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Bacalhau para a semana toda

Bacalhau espiritual: esse prato português é divino e rende um bocado
Bacalhau espiritual: esse prato português é divino e rende um bocado

Casa com pouca gente tem dessas coisas. Você pega uma receita, divide pela metade e mesmo assim faz mais do que precisava. Quando a comida é do tipo que perde muito quando requentada, dá uma pena danada. Outras, dá uma felicidade, porque isso significa repetir aquela refeição gostosa uma vez, duas vezes, três vezes…

Foi, ou melhor, tem sido assim com o bacalhau espiritual que preparei na sexta à noite. Já alegrou três refeições, acompanhado de batatas assadas, espinafre refogado e tomate. Agora vai para o congelador até ser requisitado novamente – certamente será.

Tirei a receita do caderno da minha mãe, e, segundo ela, minha avó também costumava fazê-la. No livro “As Minhas Receitas de Bacalhau”, o chef português Vítor Sobral conta que o bacalhau espiritual, inspirado no prato francês brandade de morue, surgiu em 1947, no Cozinha Velha, restaurante de luxo instalado no Palácio Nacional de Queluz

A preparação não tem muito erro, só dá um certo trabalho cortar fininho as cenouras e desfiar o bacalhau. Para facilitar, você pode ralar a cenoura ou usar um processador. Outra opção é encarar a tarefa como terapia relaxante. Não tem um monte de gente pagando para esquecer da vida enquanto pinta livros de colorir?

Teste número 35
Receita:
bacalhau espiritual.
Fonte: caderno de receitas da minha mãe.
Grau de dificuldade: médio (mas você pode usar atalhos, como um processador, para ficar fácil).
Resultado:
 gostoso, gordo e reconfortante.

Bacalhau espiritual

Ingredientes*
750 gramas de cebola
750 gramas de cenoura
350 gramas de miolo de pão de forma
250 ml de leite
1 quilo de bacalhau (comprei o já dessalgado, congelado)
200 ml de azeite
Sal
Pimenta-do-reino
Noz-moscada
250 ml de creme de leite
100 gramas de queijo parmesão ralado (ou outro queijo duro. Eu tinha um português)
*Usei metade de tudo

Modo de preparo
Fatiei a cebola em rodelas finas e cortei as cenouras em tiras. Embebi o miolo de pão no leite. Cozinhei o bacalhau, já descongelado, por 10 minutos em água fervente. Depois, esperei esfriar um pouco e o desfiei, aproveitando para tirar os espinhos.

Dourei a cebola no azeite até deixá-la transparente. Acrescentei a cenoura e refoguei um pouco mais, depois juntei o miolo de pão (com o leite). Mexi bem. Adicionei o bacalhau e os temperos (sal, pimenta e noz-moscada) e mexi mais.

Coloquei essa massa em um pirex, junto com creme de leite, e misturei. Deixei no forno médio até o creme ferver, alguns minutos depois. Então retirei, joguei por cima o queijo ralado e coloquei de volta no forno por mais dez minutos para gratinar (usei a santa função grill, que facilita o trabalho de dourar, mas minha mãe cozinhava sem esse recurso e também ficava bom).

4 dicas para comer bem no Espírito Santo (e uma receita de moqueca)

Não pretendo aqui fazer um guia do Espírito Santo (quem sabe no futuro…). Passei alguns anos em Vitória e de vez em quando volto para visitar a família. Na última vez, comi muito bem em casa (já publiquei a receita da lentilhada da minha mãe) e em restaurantes. Compartilho hoje algumas dessas boas experiências, que podem entrar no roteiro de quem estiver de viagem marcada para lá (imagino que as dicas sejam manjadas para os locais).

1. Cantinho do Curuca
Cozinha do Cantinho do Curuca

Uma moqueca fantástica, que se sobressai em uma terra de moquecas. Neste restaurante de Meaípe (Guarapari), o prato tem caldo encorpado e peixe no ponto certo. O preço pesa, principalmente se você estiver com pouca gente: mais de 200 reais por uma versão de peixe e camarão, teoricamente para duas pessoas, mas que dividimos em cinco (quatro adultos e uma criança pequena), pedindo também uma casquinha de siri (na verdade, um casca de bom tamanho) e uma porção de bolinhos de bacalhau. De sobremesa, torta de coco coberta por claras em neve.

