Categoria: Da minha família

Receitas dos cadernos da minha mãe e da minha avó materna.

Pavê muito simples de chocolate

Pavê de chocolate

Eu queria uma sobremesa simples, mas esta era tão simples que eu fiquei até encucada. Será que não está faltando alguma coisa? Na manhã de sábado, ansiosa porque queria preparar o doce a tempo de servi-lo para convidados no almoço (com emoção é mais gostoso, né?), liguei para a minha mãe em busca de ajuda. Apesar de a receita estar anotada no caderno dela e no da minha avó, minha mãe não se lembrava da preparação. “Hum, não leva nenhum creme de leite mesmo?”, ela perguntou, jogando mais lenha na minha insegurança. Mas depois me encorajou: “Tenta, filha, vai ver que é assim mesmo”.

Tentei. Ao misturar os ingredientes, consegui uma espécie de gemada com chocolate. Ainda em dúvida se aquilo daria certo, corri até a esquina e comprei um pote de sorvete. Mas nem precisava. Algumas horas depois, gelado, meu doce ganhou consistência. Eu tinha um pavê. O sabor do creme de chocolate, que antes de ir à geladeira eu tinha achado muito “ovado”, ficou mais suave, combinando bem com os biscoitos embebidos em vinho (e melhor ainda quando eu o provei com uma conserva de cerejas em vodca feita pelo meu marido).

Ingredientes
3 colheres bem cheias de manteiga
250 gramas de açúcar
5 gemas
3 colheres de cacau em pó (a receita pedia chocolate, mas eu tinha cacau em pó sem açúcar, orgânico, e resolvi usar. Funcionou, porque esse doce realmente não precisava ser mais doce)
Biscoitos tipo champanhe
Vinho de sobremesa (moscatel, no original. Eu usei um restinho de vinho Samos, grego, e completei com um pouco de Porto).

Modo de preparo
Misturei bem a manteiga, o açúcar, as gemas e o cacau até formar um creme (mas acho que podia ter até misturado mais, porque a textura ficou um pouco granulada).

Para montar o doce, espalhei uma camada do creme no fundo de uma tigela. Em seguida, mergulhei rapidamente os biscoitos no vinho, disposto em um prato de sopa, e fiz uma camada de biscoitos sobre a de creme. Fiz então mais uma camada de creme, mais uma de biscoitos embebidos em vinho e mais uma de creme.

Coloquei a tigela no congelador por cerca de uma hora (para acelerar o processo) e depois a desci para uma prateleira da geladeira, onde a deixei até a hora de servir.

Bolinhas de queijo da tia Ana (mãe da Fernanda)

Biscoito caseiro de queijo

Cresci em São Paulo, mas tive a sorte de morar em uma vila onde as crianças circulavam à vontade e entravam sem cerimônia nas casas umas das outras, muitas vezes deixadas com as portas destrancadas. Uma coisa meio hippie. Lá aprendi a andar de bicicleta, fiz viagens imaginárias de mapa-múndi na mão e mochila nas costas, admirei fogueiras de festa junina, montei espetáculos teatrais, joguei queimada (para ser mais precisa, perdi jogos de queimada), dancei em bailinhos e dei meu primeiro beijo (shhh! Não espalha!). Também fiz grandes amigos, que deixei de encontrar com frequência quando, adolescente, saí da cidade, mas que estarão sempre ligados às lembranças de um período delicioso da minha vida.

Minha melhor amiga era a Fernanda, uma menina doce e tranquila, que zelava por mim, a mais nova da turma (os pirralhos dos meus irmãos e dos amigos deles não contavam). A Fê era o máximo. À noite, se eu tinha medo de atravessar sozinha o pátio entre os sobrados para voltar para casa, principalmente depois de ver um filme de terror, ela se oferecia para me acompanhar. Estudava em um colégio alemão e tinha lições de casa indecifráveis! E, como eu, gostava de ler e escrever. Trocamos cartas logo depois que me mudei para Vitória. Hoje professora, ela me contou ter usado nossa correspondência como exemplo para tentar explicar a seus alunos, crianças, que as pessoas algum dia já se comunicaram por cartas.

