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Receita de mousse de gorgonzola da minha mãe

Fim de ano, tempo de me abastecer de comida de mãe. Sorte a sua, porque eu aproveito para compartilhar aqui o que tenho aprendido e comido. Hoje é dia de mousse de gorgonzola.

Lembro de na infância comer o prato quase sempre que tinha festa (desde que me entendo por gente tenho uma queda por queijos fortes). Receber gente em casa significava oferecer patês e canapés. Minha mãe mantém o hábito, pelo menos quando estou de visita. De repente antes do jantar surgem umas torradinhas assadas com rodelas de banana e pasta de manteiga e parmesão – bem melhor do que uma período intermediário em que talvez surgissem uns patês industrializados de presunto e afins. Melhoramos, em alguns aspectos.

Foi bom rever a mousse de gorgonzola neste fim de ano. Eu me perguntava se ainda iria gostar dela, depois de tempos sem reencontrar o sabor, e gostei muito. Apesar de ficar sabendo sabendo que a receita leva cubo de caldo de galinha como tempero – uma pitada de realidade para lembrar que eu não cresci em um idílio alimentar recheado somente de ingredientes frescos e pratos preparados a partir do zero.

Hoje, acompanhando o preparo da mousse, ponderei com a minha mãe que poderíamos dissolver a gelatina em um caldo caseiro concentrado, em vez de na água, e assim dispensar o cubinho de caldo. Ela concordou, mas sem muita convicção. Sempre fez com o cubinho e sempre viu os convidados devorarem a mousse. Então aí está a receita dela. Quem quiser que invente outra.

(Ah, não deixe ver a receita de farofa doce da minha mãe, no post anterior. E o próximo provavelmente vai ser a mousse de ameixa.)

Ingredientes

200 gramas de gorgonzola (mais um pouco para decorar)

1 lata de creme de leite

1 envelope de gelatina em pó

1 tablete de caldo de galinha
Modo de preparo

Ferva um copo de água fervente, desligue o fogo e dissolva a gelatina.

Bata 200 gramas do gorgonzola (reserve o restante), o creme de leite, a gelatina dissolvida e o tablete de caldo no liquidificador. 

Despeje em uma forma de gelatina ou mousse.

Deixe endurecer na geladeira para depois desenformar. 

Esfarele o restante do gorgonzola sobre a mousse para decorar.

Sirva com pão fresco ou torradas.

Mousse e calda de morango na louça da avó

Mousse e calda de morango (foto: O Caderno de Receitas)

Coloquei a mousse de morango nas xícaras herdadas da avó porque a sobremesa merece.

Primeiro, porque a receita estava anotada no caderno da minha Vó Viquinha, e me lembro da grande mesa dos almoços de domingo no apartamento dela, em que as comidas vinham em louças bonitas e as crianças precisavam se comportar.

Segundo, porque ainda não perdi a admiração de infância diante dos morangos, tão vermelhos, tão delicados e tão caros (não eram a fruta de todo dia, também porque não davam o tempo todo, e esse era um de seus encantos).

Terceiro, porque a mousse, hoje encontrada de qualquer jeito em qualquer quilo mais ou menos, já foi coisa fina, que requeria técnica e suor (em vez de batedeira elétrica) para ganhar a textura leve e aerada.

No século 18, segundo o livro The Oxford Companion to Sugar and Sweets, mousses eram servidas em grandes cálices de prata feitos especialmente para esse fim – não tenho nada parecido, então que pelo menos use minha melhor louça.

Um século depois, ela mantinha o prestígio, a julgar pela citação em Em Busca do Tempo Perdido – Sodoma e Gomorra, de Marcel Proust, citada no livro À Mesa com Proust:

“– Que coisa de tão lindo tom é essa que estamos comendo? – perguntou Ski. – É uma mousse de morango – respondeu Madame Verdurin. – Mas é des-lum-bran-te. Seria necessário mandar abrir garrafas de Château-Margaux, de Château-Lafite, de vinho do Porto.”

Agora voltando ao presente: a mousse ficou gostosa porque os morangos estavam bons. O inverno é a época deles, com festivais dedicados à fruta acontecendo em várias cidades, então aproveite (segundo a Embrapa, a colheita no Brasil acontece de abril a outubro em regiões quentes e vai até dezembro nas áreas mais frias, como o Sul).

