Tag: sequilho

Sequilho de araruta com coco – do caderno da avó para a lancheira do filho

Sequilhos de araruta com coco (foto: O Caderno de Receitas)

Polvilho de araruta é um ingrediente farto nos cadernos de receita da minha avó materna, mas raro no mercado. Por que um alimento assim cai em desuso? É leve, é local, tem fácil digestão, estava incorporado ao receituário das casas. Mas a indústria preferiu investir em outras farinhas, como trigo, mandioca e milho. Assim, aos poucos, a araruta sumiu dos biscoitos, dos mingaus, dos bolos, da memória e das roças.

Quer dizer, quase sumiu. Procurando bem, ainda se encontra – em São Paulo, já comprei no Mercado de Pinheiros e vi mudas à venda na feira orgânica do Parque da Água Branca.

É do rizoma (caule que nasce dentro da terra) que se extrai o amido alvo e fino da araruta. Seu uso já foi tradicional na confeitaria brasileira, mas sua história é bem anterior aos cadernos da minha avó.

Segundo o livro Arca do Gosto no Brasil, lançado pelo movimento Slow Food (e de que já falei aqui), a planta, originária da América do Sul, é cultivada há mais de 7 mil anos e costumava ser usada por povos indígenas da Amazônia para engrossar sopas. Já o livro Plantas Alimentícias não Convencionais PANC no Brasil diz que a planta é nativa da América Central, mas naturalizada em todo o território brasileiro. De uma forma ou de outra, é coisa nossa.

Neste sequilho, a araruta se mistura a outro alimento tradicional da nossa cozinha, o coco (que dupla!). Mexi nas quantidades dos ingredientes, porque eram imprecisas na receita original e porque senti que a massa precisava de mais gordura. Assim, adaptado, o biscoito migrou das anotações da minha avó Viquinha para a lancheira do meu filho.

Teste número 87: sequilho de araruta
Fonte –
 Caderno de receitas da Vó Viquinha.
Grau de dificuldade – Médio (se você comprar o coco já descascado, é fácil).
Resultado – Um bom biscoitinho para acompanhar o café ou compor um lanche.

Ingredientes
500 gramas de amido de araruta
125 gramas de manteiga
125 gramas de açúcar
½ coco
2 ovos
3 colheres (sopa) de farinha de trigo

Modo de preparo
Se você comprar o coco inteiro, com casca, vai precisar quebrá-lo e ralar a polpa. (Essa é a parte mais chatinha da receita; se puder comprar o coco já descascado, facilita muito, mas não compre coco ralado industrializado: a umidade e o sabor são outros.) Para quebrar o coco, leve-o por cerca de 20 minutos ao forno pré-aquecido a 220 ºC, para que rache. Em seguida, com um martelo, dê batidas moderadas na superfície do coco para que a casca mais externa se solte da polpa. Finalize o trabalho com uma faca, retirando cuidadosamente a casca mais fina que fica grudada à polpa.

Reserve metade do coco para outras receitas. Rale a outra metade ou a triture no processador.

Misture o coco ralado aos demais ingredientes. Você deve obter uma massa quebradiça, mas possível de moldar.

Molde bolinhas com o equivalente a 1 colher de chá de massa cada e disponha-as em assadeiras untadas. Você vai obter cerca de 120 bolinhas.

Pressione cada uma das bolinhas com um garfo, para amassá-las e criar um relevo ondulado na superfície.

Asse os sequilhos no forno pré-aquecido a 180 ºC até firmarem (algo em torno de 15 a 20 minutos).

Para cozinhar mais:

Sequilho de araruta (ou a história do biscoito dos 7 erros)

Minha mãe me disse que na adolescência sempre assava estes biscoitos de araruta, muito simples de preparar. Pois para mim a receita pareceu encantada. Tudo o que eu tentava fazer dava errado.