Recentemente, lendo os cadernos de receita da minha família, achei curioso como eles funcionavam feito redes sociais. Minha avó anotava o passo a passo de um prato supimpa feito por uma conhecida, testava a preparação, acrescentava um comentário aqui e uma dica de outra amiga ali e então passava a novidade para a frente. Lembrei disso quando vi a receita abaixo anotada no caderno da minha mãe como “Bolinhas de queijo (Ana)”. Ana, amiga da minha mãe, é mãe da Fernanda, minha melhor amiga na vila. No meu caderno (este blog), as bolinhas viraram “Bolinhas de queijo da tia Ana (mãe da Fernanda)”, porque assim faz mais sentido para mim.

Reflexões à parte, esta receita é simples que só e fica uma delícia com um café da tarde.

Ingredientes
1 xícara e meia de farinha de trigo
1 xícara de manteiga (o original levava margarina, mas substituí)
1 xícara bem cheia de queijo ralado (usei gruyère, porque minha geladeira está cheia desse queijo, comprado em uma promoção, mas geralmente usaria parmesão)

Modo de preparo
Misturei tudo com as mãos até formar uma massa uniforme. Dividi a massa em bolinhas (e algumas “minhocas”, para o meu filho) e as levei ao forno pré-aquecido a 200ºC em uma assadeira (nem precisa ser untada).

Biscoito de queijo em forma de minhoca
Para as crianças, minhocas de queijo

Mousse de chocolate amargo da tia Carmen

Mousse de chocolate: uma receita clássica francesa

Mousse de chocolate está entre as minhas sobremesas preferidas da vida. É simples, é doce, tem chocolate. Esta receita, anotada no caderno da minha mãe, vem de minha tia-avó francesa que mora em Atibaia (SP). Resolvi cozinhá-la para o Natal porque a preparação me pareceu bem simples e tudo o que eu não queria era complicar a ceia (a maior dificuldade foi encontrar espaço no congelador para colocar a tigela).

Não publiquei o passo-a-passo antes porque viajei em 25 de dezembro, aproveitei muita praia e só agora estou volta à rotina. Então, com alguns dias de atraso, feliz 2015 e boa mousse de chocolate para você!

Ingredientes
300 gramas de chocolate amargo
3 colheres de sopa de água
5 ovos (gemas e claras separadas)
½ xícara de açúcar
1 colher de chá de extrato de baunilha

Modo de fazer
Coloquei o chocolate (quebrado em quadradinhos) e as colheres de água em uma tigela e dissolvi em banho-maria. Enquanto isso meu marido, parceiro na receita, bateu as gemas com o açúcar até fazer uma gemada clara e fofa.

Em uma tigela grande, batemos a gemada, o chocolate derretido e o extrato de baunilha. Por fim, acrescentamos as claras, batidas em neve, e misturamos delicadamente com uma espátula, para o creme manter-se aerado.

Colocamos imediatamente a tigela no congelador e a deixamos lá por duas horas. Depois, baixamos o doce para a geladeira até a hora de servir.

Bolo (ou bolinho) natalino coberto de maçãs — melhor que panetone

Testei e aprovei o bolo de Natal do caderno de receitas da minha avó Viquinha
Testei e aprovei o bolo de Natal do caderno de receitas da minha avó Viquinha

Neste ano nem comprei panetone. Preferi testar o bolo de Natal do caderno da minha avó Viquinha. E vou dizer: é muito melhor que qualquer panetone que eu já tenha provado. Até meu marido, que não é lá muito fã de frutas cristalizadas, aprovou. Ajudou o fato de ele ter escolhido as frutinhas do recheio: uvas passas, mirtilos (blueberries) e cerejas secos e maçãs cristalizadas.

Com a receita abaixo, fiz um bolo grande e vários bolinhos. Infelizmente, acho que exagerei na quantidade de massa despejada na versão maior — ao crescer, o bolo forçou as laterais da forma retangular de silicone e ficou meio explodido. Já os bolos pequenos, assados em formas de cupcake, saíram perfeitos.

