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Torta Célia (ou 1, 2, 3, 4 ou bolo de vó)

Pedaço de bolo de vó (ou 1, 2, 3, 4) (foto: Simone Pimentel)

Simone Pimentel refez, com a mãe, o bolo de chocolate que era especialidade da avó

 

Texto e fotos: Simone Pimentel

Minha avó a chamava de torta Célia (nunca soube exatamente o motivo, talvez a receita tivesse sido passada por uma prima sua chamada Célia), minha mãe, de 1, 2, 3, 4. Pra mim é bolo de vó, e tem gosto de infância.

Minha avó Maria, a quem eu chamava de “mamãe”, era a cozinheira mais badalada da família. Lembro dela contando, orgulhosa, que aos 16 anos fez um vatapá para duzentas pessoas na casa de seu pai. A cozinha era seu território por excelência e de lá saíam comidas de milho que nunca mais experimentei igual, além de, como boa pernambucana que era, os mais deliciosos e variados doces.

Ela era dessas avós nordestinas que demonstram o afeto muito mais pelos quitutes gostosos do que pelo carinho físico, embora também tenha muitas lembranças de seus afagos.

Quando os aniversários dos netos se aproximavam, ela ligava perguntando se preferia o bolo com cobertura de chocolate ou de coco. O bolo sempre era seu presente de aniversário.

Como eu morava em sua casa, acompanhava de perto os preparativos gostosos desses bolos. Os ingredientes eram separados nas tigelas sobre a mesa do terraço. Cadeira posta em frente à parede, alguidar de barro apoiado entre as pernas e a parede, colher de pau em punho. Poucas vezes tive o prazer de bater um pouco os bolos, ela dizia que tinha que ser a mesma mão do começo ao fim senão desandava. Eu ficava olhando. Um pouco porque gostava de ver aquele rito, um pouco para ficar em bom lugar na disputa com os primos e irmãos pela raspa da colher e do alguidar.

Simone, aos 14 anos, no rito de mexer a massa do bolo
Simone, aos 14 anos, no rito de mexer a massa do bolo

Se algo desse errado, o que acontecia pouquíssimas vezes, a culpa nunca era de minha avó. “O aniversariante não está com a cabeça boa”, ela dizia preocupada.

O tempo passou, minha avó se foi, e a criança que eu era completou 40 anos. Já não moro em Recife, e pedi a minha mãe, que vinha me visitar, para trazer seu caderno de receitas de doces para escolher algo especial para fazermos juntas, mas ela esqueceu de pôr na mala. A receita do bolo, fácil como beijo de vó, ela tinha fresca na memória porque costuma fazer para seus netos.

Fizemos o bolo juntas, e a tigela da batedeira foi toda minha. Depois de tudo pronto, minha mãe disse que eu estava com a cabeça boa. Minha avó teria ficado feliz.

A receita é muito simples, mas teve uns pequenos toques de minha mãe. Lá vai:

Para o bolo:
1 tablete de manteiga, mas minha mãe acrescentou um dedinho a mais
2 xícaras bem cheias de açúcar
3 xícaras rasas de farinha de trigo
4 ovos
1 xícara de leite
1 colher de chá de baunilha
1 colher de sobremesa cheia de fermento
3 colheres de sopa de nescau (minha mãe usa o chocolate do frade, mas eu queria o sabor do bolo da minha avó, que era com nescau)

Os ingredientes em pó ela peneirou. A farinha e o fermento ficaram juntos numa tigela, e o leite e a baunilha juntos em outra.

Na batedeira, batemos a manteiga e o açúcar. Depois de unidos, acrescentamos os ovos e batemos bem. Em velocidade forte e por tempo suficiente para ficar bem batidinho, sem cheiro de ovo.

Massa do bolo de vó (ou 1, 2, 3, 4) (foto: Simone Pimentel)

A partir daí surgiu uma polêmica. Minha mãe queria acrescentar a farinha e o leite misturando devagar na colher. Eu queria continuar usando a batedeira, em velocidade baixíssima, o que prevaleceu. Assim, fomos misturando alternadamente a farinha de trigo e o leite, sem bater muito, só para incorporar. Depois acrescentamos o chocolate, que pode ser em maior ou menor quantidade. Acho que no nosso podíamos ter colocado um pouquinho mais. Untamos duas assadeiras com manteiga e trigo, e dividimos igualmente o bolo entre elas. Não precisa passar colher em cima para ficar nivelado, é só dar uma sacudida leve que ele espalha. Levamos ao fogo já quente em 200 ºC por 20 minutos. Assamos um e depois o outro. E deixamos esfriar.

