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Salve o pavê. E abaixo o tio do pavê

Essa sobremesa clássica (aqui, na versão com abacaxi) é gostosa como almoço em família, mas menos complicada

Montagem de pavê de abacaxi - O Caderno de Receitas

Sou contra a piada do pavê. Você sabe, aquela, “é pavê ou pra comê?”. Desconfio que ela seja responsável pelo declínio dessa sobremesa, que já foi presença obrigatória em qualquer festa bem alimentada e aos poucos perdeu espaço nas celebrações. Comida de velho, fui obrigada a ouvir recentemente. Também, é raro, raríssimo, ver o doce apresentado à mesa sem que alguém solte o mesmo velho gracejo. E basta ouvi-lo para a saliva secar um pouquinho — por sorte, a tigela de cremes, frutas e açúcares está ali, ao alcance da colher, para amansar olhos virados de constrangimento.

Uma bobagem abandonar o pavê. Porque um bom pavê é como um bom almoço de família. Reconfortante, descontraído, doce sem medo de cair no enjoativo, gostoso sem pretensão. É caseiro, mas muitas vezes leva leite condensado, que é uma intromissão da indústria, mas ninguém mais lembra. Tem camadas que se misturam, viram outra coisa quando juntas. Cansa, às vezes. Em outras, é tudo que a gente quer — se servir direto da tigela, raspar o prato, repetir, falar bobagem em terreno conhecido (sem medo de virar o tio do pavê).

A grande diferença é que pavê é descomplicado – o que família raramente é. Mais um motivo para abraçar o doce.

Preparei a receita abaixo, de pavê de abacaxi, com minha mãe nas festas de fim de ano (e na correria, não fiz foto melhor; me desculpe). Minha mãe, por sua vez, aprendeu com uma tia, que também usa o creme de abacaxi para rechear bolos. Bolo que lembra festa, que lembra mutirão em família… Mas essa já é outra história. Quanto à do pavê, resolvi pesquisar. No livro Básico. Enciclopédia de Receitas do Brasil, de Ana Luiza Trajano, li que o doce virou moda décadas atrás e que o nome vem de pavage, pavimento em francês. Já no jornal Metrópole, descobri a existência de “paveterias” – não gosto da nova palavra, que parece colocar a sobremesa caseira na mesma onda das paleterias, comidarias, marmitarias e outras “coisarias” que têm pipocado por aí, mas aprecio a iniciativa. Fica, pavê. Viva a comida de vó!

Teste número 83: pavê de abacaxi
Fonte – Minha mãe, a partir de uma receita de uma tia-avó.
Grau de dificuldade – Fácil.
Resultado – Gostoso feito almoço de família – e a sobra do dia seguinte fica ainda melhor.

Ingredientes
1 abacaxi
6 colheres (sopa) de açúcar
1 lata de leite condensado
1 lata de leite (medida na lata do leite condensado)
4 ovos (com gemas e claras separadas)
1 lata de creme de leite
Biscoito tipo champanhe
Rum ou outra bebida (opcional)
Raspas de casca de 1 limão

Modo de fazer
Corte o abacaxi em cubinhos. Cozinhe com duas das colheres de açúcar até o abacaxi mudar de cor. Reserve.

Com o fogo desligado, misture em uma panela o leite condensado, o leite e as  gemas, colocadas uma a uma. Ligue o fogo baixo e siga mexendo até começar a engrossar, fazendo um creme homogêneo. Então desligue o fogo imediatamente. Leve à geladeira.

Com uma peneira ou um escorredor, separe a fruta e a calda. Reserve ambas.

Misture o creme de leite ao creme de gemas frio. Depois, junte ao creme os pedaços de abacaxi.

Faça o suspiro: bata as claras até firmarem e, ainda batendo, acrescente quatro colheres de açúcar.

Em uma tigela, disponha as camadas:

      • creme;
      • biscoito embebido na calda de abacaxi (ou na calda misturada a um pouco de rum);
      • creme;
      • biscoito embebido na calda de abacaxi (ou na calda misturada a um pouco de rum);
      • creme;
      • suspiro salpicado com raspas de limão.

Leve à geladeira para firmar.