Usei morangos orgânicos, cultivados sem agrotóxicos. É uma opção que faço com frequência, especialmente com essa fruta. Em 2016, um relatório da Anvisa que analisou resíduos de agrotóxicos em 157 amostras de morangos considerou satisfatórias somente 43 delas. Das amostras que bombaram no teste, 41 apresentavam mais resíduos que o limite considerado aceitável e 110 tinham agrotóxicos não autorizados.

Desculpe o mergulho de Proust aos pesticidas, mas é sempre bom pensar um pouco sobre o que vai nas nossas xícaras. Ainda mais quando se discute no congresso um projeto de lei, apelidado de Pacote do Veneno, que periga afrouxar as regras para agrotóxicos.

RECEITA

Teste número 91 – Mousse de morango
Fonte – Caderno de receitas da minha vó Viquinha.
Grau de dificuldade – Fácil.
Resultado – Um doce delicado, com gosto de comida de vó.

Ingredientes
500 gramas de morangos
3 claras
250 gramas de creme de leite fresco
½ xícara de açúcar (ou a gosto)
1 pacote (24 gramas) de gelatina sem sabor em pó
Para a calda:
200 gramas de açúcar
225 ml de água
250 gramas de morango

Modo de preparo
Lave os morangos e tire os cabinhos verdes. Processe as frutas no liquidificador ou as esprema em uma peneira (eu usei o liquidificador).

Na batedeira, bata as claras em neve e reserve.

Também na batedeira, bata o creme de leite até que ele fique espesso.  Ainda batendo junte o morango processado e o açúcar, depois a gelatina dissolvida em água (conforme as instruções da embalagem).

Pare a batedeira. Junte as claras em neve ao creme, misturando-a delicadamente com uma espátula.

Despeje o creme em uma tigela grande ou vários recipientes pequenos. Leve à geladeira para firmar.

Modo de preparo da calda
Coloque o açúcar e a água em uma panela em fogo baixo. Mexa delicadamente até dissolvê-los, depois não mexa mais.

Espere que a calda ferva um pouco, então desligue o fogo.

Bata a calda com o morango no liquidificador.

Para cozinhar mais:

A melhor mousse de maracujá — com crocante e calda da fruta

Mousse de maracujá com crocante e calda de maracujá
Desculpe a falta de modéstia, mas essa sobremesa ficou mesmo deliciosa. Quem disse, além de mim, foi minha sogra. Aliás, disse várias vezes, no intervalo entre uma colherada e outra.

A receita, uma lembrança doce da infância, veio do caderno de receitas da minha mãe e está indicada como da Tuti, uma amiga da minha avó conhecida por cozinhar bem. Pois eu melhorei o que já era bom (hoje tô que tô). Em vez de suco concentrado, usei fruta de verdade, coada. Com a polpa e as sementes que ficaram na peneira, aproveitei para fazer uma calda. Deliciosa.

Teste número 67: mousse de maracujá da Tuti
Fonte –  Caderno de receitas da minha mãe.
Grau de dificuldade – Médio.
Resultado – Um doce azedinho (como eu gosto) com bom contraste de texturas (cremoso e crocante).

Ingredientes
Para a mousse:
Maracujás suficientes para fazer 200 ml de suco (eu usei 8 unidades)
250 ml de creme de leite fresco
3 claras em neve bem batidas
7 colheres de sopa de açúcar
5 folhas de gelatina sem sabor
Para o crocante:
1 punhado de nozes
1 xícara de açúcar
Para a calda:
Polpa com sementes da maracujá (o que sobrou na peneira)
3/4 de xícara de açúcar (ou a gosto)
1 xícara de água

Modo de preparo
Para a mousse:
Coe a polpa dos maracujás. O líquido vai para a mousse e o que sobrar na peneira, para a calda.
Bata o creme de leite até espessar.
Bata claras em neve até ficarem bem firmes. Ainda batendo, junte 7 colheres de sopa de açúcar, depois o suco de maracujá, a gelatina dissolvida em água conforme as instruções da embalagem. Por último, incorpore o creme de leite batido à mistura.

Para o crocante:
Pique as nozes (ou bata nelas com um pilão dentro de um saquinho plástico até que fiquem esmigalhadas).
Derreta o açúcar, sem deixar ficar muito escuro. Jogue as nozes assim que o açúcar derreter e imediatamente despeje o caramelo (que estará muito quente!) sobre um tabuleiro. Quando esfriar, martele a placa doce para fazer o crocante.
Jogue um pouco sobre a mousse na hora de servir e sirva o resto à parte.