O recheio/cobertura é mais difícil explicar porque minha mãe não lembrava as proporções, até ligou para minha tia para relembrar, mas acabou fazendo no “olho”.

Ingredientes de recheio/cobertura: leite, maisena, leite condensado, coco fresco ralado. Primeiro põe o leite para esquentar e engrossa um pouco com maisena, acrescenta o leite condensado (usamos uma lata) e vai mexendo para não grudar e sentir a textura. Em seguida acrescenta o coco ralado e vai misturando devagar até ferver e começar a soltar do fundo da panela.

Desenforma o bolo, põe o recheio em cima dessa primeira banda sem moderação. Depois desenforma a outra banda, põe em cima da primeira, e completa passando o recheio em cima e pelas laterais.

É só comer e voltar no tempo.

Bolo de vó (ou 1, 2, 3, 4) sendo montado (foto: Simone Pimentel) Bolo de vó (ou 1, 2, 3, 4) sendo coberto (foto: Simone Pimentel)

Bolo de vó (ou 1, 2, 3, 4) (foto: Simone Pimentel)

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Com açúcar, com afeto

Junior Ferraro e a mãe
Junior Ferraro e a mãe, dona Marilene, no Rio de Janeiro

Este relato faz parte de uma série de depoimentos sobre as delícias e as histórias da cozinha materna

Por Junior Ferraro*

Desde que me entendo por gente, minha mãe está na cozinha. Mas também está no cabeleireiro, na praia e no karaokê – ela gosta tanto de cantar que até já gravou um CD! O que quero dizer é que minha mãe gosta de cozinhar, mas está longe daquele imagem de mamma italiana com ar de matrona. Dona Marilene Ferraro é vaidosa à beça, adora salto alto e faz caminhadas para manter a forma. Ou seja, a gente é muito parecido. Exceto no salto alto, pois não uso. E, pensando bem, nas caminhadas: sou muito mais preguiçoso do que ela para essas coisas.

Sim, eu e minha mãe temos uma ótima relação, muito próxima e até cúmplice. Até uns anos atrás, faltava a parceria na cozinha, uma vez que eu não demonstrava muito interesse nessas artes. Até que comecei a cozinhar, fazer curso, treinar em casa, e minha mãe acabou se tornando uma consultora e tanto. Principalmente para fazer doces, especialidade dela, que é uma formigona (outro ponto em comum: somos loucos por sobremesas).

Ensinei minha mãe a comer com pimenta e ela me ensinou a cozinhar com açúcar e com afeto”

E me treinou tão bem nessa área que hoje é ela quem me pede “faz aquele bolo de limão siciliano? O teu fica tão bom…”. E eu faço. Ela é fã dos meus bolos, dos molhos para macarrão e, veja só, até das receitas tailandesas. Ensinei minha mãe a comer com pimenta e ela me ensinou a cozinhar com açúcar e com afeto. Porém, nunca me atrevi a fazer sua torta de limão. A receita não tem nada demais, é daquelas simples mesmo, fácil de fazer e bem gostosa. Mas pra mim tem aquele valor inestimável de sabor de infância, o gostinho de coisa boa que sua mãe te dá quando você está triste ou doentinho. E esse ingrediente é só dela.

torta de limão do Junior Ferraro

Torta de limão

Ingredientes da massa

2 ½ colheres de sopa de margarina sem sal
 (mais um pouco para untar)
12 colheres de sopa de farinha de trigo
 (mais um pouco para enfarinhar)
2 colheres de sopa de açúcar

1 xícara de café de leite

1 colher de sobremesa rasa de fermento em pó

2 gemas (reserve as claras)

Preparo da massa
Misture os ingredientes com as mãos até obter uma massa uniforme. Unte uma assadeira média redonda (ou forma refratária) com margarina e espalhe farinha de trigo. Abra a massa com as mãos e vá cobrindo o fundo e as laterais da assadeira. Leve ao forno médio até que a massa esteja levemente corada (não passe do ponto, pois ela voltará ao forno).