Para cozinhar mais:

 

Pavê de morangos e creme de limão – as voltas que a gente dá

Pavê de morangos com creme de limão - O Caderno de Receitas

Aproveito o Dia dos Avós para publicar uma receita que passou dos cadernos da minha avó para o da minha mãe, avó do meu filho. Ao lado da receita, minha avó anotou: Curitiba, cidade onde viveu na juventude, e para onde voltou na velhice. Eu, de São Paulo, liguei para tirar dúvidas com minha mãe, atualmente em Vitória — não entendi bem a sugestão de decoração, com biscoitos enfileirados e pingos de chantilly, mas no fim achei que seria mais simpático enfeitar só com um par de morangos frescos. Nas minhas mãos, cópias dos cadernos, já que os originais ficam até setembro em uma exposição do Museu da Imigração, ao lado de outros objetos de minha avó materna, neta de espanhol.

Preparei a torta para o almoço de aniversário da filha do meu marido, que recentemente se mudou para Brasília mas veio a São Paulo comemorar a data com parentes e amigos. À mesa, antes da sobremesa, pratos coreanos, que ela adora porque adora, e não por herança familiar. Aliás, minha sogra, de origem italiana, há pouco aprendeu com a neta a gostar de comida coreana; também gostou do pavê de morangos da minha família (e acho que o resto da turma gostou igualmente, porque o doce sumiu em minutos).

Em Curitiba, São Paulo, Vitória, Brasília, Madrid, Milão ou Seul, há gostos e laços que nascem ou crescem com a gente, outros a gente cria ao longo da vida. Aos 22 anos ou aos 88. Como é bom poder celebrá-los em torno da mesa, com boa comida e em boa companhia.

Se você chegou até aqui, saiba que a receita de pavê de morango, detalhada abaixo, é bem mais simples e direta do que toda essa história.

Teste número 82: torta de morangos
Fonte – Cadernos de receitas da minha avó Viquinha e da minha mãe, Amanda.
Grau de dificuldade – Muito fácil.
Resultado – Morango e creme de limão formam uma dupla e tanto nesse pavê que estava anotado como torta nos cadernos de receitas da minha família.

Ingredientes
½ xícara de leite
½  xícara de vinho do porto ou moscatel
1 pacote de biscoitos champanhe
1 lata de leite condensado
3 limões
500 gramas de morangos

Modo de preparo
Misture o leite e o vinho para molhar os biscoitos.

Faça um creme batendo o leite condensado e o suco dos limões, até firmar.

Fatie os morangos (separe dois inteiros para a decoração).

Em uma travessa, disponha 4 camadas:

1ª – Biscoitos molhados na mistura de leite e vinho.

– Metade do creme de limão.

3ª – Morangos fatiados (foto).

Montagem de pavê de morangos - O Caderno de Receitas

4ª – O restante do creme de limão.

Enfeite com os morangos inteiros e leve à geladeira.

Mais: salve suas receitas de família na Loja O Caderno de Receitas.

Biscoito champanhe caseiro

Biscoito champanhe

Meu próximo pavê será feito com biscoitos champanhe caseiros em vez daqueles industrializados (que eu já adoro, desde criança). A receita vem do goU, aplicativo da escola de gastronomia Atelier Gourmand que reúne mais de 3 mil receitas, livros digitais e aulas-vídeos.

Com colaboração de chefs como Alex Atala, Erick Jacquin e Fabrice le Nud, o app cobra mensalidade para acesso completo, mas parte do material está aberta no site gou.cooking, incluindo vídeos que detalham de métodos de preparo de legumes a diferentes modos de fazer merengue.

Biscoito champanhe
Ingredientes
12 gemas
8 ovos grandes
600 gramas de açúcar
750 gramas de farinha de trigo
1 colher (chá) de essência de baunilha
50 gramas de açúcar cristal, para polvilhar

Preparo
Coloque na batedeira as gemas, os ovos e o açúcar e bata por 20 minutos.  Transfira para uma tigela grande, junte a farinha de trigo e a baunilha e misture manualmente. Unte assadeiras próprias para biscoito champanhe e pingue a massa usando uma manga de confeitar e bico liso. Polvilhe o açúcar cristal sobre os biscoitos e leve ao forno pré-aquecido a 200 °C por cerca de 35 minutos ou até estarem bem corados.

Foto: divulgação.

Me refresca que eu gosto (3 doces gelados)

Nem só de sorvete são feitas as sobremesas de verão. Enquanto eu derretia em uma tarde calorenta em São Paulo, montei esta pequena seleção de doces gelados já publicados no blog.

Gelatina de laranja

ingredientes para gelatina de laranjaIngredientes
5 folhas de gelatina sem sabor
5 laranjas
½ xícara de água
Açúcar a gosto (eu não coloquei nada, mas a receita pedia, e acho que a maior parte das pessoas vai preferir adoçar um pouco)

Modo de preparo
Pique a gelatina e misture com 5 colheres de sopa de água.