Valem uma espiada as janelas que expõem a cozinha gigante, com um exército de bocas de gás enfileiradas para preparar moquecas para um batalhão. Não se deixe enganar pelo diminutivo do nome: o Cantinho do Curuca tem capacidade para atender 400 pessoas.

A seguir, a receita de moqueca capixaba que encontrei no site do restaurante:

Ingredientes

600 gramas de peixe em postas (sugestão: badejo ou robalo)
100 gramas de cebola
100 gramas de tomate em cubinhos
2 colheres de sopa de suco de limão
2 colheres de sopa de óleo
2 colheres de sopa de azeite
Sal, colorau, pimenta e coentro a gosto

Modo de preparo

Em uma panela de barro, coloque o óleo, a cebola, o tomate e o colorau. Espere tomar consistência. Em seguida ponha as postas de peixe (não é necessário acrescentar água, a não ser que você ache que a moqueca está com pouco molho ou grudando no fundo da panela). Ponha o sal, o azeite e o suco de limão. Deixe ferver por 15 minutos. Coloque o coentro e está pronta.

2. Galpão das Paneleiras de Goiabeiras

Aqui, você não vai comer, mas comprar os utensílios para preparar sua própria moqueca. Pode também ver como são feitas as panelas de barro típicas do Espírito Santo: do amassar do barro à moldagem manual e ao cozimento em fogueira.

Só não despache sua nova panela no avião: é quebra na certa. Melhor preparar o muque e levá-la na cabine, como bagagem de mão.

Onde: rua das Paneleiras, 55, Goiabeiras, Vitória – ES.

3. Ilha das Caieiras

restaurante em Ilha das Caieiras

Esta região de pescadores e desfiadeiras de siri virou um pólo gastronômico, com vários restaurantes bem simples, como o Mirante da Ilha (foto acima), que servem moquecas e outros pratos de peixe e frutos do mar. Peça uma moqueca de siri (foto abaixo), já que está em um bairro conhecido por abrigar especialistas no preparo dessa carne, e aprecie a vista para o canal e o mangue.

Aviso: apesar do nome, não se trata de uma ilha à parte, e sim de uma porção da ilha de Vitória.

Moqueca de siri da Ilha das Caieiras

 

4. Produtos Carnielli

Queijos, embutidos (como o socol — lombo de porco temperado e curtido), cafés e outras gostosuras são feitas pela família de origem italiana em Venda Nova do Imigrante. A fazenda nas montanhas capixabas está aberta para visitação, mas os produtos também podem ser encontrados em outros pontos, como a Carnielli Cafeteria e Delicatessen no HortoMercado (rua Licínio dos Santos Conte, 51, Enseada do Suá, Vitória).

Produtos Carnielli

+ Confira aqui a moqueca capixaba da chef Ana Luiza Trajano, do Brasil a Gosto.

Lentilhada com linguiça para uma noite aconchegante em família

Combinação para uma noite sem frescuras: lentilhas com linguiça e bacon

Acabo de passar um fim de semana prolongado com a família em Vitória (ES) e fui muito bem alimentada durante a visita. Hoje e nos próximos dias, vou publicar receitas e dicas dessa curta temporada capixaba.

Começo com esta lentilha simples e saborosa preparada por minha mãe em uma noite fresca, que pedia até um casaquinho (ocasião não muito frequente na cidade). Provada ao lado de gente querida, acompanhada de um bom vinho (na verdade, uns bons vinhos) e queijos e frios artesanais da serra do Espírito Santo, a receita, inspirada em uma preparação do livro Nigellíssima, de Nigella Lawson, deixou a noite ainda mais gostosa.

Em seguida, dou o passo-a-passo detalhado.