Ingredientes do creme

½ lata de leite condensado
2 latas de leite comum
1 gema (reserve a clara)
2 colheres de sopa bem cheias de amido de milho (2 ½ se quiser mais consistência)
2 colheres rasas de açúcar

Preparo do creme
Bata tudo no liquidificador e leve ao fogo médio, mexendo até engrossar. Retire e deixe amornar. Coloque dentro da massa já assada e espalhe bem.

Ingredientes do creme de limão

1 ½ lata de leite condensado

¾  xícara de café de suco de limão (se quiser mais mais azedinha, aumente o limão)

Preparo do creme de limão
Misture bem numa vasilha e coloque sobre o creme que está na assadeira.

Ingredientes da cobertura
3 claras

4 colheres de sopa bem cheias de açúcar

Preparo da cobertura
Bata as claras em neve e aos poucos adicione o açúcar, até formar ponto de suspiro. Cubra a torta com ele e leve ao forno baixo, até dourar levemente. Retire e deixe esfriar. Melhor se servida fria ou geladinha (mas quando eu era molequinho não aguentava esperar e acabava comendo quente mesmo!).

*Junior Ferraro, jornalista e publicitário, é autor do blog Que Delícia.

Leia também:

Compota de abacaxi com creme e coalhada: receita de Gabriel Vidolin, do Leão Vermelho

Doce de abacaxi bem fácil de fazer, servido com creme bávaro e coalhada doce
Enquanto a mãe trabalhava em dupla jornada, como motorista de van escolar e fabricante de sorvetes, Gabriel Vidolin cozinhava. Aprendia em revistas, como Claudia, o preparo dos pratos que servia nas refeições da família — também assimalava algo ao auxiliar a avó de origem piemontesa, responsável pelos almoços de domingo, mas diz que ela era brava, “não tinha paciência”. Quando não estava ao fogão, ele montava cadernos em que mesclava receitas e poesia e colecionava notícias sobre chefs. Logo percebeu que se tornaria um deles. “Nunca pensei em outra possibilidade”, diz o cozinheiro de 26 anos. Ainda adolescente, saiu de São João da Boa Vista (SP) para estudar e trabalhar fora do país. Depois voltou e montou seu restaurante, O Leão Vermelho, na casa onde funcionava a fábrica de sorvetes da mãe.

Para quatro clientes por vez, atendidos mediante reserva, Gabriel prepara menus temáticos feitos com produtos da região — parte colhida em uma horta própria e parte vinda de fazendas da vizinhança (a exceção é a farinha de trigo e algumas especiarias). Valoriza os ingredientes sazonais e a simplicidade da cozinha do campo — esta foi o tema de um curso dele no Eataly São Paulo, no qual aprendi as receitas a seguir. Elas funcionam bem juntas ou servidas separadamente.

(Em tempo: o chef tem promovido jantares todo mês em São Paulo, com vendas pelo site FoodPass.

Gabriel Vidolin em ação na aula de cozinha do campo no Eataly São Paulo

Compota assada de abacaxi com creme bávaro e coalhada açucarada

Para a compota:
Ingredientes
500 gramas de abacaxi em cubinhos
1 fava de baunilha
150 gramas de açúcar
Raspas de dois limões
2 colheres de sopa de cachaça

Modo de preparo
Misture todos os ingredientes com as mãos e espalhe em uma assadeira. Cubra com papel-alumínio e asse a 180 ºC por 25 minutos. Retire o papel-alumínio e volte a assadeira ao forno por 20 minutos ou até o abacaxi caramelizar.

Para o creme bávaro:
Ingredientes
1 lata de leite condensado
3 latas de leite (medidas na lata de leite condensado)
3 ovos
5 gramas de cardamomo

Modo de preparo
Bata todos os ingredientes no liquidificador. Coe com uma peneira e distribua em ramequins de 125 ml. Asse em banho-maria no forno a 160 ºC por 45 minutos. Depois que assar e criar uma crosta por cima, leve ao freezer ou à geladeira para firmar.