Acabei acertando a mão, então publico o passo a passo no fim do post.  Antes, porém, vamos aos meus tropeços:

Erro número 1 – Acreditar que encontraria farinha de araruta facilmente em São Paulo.
Entrei em um, entrei em dois, entrei em três, entrei em quatro, entrei em cinco mercados. Nada. Em um deles, o atendente me olhou entre pasmo e ofendido quando perguntei pelo item. Desisti de fazer o biscoito naquele dia. Só iria encontrar a tal farinha semanas depois, em um box do mercado de Pinheiros. Em tempo: araruta é uma planta da América do Sul cuja fécula já foi muito usada e, segundo minha mãe, podia ser achada em qualquer supermercado, junto com o amido de milho e o polvilho de mandioca.

Erro número 2 – Tentar dividir a receita (ou ser desatenta, você decide qual é a questão).
Meio quilo de farinha de araruta me pareceu muita coisa. Resolvi fazer tudo pela metade. Em vez de três ovos, usaria um e meio. Só que, na hora de despejar as gemas na mistura, me distraí e joguei duas.

Erro número 3 – Não checar se tinha todos os ingredientes à mão na quantidade necessária.
Que mal meia gema a mais faria? Meu primeiro impulso foi seguir em frente, até porque o tamanho dos ovos varia. Mas pensei de novo e decidi completar as quantidades para fazer a receita inteira. Mais araruta, mais farinha, mais gema, mais manteiga. Ops, acabou a manteiga?!

Erro número 4 – Insistir no erro (ou ter preguiça de voltar ao supermercado).
Eu quase tinha a quantidade de manteiga necessária. Misturei os ingredientes e percebi que a massa estava um pouco seca, difícil de moldar. Mas quem sabe vai, né? Montei discos meio mequetrefes, untei uma forma com óleo e segui em frente.

Erro número 5 – Exagerar na decoração.
Meu marido tinha jogado fora um resto de goiabada que morava na minha geladeira. Um resto que seria suficiente para esta receita, a qual pede apenas um tiquinho do doce no alto de cada biscoito. Comprei um tijolão novo de goiabada só para fazer os biscoitos e caprichei na quantidade desse ingrediente – pena que ele grude um tanto no dente depois de assado.

Erro número 6 – Não separar todos os ingredientes que serão usados na receita.
Os biscoitos já estavam no forno quando me dei conta: “Esqueci de colocar a baunilha!”.

Erro número 7 – Resolver a vida enquanto os biscoitos estão no forno.
Uns minutinhos de distração e o fundo deles começou a escurecer.

Depois dessa sequência de tropeços, o resultado ficou melhor do que eu esperava. Um tanto quebradiço, com jeito de sequilho. Meu filho viu, quis experimentar e aprovou, então já valeu (ele só reclamou um pouco quando um troço de goiabada grudou em um dente, mas depois a gente vê isso com a dentista).

Guardei um tanto da massa na geladeira para assar no dia seguinte. Com uma colherada extra de manteiga, pedaços menores de goiabada e mais atenção no tempo de forno, os biscoitos ficaram bem melhores. A receita desencantou (mas outro dia ainda vou tentar fazê-la direitinho do começo ao fim).

Depois de um acerto aqui e outro ali, os biscoitos de araruta saíram - e ficaram bons!

Biscoitos de araruta

Ingredientes
½ quilo de araruta
250 gramas de farinha de trigo
250 gramas de açúcar
1 colher de sopa de fermento químico
250 gramas de manteiga
3 ovos (as claras em neve)
Gotas de extrato de baunilha (a gosto)
Raspas de casca de limão (opcional)
Pedaços de goiabada (ou goiabada cremosa)

Modo de fazer
Misture os ingredientes secos. Junte a manteiga e amasse tudo com as mãos. Adicione também as gemas, a baunilha e as raspas de limão e amasse mais. Por último, acrescente as claras batidas em neve.

Faça bolinhas e amasse para moldar pequenos discos. Coloque-os em uma assadeira untada. Sobre cada um deles, posicione um pedacinho de goiabada ou um pouco de goiabada cremosa.

Asse em forno baixo.