Esprema as laranjas.

Junte o restante da água à gelatina e leve em uma panela ao fogo baixo até dissolver, sem deixar ferver. Tire do fogo e junte o suco de laranja.

Passe o líquido por uma peneira e em seguida o distribua em forminhas de silicone. Deixe na geladeira até firmar (eu deixei seis horas).

Na hora de desenformar, passe com cuidado uma faca nas laterais das formas, então as vire sobre pratinhos e aperte um pouco para soltar os doces.

Pavê de chocolate

Pavê de chocolateIngredientes
3 colheres bem cheias de manteiga
250 gramas de açúcar
5 gemas
3 colheres de cacau em pó
Biscoitos tipo champanhe
Vinho de sobremesa

Modo de preparo
Misture bem a manteiga, o açúcar, as gemas e o cacau até formar um creme.

Para montar o doce, espalhe uma camada do creme no fundo de uma tigela. Em seguida, mergulhe rapidamente os biscoitos no vinho, disposto em um prato de sopa, e faça uma camada de biscoitos sobre a de creme. Faça então mais uma camada de creme, mais uma de biscoitos embebidos em vinho e mais uma de creme.

Coloque a tigela no congelador por cerca de uma hora (para acelerar o processo) e depois a desça para uma prateleira da geladeira e a deixe ali até a hora de servir.

Creme de morango

creme de morango

Ingredientes
2 caixinhas de morangos (cerca de 500 gramas)
100 gramas de açúcar
250 ml de leite frio
125 ml de creme de leite fresco

Modo de preparo
Lave bem os morangos, corte as folhas e os amasse bem com um pilão. Mistur a fruta com o açúcar e deixe a infusão na geladeira por uns 20 minutos.

Passe a fruta amassada por uma peneira, espremendo bem. Reserve a polpa que sobrou para fazer uma geleia mais tarde.

Junte o leite e o creme de leite à fruta e misture tudo. Volte um pouco o doce à geladeira para ficar bem refrescante e depois sirva em taças de bebida.

 

Pavê muito simples de chocolate

Pavê de chocolate

Eu queria uma sobremesa simples, mas esta era tão simples que eu fiquei até encucada. Será que não está faltando alguma coisa? Na manhã de sábado, ansiosa porque queria preparar o doce a tempo de servi-lo para convidados no almoço (com emoção é mais gostoso, né?), liguei para a minha mãe em busca de ajuda. Apesar de a receita estar anotada no caderno dela e no da minha avó, minha mãe não se lembrava da preparação. “Hum, não leva nenhum creme de leite mesmo?”, ela perguntou, jogando mais lenha na minha insegurança. Mas depois me encorajou: “Tenta, filha, vai ver que é assim mesmo”.

Tentei. Ao misturar os ingredientes, consegui uma espécie de gemada com chocolate. Ainda em dúvida se aquilo daria certo, corri até a esquina e comprei um pote de sorvete. Mas nem precisava. Algumas horas depois, gelado, meu doce ganhou consistência. Eu tinha um pavê. O sabor do creme de chocolate, que antes de ir à geladeira eu tinha achado muito “ovado”, ficou mais suave, combinando bem com os biscoitos embebidos em vinho (e melhor ainda quando eu o provei com uma conserva de cerejas em vodca feita pelo meu marido).

Ingredientes
3 colheres bem cheias de manteiga
250 gramas de açúcar
5 gemas
3 colheres de cacau em pó (a receita pedia chocolate, mas eu tinha cacau em pó sem açúcar, orgânico, e resolvi usar. Funcionou, porque esse doce realmente não precisava ser mais doce)
Biscoitos tipo champanhe
Vinho de sobremesa (moscatel, no original. Eu usei um restinho de vinho Samos, grego, e completei com um pouco de Porto).

Modo de preparo
Misturei bem a manteiga, o açúcar, as gemas e o cacau até formar um creme (mas acho que podia ter até misturado mais, porque a textura ficou um pouco granulada).

Para montar o doce, espalhei uma camada do creme no fundo de uma tigela. Em seguida, mergulhei rapidamente os biscoitos no vinho, disposto em um prato de sopa, e fiz uma camada de biscoitos sobre a de creme. Fiz então mais uma camada de creme, mais uma de biscoitos embebidos em vinho e mais uma de creme.

Coloquei a tigela no congelador por cerca de uma hora (para acelerar o processo) e depois a desci para uma prateleira da geladeira, onde a deixei até a hora de servir.