Para a coalhada açucarada:
Ingredientes
1 litro de iogurte natural
250 gramas de açúcar
2 colheres de essência de baunilha (ou raspas de uma baunilha natural)

Modo de preparo
Cubra uma peneira com um pano limpo do tipo Perfex e deixe a coalhada escorrer nela por seis horas, ou até ficar cremosa como iogurte grego. Adicione o açúcar e misture bem com um fouet.

Montagem:
Sirva a compota sobre o creme bávaro e finalize com a coalhada.

Aqui a compota de abacaxi virou recheio de biscoito (foto: divulgação)
Aqui a compota de abacaxi virou recheio de biscoito (foto: divulgação)

Maçãs recheadas de creme – lanche ou sobremesa

Maçã recheada de creme - O Caderno de Receitas

Junto com o caderno de receitas da minha mãe, vieram algumas folhas soltas, arrancadas de um bloco com espiral. Tinha me esquecido delas até outro dia, quando as encontrei em uma gaveta. Vem daí o passo a passo destas maçãs recheadas, que têm cara de sobremesa mas que eu fiz para um lanche da tarde mesmo.

Adaptei um pouco. Pus menos leite condensado para diminuir a doçura e acrescentei canela (maçã e canela, como errar?). Também coloquei limão com o intuito de preservar a cor da maçã — talvez por isso, o creme tenha ficado meio granulado, mas o prato ganhou uma acidez necessária.

No fim das contas, sobrou creme do recheio. Juntei com o leite condensado restante e usei de base para outra receita. Mas isso já é outra história e outro post, que entra aqui em breve.

Teste número 57: maçãs recheadas
Fonte – Receitas anotadas por minha mãe em folhas soltas.
Grau de dificuldade – Fácil.
Resultado – Um bom doce de fruta. Comi puro, mas deve ficar também com sorvete ou chantilly.

Ingredientes
4 maçãs
½ limão
½ lata de leite condensado
1 gema
4 colheres (sopa) de vinho
Canela em pó

Modo de preparo
Corte o topo das maçãs com uma faca. Use uma colher para cavar o miolo, com cuidado para não rasgar a casca. Separe as sementes e reserve o restante da polpa (incluindo o topo).

Passe um pouco do suco de limão no interior das maças e misture o restante com a polpa.

No liquidificador ou no processador, bata a polpa com o leite condensado e a gema. Despeje esse creme dentro das maçãs.

Posicione as frutas em uma assadeira, respingue vinho sobre elas, depois cubra tudo com papel-alumínio e leve ao forno a 200 ºC por 15 minutos. Retire o papel-alumínio e deixe no forno por mais 15 minutos. Se o seu forno tem a função “grill”, aproveite para dar aquela dourada no final.

Sirva quente, salpicando canela por cima.

Banana-passa recheada de doce de leite

Banana-passa recheada de doce de leite

O último fim de semana teve festinha de aniversário do meu filho. Minha mãe, que mora em Vitória, veio a São Paulo me ajudar nos preparativos e me ensinou a receita deste docinho de banana gostoso, açucarado e saboroso. (Veja também a receita do docinho de castanha-do-pará e a do bolo de chocolate, que recheei com brigadeiro.)

Teste número 46: banana-passa recheada de doce de leite
Fonte – Memória da minha mãe.
Grau de dificuldade – Muito fácil.
Resultado – Bem gostoso, mas um pouco grudento (a forminha de papel é essencial).

Ingredientes
1 lata de leite condensado
Banana-passa (comprei 3 pacotinhos)
Açúcar cristal

Modo de preparo
Para fazer o doce de leite, coloque a lata de leite condensado coberta de água em uma panela de pressão. Quando a  panela pegar pressão, reduza o fogo para o mínimo e deixe cozinhar por 50 minutos. Desligue o fogo e espere que a panela perca totalmente a pressão antes de abri-la.
Corte as bananas em pedaços de 2 ou 3 centímetros. Depois corte cada um dos pedaços no sentido do comprimento, sem ir até o fim, criando uma fenda (como se eu estivesse abrindo um pão para fazer sanduíche). Com uma colher de chá, recheie as fendas com doce de leite. Por fim, espalhe açúcar cristal em um pires e passe a parte com doce de leite dos “sanduichinhos” por esse açúcar (isso evita que fiquem muito grudentos). Sirva sobre forminhas de papel.

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