Para a calda:
Leve a fruta, o açúcar e um pouco de água ao fogo até formar a calda.
Sirva à parte.

Confira também o passo-a-passo em vídeo:


Para cozinhar mais:

Como fazer crocante de caramelo com nozes

Crocante caseiro de caramelo e nozes
No caderno de receitas minha mãe, este crocante finaliza a mousse de maracujá que adoçou o fim de inúmeras refeições em família. Azedinha e perfumada, mousse de maracujá é, na minha opinião, a única capaz de rivalizar com mousse de chocolate (que tem chocolate, então não preciso falar mais nada). Com a adição da doçura e da textura do caramelo, o doce de fruta fica ainda melhor (olha a competição aí, chocolate!). Mas a verdade é que qualquer sorvetinho de baunilha ganha graça com esta farofa crocante.

Teste número 65: crocante de caramelo
Fonte – Caderno de receitas da minha mãe.
Grau de dificuldade – Fácil.
Resultado – Uma cobertura lindona e saborosa para sorvetes e outros doces cremosos.

Ingredientes
1 punhado de nozes (ou castanhas, amendoins, macadâmias…)
1 xícara de açúcar
Manteiga para untar

Modo de preparo
Pique as nozes — você pode usar uma faca ou quebrá-las dentro de um saquinho plástico, batendo com um martelo ou um pilão.
Em uma panela, derreta o açúcar, sem deixar escurecer demais. Jogue as nozes picadas no açúcar derretido, mexa rapidamente e em seguida despeje em uma assadeira untada, formando uma camada fina. Lembre-se de que o açúcar fica muito quente, então tome cuidado.
Quando esfriar, martele o caramelo para triturá-lo e fazer a farofa.

Mousse de maracujá em xícara de brinquedo que foi da minha tia-avó
Mousse de maracujá em xícara de brinquedo que foi da minha tia-avó

Carolina recheada de mousse de camembert

Gougères com mousse de Camembert - Foto: Tadeu Brunelli
www.tbfoto.com.br

Tenho um relacionamento sério com queijo. Desde criança. Na minha lista de pratos favoritos, está a mousse de gorgonzola que minha mãe sempre servia com torradinhas em ocasiões especiais. Recentemente fui ao lançamento de uma campanha promocional dos queijos da Europa e conheci uma variação: mousse de camembert. Gostei da receita e do jeito de servir, recheando gougères, que são uma espécie de pão de queijo francês ou carolinas sabor queijo.

Abaixo, o passo a passo da mousse feita pelo chef Julien Mercier, do restaurante Le Bilboquet, de São Paulo. Você pode servir com torradinhas como fazia minha mãe, comprar carolinas prontas na padaria ou fazer sua próprias bolinhas de massa choux (achei uma receita aqui). Outra opção é rechear pão de queijo brasileiro mesmo – aliás, viu o post anterior com dicas do padeiro Rogério Shimura para fazer essa delícia?

Voltando à França. Indicação das boas para comprar queijos em Paris é a Barthélémyfromagerie que abastece a residência oficial do presidente da França. Em abril tive a oportunidade de me perder entre as produtos deliciosamente mofados dessa pequena loja em Saint-Germain-des-Prés. Depois, li que Charlotte Gainsbourg e Catherine Deneuve fazem o mesmo. Se tiver oportunidade, junte-se a elas.

Barthelemy Fromagerie, de Paris (foto: O Caderno de Receitas)

Queijos da Barthelemy Fromagerie de Paris (foto: O Caderno de Receitas)

Ingredientes
20 carolinas
200 gramas de queijo camembert
120 gramas de leite
120 gramas de creme de leite fresco
2 folhas de gelatina incolor sem sabor

Modo de preparo
Em uma panela, ferva o leite e o creme de leite. Corte o camembert em cubos e derreta-o na mistura líquida quente.

Adicione a gelatina e coe a mistura em sifão de chantilly. Deixe esfriar por uma hora na geladeira.

Use o sifão com a mousse para preencher as carolinas cortadas ao meio. 

Leia também:
10 coisas que aprendi sobre pão de queijo com Rogério Shimura

Pão de queijo da chef Helô Bacellar

Rollo de queijo, um mimo da mãe para o chef Checho Gonzales

Biscoitos de bom parmesão

Bolinhas de queijo da tia Ana (mãe da Fernanda)