Ingredientes
Bacon
Alho-poró (a parte mais tenra)
Azeite aromatizado com alho
Lentilha
Louro
Linguiça
Tomilho fresco
Sal
Cheiro-verde (salsinha e cebolinha)
Pimenta-do-reino e azeite apimentado (opcionais)

Modo de preparo
Em uma panela grande, minha mãe dourou bacon em fogo baixo, sem adicionar gordura porque ele já é gordo o suficiente. Depois, retirou os pedaços de bacon e os deixou de lado para usar mais tarde. Na mesma panela, ela refogou o alho-poró, cortado em fatias finas, na gordura do bacon somada a um pouco de azeite com alho. Em outra panela, para agilizar, começou a cozinhar a lentilha — sem sal, só em água temperada com algumas folhas de louro.

A linguiça dourou um pouco sobre o alho-poró. Em seguida, a panela grande recebeu também a lentilha, os pedaços de bacon e o tomilho. Foi preciso acrescentar um pouco de água fervendo até a lentilha ficar bem cozida.

Por fim, minha mãe temperou a lentilha com sal, pôs um pouco mais de azeite com alho e acrescentou cheiro-verde picado. Na mesa, deixou à mão pimenta-do-reino e azeite apimentado (que ela evitou usar em tudo por causa do netinho de dois anos que participava do jantar). Como acompanhamento, pão.


Para cozinhar mais:

8 razões para conhecer o Eataly SP (e 3 para passar longe de lá)

Na manhã desta terça-feira, uma multidão de jornalistas — eu entre eles — se espalhou pelos três pisos do Eataly São Paulo, uma espécie de disneylândia culinária com inauguração prevista para 19 de maio. Basicamente, era um monte de gente disputando, até que de modo civilizado, uma fatia de presunto cru e uma brecha na vitrine para filmar a produção ao vivo de mozzarella.

Segundo o chef celebridade americano Mario Batali, sócio do empreendimento, quem entra no Eataly se sente um pouco como uma Cinderela chegando à festa do príncipe. Exageros à parte, é dificil não se deslumbrar um tanto diante dos 7 mil produtos (italianos e de fornecedores locais) dispostos em departamentos como rotisseria, padaria e açougue, além de servidos em sete restaurantes.

A seguir, listo alguns motivos que me dão vontade de voltar ao Eataly quando ele de fato abrir ao público:


focaccia1. A focaccia ao pomodoro.

Eu poderia falar da padaria inteira, tocada por padeiros italianos, mas só esse item — macio, cheio de molho — já é uma razão bastante boa para ir ao Eataly.


mozzarella2. A arte da mozzarella ao vivo.

O restaurante chinês Rong He, na Liberdade, ficou conhecido pela vitrine da “Apresentação de Arte de Macarrão ao Vivo”, na qual um cozinheiro, usando só as mãos, estica e puxa pedaços de massa até eles se transformarem em longos fios de macarrão. O setor La Mozzarella do Eataly também tem um showzinho: ali se faz o queijo fresco na frente dos clientes (veja o vídeo no Instagram). Não é tão espetacular quanto a performance chinesa, mas abre o apetite para experimentar a mozzarella, vendida ali e usada nos restaurantes do mercado.


fornodepizza3. A pizza Rossopomodoro na hora do almoço.

“Bravo!”, clamou a chef Lidia Bastianich, sócia do Eataly, quando meus dedos resgataram da tábua o queijo que escorregou da minha fatia de pizza. Eu não abriria mão do único naco de mozzarella que me cabia daquela delícia de estilo napolitano, com massa alta e fofa, molho farto de tomate San Marzano e queijo minimalista (pelo menos para padrões paulistanos).
Parceria com a rede italiana Rossopomodoro, a pizzaria contraria os costumes de São Paulo e funciona também no almoço.


panela-eataly4. As panelas de barro capixabas ao lado das Le Creuset.

Dá samba a mistura de produtos locais com os importados. A origem de deles está explicada em plaquetas sobre as prateleiras.


img_53155. Os peixes de belos olhos.
No dia da visita, a peixaria reunia peixes mais bonitos do que os que costumo encontrar em supermercados de São Paulo. Resta esperar que não tenha sido algo só para jornalista ver.

