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Um pudim de cada vez

Eu nunca tinha feito um pudim antes de começar o projeto de testar as receitas dos cadernos da minha mãe e da minha avó. Na verdade, não me lembro de ter visto alguém fazer um pudim (minha mãe deve ter cozinhado alguns, mas não acompanhei, ou não guardei na memória). Para cozinheiras experientes, preparar essa sobremesa que eu adoro provavelmente é fácil, mamão com açúcar. Mas eu penei para chegar a um resultado satisfatório. Fiz, refiz, pedi conselhos, refiz, gritei por socorro, refiz novamente. E aí deu certo. Para o bem da minha auto-estima.

Entre todos esses testes, aprendi alguns truques que não estão escritos nos cadernos de receitas. Se você também nunca fez um pudim, ou nunca fez um que deu certo, ou faz bons pudins mas acha que ainda pode aprender alguma coisa, siga-me.

9 fatos que aprendi ao fazer pudim

1. Ele exige tempo.
Depois de pronto, o doce deve passar pelo menos seis horas na geladeira antes de ser tirado da forma. Minha primeira tentativa, um desastre completo, já começou mal quando, munida de presunção e uma receita ultra-resumida do caderno da minha mãe, resolvi preparar a sobremesa de última hora, para um jantar com convidados. Mesmo se o creme não tivesse vazado no forno (ver item 2), o pudim não teria esfriado o suficiente, desmoronando na hora de desenformar.

2. Nem toda forma serve.
Eu sabia da existência de forma específica para pudim, com um furo no meio, mas não tinha uma em casa e arrisquei usar uma forma de fundo removível. No forno, parte do creme escapou e invadiu a água do banho-maria, criando uma meleca aromática e difícil de limpar sem entupir a pia. Depois, fiz testes em uma forma de alumínio própria para pudim e em miniformas de silicone. As duas versões funcionaram, mas a pequena fez mais sucesso com meu filho, que gostou de ver a sobremesa sair da forma direto para o pratinho dele.
Outra opção, sem a emoção de desenformar, é assar e servir o doce em tigelinhas individuais.

3. Açúcar queimado não é bem açúcar queimado.
Gosto de pudim nadando em calda. Fazê-la são outros quinhentos. Fui da rala e clara demais à queimada, meio amarga. Por fim, cheguei ao caramelo dourado dos meus sonhos. Seguindo orientação da Regina, diarista que faz a limpeza de casa e é uma supercozinheira, primeiro joguei uma xícara de açúcar em uma panela de fundo grosso. No fogo médio, fui mexendo até dourar (sem chegar a queimar de fato), então adicionei meia xícara de água (cuidado aqui, porque o açúcar fica muito quente, e o vapor também). Mexi mais até a água o açúcar se misturarem bem. Untei o interior da forma com a calda, lambuzando toda a superfície, e deixei um laguinho delicioso no fundo.

4. Cheiro de pudim assando é tão bom quanto pudim.
O que torna uma provação esperar horas para comer o doce.

5. Está pronto quando a parte de cima (que será o fundo) começar a mudar de cor.
Outro conselho da Regina, mencionada no item 3.

6. Papel-alumínio mantém o creme homogêneo.
Dica de Ana Paula Pontes, que aprendeu a fazer o doce com a mãe e hoje é dona da empresa Pudim a Gosto: cobrir a forma com papel-alumínio durante o cozimento evita a formação de uma crosta na superfície. Testei e deu certo.

7. O segredo para tirar da forma está no trio paciência, faca e fogão.
“Primeiro, jamais tente fazer isso com o pudim quente”, diz Ana Paula. “Depois, basta aquecer um pouco a forma em cima da chama do fogão, passar com firmeza uma faca sem serra em volta do doce, girar um pouquinho a forma de um lado para o outro, para que se desprenda, e, então, virar em um prato.” Atenção: o truque da chama não vale para utensílios de silicone que não devem ser colocados diretamente sobre o fogo.

8. Quebrou? Tem conserto.
Nem sempre dá certo. Acontece de a gente se esforçar e o pudim rachar mesmo. Tudo bem. Eu quero doce, não quero estresse. “Em vez de colocar a sobremesa inteira na mesa, sirva individualmente no prato com a calda por cima”, sugere Ana Paula.

9. Não sou bidu.
Eu já deveria saber, mas às vezes esqueço. A gente aprende vendo. Melhor ainda, aprende fazendo junto. Mas o que não aprendi em casa, com a minha mãe (que se dividia entre trabalhar fora e cuidar de três filhos), posso buscar em outras fontes: uma amiga, o marido, a diarista, um professor, a internet, um livro ou mesmo minha mãe, que está a um telefonema de distância.

E agora, vamos à receita, tirada do caderno da minha avó materna (o da minha mãe tinha uma parecida, mas sem o tchans do limão).

Teste número 36
Receita –
 Pudim de leite condensado com baunilha e raspas de limão.
Fonte – Caderno de receitas da minha avó Viquinha.
Grau de dificuldade – Médio (fácil depois que você aprende os macetes).
Resultado – Depois de algumas tentativas, fiz um pudim como deve ser: simples, aromático, doce, cremoso.

Ingredientes
1 lata de leite condensado
1 lata de leite de vaca (medido na lata de leite condensado)
4 ovos
Alguns pingos de extrato de baunilha
Raspas de um limão (pode ser substituído por uma laranja)
1 xícara de açúcar

Modo de preparo
Misture todos os ingredientes, exceto o açúcar, e bata bem. Reserve.

Mexendo sempre com uma colher de pau, derreta o açúcar em uma panela no fogo médio. Quando começar a dourar, junte meia xícara de água (com cuidado, porque o açúcar fica muito quente). Continue a mexer até criar uma calda homogênea.

Use a calda para untar uma forma para pudim e despeje o resto no fundo da forma. Cubra com o creme feito com os outros ingredientes.

Coloque a forma de pudim sobre uma tigela preenchida com água, para cozinhar em banho-maria. Cubra a forma de pudim com um pedaço de papel-alumínio. Leve ao forno a 180ºC. Quando a superfície começar a mudar de cor, faça um teste enfiando um palito na massa. Se sair seco, está pronto (no meu forno, isso demorou cerca de uma hora. Talvez eu pudesse ter cozinhado um tiquinho menos).

Deixe o pudim na geladeira por pelo menos seis horas.

Na hora de desenformar, aqueça um pouco o fundo da forma na chama do fogão. Passe uma facas nas laterais. gire a forma de um lado para o outro e então vire-a sobre um prato grande o suficiente para comportar toda a calda. Se for preciso, dê batidinhas no fundo da forma até o doce se soltar.

Para cozinhar mais:

Mariana Weber

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Mariana Weber
Tags: baunilhadoceleiteleite condensadolimãopudimPudim a GostoReginasobremesa

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