Ingredientes
200 gramas de açúcar
4 gemas
125 gramas de manteiga
1 colher de chá de extrato de baunilha
1 xícara de leite
½ quilo de farinha de trigo
1 colher de sopa bem cheia de fermento químico
1 pires de uvas passas e frutas cristalizadas picadas (eu usei uvas passas, mirtilos e cerejas secos e maçãs cristalizadas)
4 claras em neve
Manteiga para untar
2 maçãs cortadas em fatias finas
Açúcar e canela para polvilhar

Modo de fazer
Coloquei na batedeira o açúcar, as gemas e a manteiga e bati bem. Depois, ainda batendo, acrescentei a baunilha e, aos poucos, o leite, a farinha e, por fim, o fermento. Acrescentei então as frutas cristalizadas. Por último, juntei as claras em neve e mexi com uma colher para incorporá-las à massa.

Despejei a mistura em formas untadas (aconselho a não enchê-las demais, não passando da metade de cada forma). Cobri a massa com as fatias de maçã e por cima polvilhei açúcar e canela. Assei em forno médio alto (200ºC).

Biscoitos de mel para dar de lembrancinha no Natal

Tirei a receita dos biscoitos de mel com especiarias do caderno da minha avó materna
Tirei a receita dos biscoitos de mel com especiarias do caderno da minha avó materna

Minha batedeira foi pro brejo, mas me diverti hoje à tarde fazendo fornadas e mais fornadas de biscoito de mel. Uma parte deles, devidamente empacotada, vou distribuir como lembrancinha de Natal. O resto está em potes de vidro no armário de casa, aguardando ser atacada por toda a família – não vejo a hora de mostrar os formatos de estrela, lua e boneco de neve para o meu filho, que está ansioso pela guloseima desde ontem.

A receita vem do caderno de receitas da minha avó Etelvina, a vó Viquinha. É simples, mas não vou dizer que é muito fácil. Para começar, as quantidades dos ingredientes são longe de exatas: a consistência do mel e o tamanho dos ovos vão ditar quanto de farinha precisa entrar para equilibrar a mistura. Na minha primeira tentativa, coloquei farinha de menos e não pude moldar formas bonitinhas: o máximo que consegui foram discos gordinhos (gostosos, a propósito).

À medida que eu acrescentava mais farinha, a massa ia ficando mais consistente e a minha batedeira ia perdendo a força. O trabalho foi demais para ela. Portanto, se você não tem uma batedeira poderosa, melhor dividir a massa e ir batendo aos poucos e/ou prestar bastante atenção nas reações da máquina para não forçar a barra.

O desafio seguinte foi o forno. Os biscoitos assam rapidinho e, com uma bobeada, queimam embaixo. Eu fiz isso na primeira fornada, depois fiquei mais atenta.

Um exército de biscoitos prontos para entrar no forno
Um exército de biscoitos prontos para entrar no forno

Por fim, veio a hora de confeitar com glacê. Minhas primeiras tentativas de decorar os biscoitos de 3 centímetros foram aflitivamente demoradas e mal-acabadas. Hoje eu realmente não tive tempo nem paciência para decorar todos. Em outras palavras, desisti. Fica para a próxima, de preferência com biscoitos maiores. Até porque gostei da simplicidade dos pequeninos que fiz hoje (tomara que o filhote também goste!).

Biscoitos de mel

Ingredientes
250 gramas de manteiga
250 gramas de açúcar mascavo
5 ovos batidos ligeiramente
500 gramas de mel grosso (eu usei um fino e tive que colocar mais farinha)
750 gramas de farinha de trigo
1 xícara de leite
10 gramas de fermento químico
10 gramas de canela em pó
10 gramas de cravo em pó (achei exagerado, então usei menos que isso: umas 3 pitadas)
10 gramas de noz-moscada (também usei menos que isso)

Modo de fazer
Na batedeira, misturei a manteiga e o açúcar, depois juntei os ovos e, em seguida, os outros ingredientes.

Guardei a massa na geladeira durante a noite (mas você pode deixar menos, uns 30 minutos ou até ela endurecer um pouco).

Como a receita do caderno da minha avó não explicava como moldar as bolachas, segui instruções do livro Feito com Carinho (Publifolha). Em uma superfície enfarinhada, estiquei a massa com um rolo também enfarinhado até deixá-la com uns 5 milímetros de espessura. Enfarinhei também os cortadores de biscoito e moldei os formatos.

Coloquei os biscoitos em tabuleiros forrados com papel-manteiga, deixando espaço entre eles, e os assei em forno médio (200ºC).

Para cozinhar mais: