um dedo no espremedor de cana ao fazer garapa. Vinham dela grandes quitutes e histórias terríveis: “Acaba de nascer um ponto escuro no seu coração”, dizia, diante de uma malcriação, e me colocava em pânico, a relembrar boas e más ações para calcular o tamanho da mancha em mim.

Vinham da bisavó Maria grandes quitutes e histórias terríveis: ‘Acaba de nascer um ponto escuro no seu coração”, dizia, diante de uma malcriação, e me colocava em pânico, a relembrar boas e más ações para calcular o tamanho da mancha em mim.”

Tampouco era só doce minha avó Helena, filha da bisavó Maria e mãe do meu pai. Desconfiava de quem não gostasse de bicho e planta, por exemplo. Mas, quando era doce, era dulcíssima. Nos aniversários, ajudava na coreografia dos festejos como montava as apresentações de fim de ano de sua escola de balé. Vez ou outra, também emprestava o espaço para a festa. E lembrava para sempre da identidade dos desordeiros que queimavam a largada no ataque à mesa de doces.

Minha mãe, geógrafa (ou então estudante de geografia?), quase um mês antes começava a ocupar as noites com recortes de enfeites e suportes para docinhos e salgadinhos. Depois, com dias de antecedência, passava para o preparo dos comes, acomodados em caixas de camisa guardadas para essa finalidade. Estudava, trabalhava, cuidava dos filhos e exercitava a paciência moldando coxinhas como ensinava a bisavó Maria — “Você faz uma bola de massa, abre um buraco, coloca o recheio e depois fecha a massa puxando o biquinho”, lembra.

Quanto ao meu pai, foi ele que me encontrou ali, sozinha entre os armários do vestiário da escola de balé. Longe da mesa do bolo, das correrias dos convidados nas salas de dança, dos balões coloridos. Ele me fez entender, ou aceitar, a melancolia que eu sentia ali e sentiria tantas outras vezes. Enxugou minhas lágrimas e me ajudou a voltar para a festa.

E agora o bolo

Ainda estou exausta da preparação e da festa do meu filho, que completou quatro anos no último fim de semana. Trabalhei, trabalhei, trabalhei (meu marido também), mas nem me aproximei das comemorações da minha infância — ou do que eu guardei delas. Outros tempos. Espero que para meu menino sejam tão saborosos quanto os aniversários organizados para mim — e espero ajudá-lo a enxugar algumas das lágrimas inevitáveis do crescimento. Um pouco de chocolate também ajuda.

Abaixo, a receita do bolo que preparei para a festa.

Em tempo: aluguei a decoração de uma amiga, da Enfeite Festas Infantis, que cedeu as fotos para este post, pois, na correria, não fotografei muito.

Confira também receitas de docinhos gostosos que fogem do óbvio, tiradas dos cadernos da minha família (a massa do bolo também vem deles).

Mesa de festa infantil com decoração de dinossauros (foto: Enfeite Festas Infantis)

Teste número 68: bolo de chocolate com recheio de brigadeiro e morango
Fonte –  Caderno de receitas da minha mãe.
Grau de dificuldade – Fácil.
Resultado – Uma versão mais opulenta do bolo de chocolate com cobertura de chocolate que eu já tinha preparado e publicado no blog.

Ingredientes
Para o bolo:
2 xícaras de óleo
6 ovos
4 xícaras de açúcar
2 xícaras de cacau em pó
4 xícaras de farinha de trigo
2 colheres de sopa de fermento em pó
2 xícaras de água quente
Para o recheio e a cobertura:
2 latas de leite condensado
2 colheres de sopa de manteiga
4 colheres de sopa de cacau
1 caixa de morangos
1 colher de sopa de açúcar
Nibs de cacau ou confeitos para enfeitar (opcional)

Modo de preparo
Bata à mão ou na batedeira o óleo, os ovos e o açúcar. Em seguida, junte o cacau, a farinha e o fermento e bata também. Por último, adicione a água quente e misture aos demais ingredientes. Distribua a massa em duas formas de bolo de 27 cm de diâmetro untadas e enfarinhadas. Se não tiver duas formas, faça metade da massa de cada vez e asse uma porção depois a outra (eu fiz isso).

Leve ao forno pré-aquecido a 180 ºC. Estará pronto quando um palito espetado no meio do bolo sair limpo, sem pedacinhos de massa grudados. Espere esfriar para tirar da forma, então apare a parte arrendondada do topo de um dos discos de bolo para facilitar o empilhamento (e guarde as lascas para comer depois!).

Hora de fazer o recheio e a cobertura. Em fogo baixo, cozinhe o leite condensado, a manteiga e o cacau em pó, mexendo sempre, até formar um brigadeiro mole (quando você passa a colher no fundo da panela, ela abre uma trilha que demora um pouco para voltar a ser coberta pelo doce).

Pique os morangos, salpique com açúcar e deixe descansando em uma tigela cerca de meia hora. Depois escorra em uma peneira, guardando a calda para usar depois. Misture os morangos a cerca de ⅓ do brigadeiro. Com uma colher, espalhe essa mistura sobre o disco inferior do bolo. Empilhe o disco superior, fure a massa em vários pontos com um palito e despeje aos poucos a calda de morango. Espalhe o resto do brigadeiro em cima e na lateral do bolo. Se quiser, finalize salpicando confeitos ou nibs de cacau.


Para cozinhar mais:

Torta Célia (ou 1, 2, 3, 4 ou bolo de vó)

Pedaço de bolo de vó (ou 1, 2, 3, 4) (foto: Simone Pimentel)

Simone Pimentel refez, com a mãe, o bolo de chocolate que era especialidade da avó

 

Texto e fotos: Simone Pimentel

Minha avó a chamava de torta Célia (nunca soube exatamente o motivo, talvez a receita tivesse sido passada por uma prima sua chamada Célia), minha mãe, de 1, 2, 3, 4. Pra mim é bolo de vó, e tem gosto de infância.

Minha avó Maria, a quem eu chamava de “mamãe”, era a cozinheira mais badalada da família. Lembro dela contando, orgulhosa, que aos 16 anos fez um vatapá para duzentas pessoas na casa de seu pai. A cozinha era seu território por excelência e de lá saíam comidas de milho que nunca mais experimentei igual, além de, como boa pernambucana que era, os mais deliciosos e variados doces.

Ela era dessas avós nordestinas que demonstram o afeto muito mais pelos quitutes gostosos do que pelo carinho físico, embora também tenha muitas lembranças de seus afagos.

Quando os aniversários dos netos se aproximavam, ela ligava perguntando se preferia o bolo com cobertura de chocolate ou de coco. O bolo sempre era seu presente de aniversário.

Como eu morava em sua casa, acompanhava de perto os preparativos gostosos desses bolos. Os ingredientes eram separados nas tigelas sobre a mesa do terraço. Cadeira posta em frente à parede, alguidar de barro apoiado entre as pernas e a parede, colher de pau em punho. Poucas vezes tive o prazer de bater um pouco os bolos, ela dizia que tinha que ser a mesma mão do começo ao fim senão desandava. Eu ficava olhando. Um pouco porque gostava de ver aquele rito, um pouco para ficar em bom lugar na disputa com os primos e irmãos pela raspa da colher e do alguidar.

Simone, aos 14 anos, no rito de mexer a massa do bolo
Simone, aos 14 anos, no rito de mexer a massa do bolo

Se algo desse errado, o que acontecia pouquíssimas vezes, a culpa nunca era de minha avó. “O aniversariante não está com a cabeça boa”, ela dizia preocupada.

O tempo passou, minha avó se foi, e a criança que eu era completou 40 anos. Já não moro em Recife, e pedi a minha mãe, que vinha me visitar, para trazer seu caderno de receitas de doces para escolher algo especial para fazermos juntas, mas ela esqueceu de pôr na mala. A receita do bolo, fácil como beijo de vó, ela tinha fresca na memória porque costuma fazer para seus netos.

Fizemos o bolo juntas, e a tigela da batedeira foi toda minha. Depois de tudo pronto, minha mãe disse que eu estava com a cabeça boa. Minha avó teria ficado feliz.

A receita é muito simples, mas teve uns pequenos toques de minha mãe. Lá vai:

Para o bolo:
1 tablete de manteiga, mas minha mãe acrescentou um dedinho a mais
2 xícaras bem cheias de açúcar
3 xícaras rasas de farinha de trigo
4 ovos
1 xícara de leite
1 colher de chá de baunilha
1 colher de sobremesa cheia de fermento
3 colheres de sopa de nescau (minha mãe usa o chocolate do frade, mas eu queria o sabor do bolo da minha avó, que era com nescau)

Os ingredientes em pó ela peneirou. A farinha e o fermento ficaram juntos numa tigela, e o leite e a baunilha juntos em outra.

Na batedeira, batemos a manteiga e o açúcar. Depois de unidos, acrescentamos os ovos e batemos bem. Em velocidade forte e por tempo suficiente para ficar bem batidinho, sem cheiro de ovo.

Massa do bolo de vó (ou 1, 2, 3, 4) (foto: Simone Pimentel)

A partir daí surgiu uma polêmica. Minha mãe queria acrescentar a farinha e o leite misturando devagar na colher. Eu queria continuar usando a batedeira, em velocidade baixíssima, o que prevaleceu. Assim, fomos misturando alternadamente a farinha de trigo e o leite, sem bater muito, só para incorporar. Depois acrescentamos o chocolate, que pode ser em maior ou menor quantidade. Acho que no nosso podíamos ter colocado um pouquinho mais. Untamos duas assadeiras com manteiga e trigo, e dividimos igualmente o bolo entre elas. Não precisa passar colher em cima para ficar nivelado, é só dar uma sacudida leve que ele espalha. Levamos ao fogo já quente em 200 ºC por 20 minutos. Assamos um e depois o outro. E deixamos esfriar.

O recheio/cobertura é mais difícil explicar porque minha mãe não lembrava as proporções, até ligou para minha tia para relembrar, mas acabou fazendo no “olho”.

Ingredientes de recheio/cobertura: leite, maisena, leite condensado, coco fresco ralado. Primeiro põe o leite para esquentar e engrossa um pouco com maisena, acrescenta o leite condensado (usamos uma lata) e vai mexendo para não grudar e sentir a textura. Em seguida acrescenta o coco ralado e vai misturando devagar até ferver e começar a soltar do fundo da panela.

Desenforma o bolo, põe o recheio em cima dessa primeira banda sem moderação. Depois desenforma a outra banda, põe em cima da primeira, e completa passando o recheio em cima e pelas laterais.

É só comer e voltar no tempo.

Bolo de vó (ou 1, 2, 3, 4) sendo montado (foto: Simone Pimentel) Bolo de vó (ou 1, 2, 3, 4) sendo coberto (foto: Simone Pimentel)

Bolo de vó (ou 1, 2, 3, 4) (foto: Simone Pimentel)

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Banana-passa recheada de doce de leite

Banana-passa recheada de doce de leite

O último fim de semana teve festinha de aniversário do meu filho. Minha mãe, que mora em Vitória, veio a São Paulo me ajudar nos preparativos e me ensinou a receita deste docinho de banana gostoso, açucarado e saboroso. (Veja também a receita do docinho de castanha-do-pará e a do bolo de chocolate, que recheei com brigadeiro.)

Teste número 46: banana-passa recheada de doce de leite
Fonte – Memória da minha mãe.
Grau de dificuldade – Muito fácil.
Resultado – Bem gostoso, mas um pouco grudento (a forminha de papel é essencial).

Ingredientes
1 lata de leite condensado
Banana-passa (comprei 3 pacotinhos)
Açúcar cristal

Modo de preparo
Para fazer o doce de leite, coloque a lata de leite condensado coberta de água em uma panela de pressão. Quando a  panela pegar pressão, reduza o fogo para o mínimo e deixe cozinhar por 50 minutos. Desligue o fogo e espere que a panela perca totalmente a pressão antes de abri-la.
Corte as bananas em pedaços de 2 ou 3 centímetros. Depois corte cada um dos pedaços no sentido do comprimento, sem ir até o fim, criando uma fenda (como se eu estivesse abrindo um pão para fazer sanduíche). Com uma colher de chá, recheie as fendas com doce de leite. Por fim, espalhe açúcar cristal em um pires e passe a parte com doce de leite dos “sanduichinhos” por esse açúcar (isso evita que fiquem muito grudentos). Sirva sobre forminhas de papel.

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