6. O arancino, bolinho de risoto de linguiça recheado com queijo.
Bolinho de arroz é bom. Bolinho de risoto é melhor. Bolinho de risoto de linguiça então…

7. Os frios.
Presunto San Daniele, queijo de cabra paraibano, grana padano e outras perdições reunidas lado a lado.


img_53108. A porchetta.
Úmida, gorda, com uma casquinha crocante, pode ser levada para casa ou comida em um sanduíche ali mesmo.

Agora, os motivos para manter distância do Eataly.

1. A muvuca.
O mercado ainda nem abriu, então só posso supor que os 4.500 metros quadrados serão tomados por uma turba sedenta por pão, vinho e outras gostosuras. Mas é uma boa aposta, baseada na atração que o Eataly NY desperta em turistas brasileiros, no interesse de quem passava na rua no dia da “pré-estreia” e na lotação de feiras e outros eventos gastronômicos de São Paulo.

2. O risco de gastar demais.
Como na visita as mercadorias não tinham preços marcados, não sei dizer se eram especialmente caras ou baratas (a comunicação do Eataly promete preços justos. A ver). De qualquer forma, é daqueles lugares perigosos, cheios de produtos tentadores pedindo para entrar no carrinho. Se você está duro, melhor evitar.


eatalysp3. O fato de ser um supermercado.
As tendas que abrigam frutas, verduras e legumes são charmosas e a arquitetura arejada impressiona, mas trata-se de uma rede com outras 28 lojas pelo mundo (15 na Itália, 9 no Japão, duas nos Estados Unidos, uma em Dubai e uma em Istambul). Simpatizo mais com um mercado municipal como o de Pinheiros, em que nem tudo é tão bonito porém é mais autêntico (por enquanto…), ou com o pequeno empório familiar a duas quadras da minha casa. No entanto, confesso: se o fim do mundo estivesse próximo e eu precisasse de um abrigo, talvez corresse para o Eataly.

O Eataly São Paulo fica na avenida Presidente Juscelino Kubitschek, 1.489.


Para cozinhar mais:

Pudim de bacalhau (um bolinho gigante de bacalhau)

Minha contribuição para a Sexta-Feira Santa: pudim de bacalhau com molho de manteiga, limão e salsinha
Minha contribuição para a Sexta-Feira Santa: pudim de bacalhau com molho de manteiga, limão e salsinha

Se você gosta de bolinho de bacalhau, vai se esbaldar com este prato, que parece uma versão tamanho família (e assada) do petisco frito. A sugestão da minha avó Viquinha é servi-lo com molho maître d’hôtel — como o caderno dela não traz o passo a passo do molho, busquei na internet. Ficou uma delícia, ainda mais acompanhado de uma boa salada verde.

Fica aí minha sugestão simples, saborosa e de última hora para a Sexta-Feira Santa.

Teste número 30
Receita:
pudim de bacalhau
Fonte: caderno da avó Viquinha
Resultado: muito bom (um bolão de bacalhau bem feito)

Rendimento
4 porções

Ingredientes
300 gramas de bacalhau (comprei o já dessalgado, congelado)
½ pão francês (ontem eu usei uma fatia de pão tipo brioche, porque era o que tinha em casa)
2 batatas grandes cozidas
Azeite
2 dentes de alho
1 tomate
1 colher de sopa de manteiga derretida
2 ovos (com as claras batidas em neve)
Sal
Pimenta-do-reino moída na hora

Modo de preparo
Descongelei o bacalhau em água com sal (recomendação da embalagem) e o cozinhei só em água por 15 minutos.

Bati no processador o bacalhau e o pão.

Amassei a batata com um garfo.

Refoguei em bastante azeite o alho bem picado, em seguida coloquei os cubinhos de tomate e, depois, o bacalhau e o pão. Tudo rapidinho.

Em uma tigela, misturei o bacalhau, a batata, a manteiga e as duas gemas. Temperei com sal e pimenta-do-reino. Coloquei um pouco mais azeite.

Acrescentei as claras batidas em neve e misturei levemente.

Coloquei a massa em uma tigela untada e levei ao forno quente (220ºC) até começar a dourar.

Para o molho maître d’hôtel:
Derreti 3 colheres de manteiga e, na hora de servir, juntei o suco de meio limão, uma colher de sopa de salsinha picada no processador, sal e pimenta-do-reino moída na hora.