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Um bolo-relâmpago para servir de última hora

Um bolo básico e vapt-vupt que cai bem com um chá
Um bolo básico e vapt-vupt que cai bem com um chá

Já contei no post anterior que preparei biscoitos de castanha-do-pará para servir em um chá. Uma hora antes de minhas amigas chegarem, resolvi que faria também um bolo, para acompanhar a geleia de morango que cozinhei outro dia. Não à toa, escolhi no caderno de receitas da minha mãe um “bolo-relâmpago”, de fato muito simples e rápido. Consegui terminá-lo antes de as visitas chegarem, mesmo fazendo duas pausas para ligar para a minha mãe no meio da preparação. O benefício extra foi deixar a casa com um resíduo daquele cheirinho de massa assando no forno.

Ingredientes
11 colheres de sopa de açúcar (mais um pouco para polvilhar)
10 colheres de sopa de farinha de trigo
1 colher de sopa de manteiga (mais um pouco para untar)
1 colher de sopa rasa de fermento químico em pó
3 ovos
1 xícara de leite
1 pitada de sal
Canela em pó

Modo de preparo
Bati todos os ingredientes no liquidificador e obtive uma massa bem líquida (liguei para minha mãe e ela disse que era assim mesmo).

Despejei a massa em um tabuleiro untado e o assei em forno médio-alto (200ºC) até ficar levemente dourado e um palito, quando enfiado no meio da massa, sair sem pedacinhos de grudados.

Polvilhei açúcar e canela sobre o bolo.

Geleia de morango – nunca pensei que fosse tão fácil

A geleia de morango é moleza de preparar (e ficou deliciosa com torrada integral no meu lanche da tarde)

Já ouvi muita gente falar que as frutas de antigamente eram uma coisa do outro mundo: “Tinham gosto! Hoje são uma coisa aguada, que parece isopor!”. Ok, talvez isso se aplique a algumas espécies, mas, no caso dos morangos, tenho a impressão de que os da minha infância eram bem mais insossos, branquelos e azedos do que os que eu encontro hoje. Pelo menos quando faço compras na feira de produtos orgânicos no Parque da Água Branca, em São Paulo. Ultimamente vários expositores vendem bandejas da fruta, uma mais vermelhinha e bonita que a outra. Para quem mora na cidade, a feira, que acontece nas manhãs de terça, sábado e domingo (e nas noites de terça, em uma versão mais caída), valeria uma visita só por esse produto – mas eu recomendo fuçar também as barracas de castanhas, iogurtes e outras frutas, verduras e legumes, além de tomar o café da manhã servido sob as árvores.

Voltando aos morangos. Os da feirinhas são tão bons que viraram quase sinônimo de fruta para o meu filho que está aprendendo a falar. “Quer fruta?”, eu pergunto. “Rango!”, ele responde. Eu, pelo que me lembro, quando criança só comia morango adoçado com açúcar, leite condensado, chantilly… Ele come puro, batido com leite, no iogurte. E se alegra só de ver um desenho da frutinha em uma embalagem.

Os morangos de hoje são melhores que os de antigamente (pelo menos na minha memória)

Diante de tanta empolgação, às vezes os pais também se empolgam e compram mais morangos do que nossa pequena draga dá conta. E esse era o caso hoje. Ótima oportunidade para preparar a geleia de frutas do caderno de receitas da minha mãe. Só que, genérica que só, a receita explicava pouco: “Aproveitar caroço, casca e a 1ª água (da 1ª fervura). Três partes de líquido, uma parte de açúcar”. Por telefone, minha mãe disse que as instruções eram só uma referência, e a preparação variava a cada fruta. A de morango, por sorte, era moleza – o único incidente, ou acidente, aconteceu na esterilização do pote de vidro, quando eu espirrei um pouco de água fervente na minha barriga…

Fazendo conforme minha mãe me explicou e eu detalhei abaixo, a geleia ficou uma delícia. Tenho a impressão de que, a partir de hoje, será mais raro eu comprar a versão industrial (sim, estou me achando).

Geleia de morango

2 caixas de morango
1 xícara de água
açúcar a gosto (eu usei duas colheres de sopa, e tinha morangos bem maduros. A geleia ficou bem azedinha, do jeito que eu gosto)

Coloquei em uma panela os morangos sem o talo (e cortados em dois ou quatro pedaços, dependendo do tamanho da fruta), uma xícara de água e o açúcar. Deixei em fogo baixo, mexendo de vez em quando para não grudar, até os morangos desmancharem e a geleia formar pingos grossos ao cair de uma colher (isso levou cerca de uma hora). Durante o cozimento, fui acrescentando um pouco mais de água (no total, mais uma xícara).
Se quiser que a geleia dure mais, guarde-a imediatamente em um pote de vidro esterilizado em água fervente.

Minha torta é melhor que a sua

Foto: Mariana Weber

Comecei mal. Logo na primeiro teste de receita do caderno da minha mãe, produzi uma massaroca dura e queimada nada a ver com a torta de banana dourada das minhas memórias. Ficou tão ruim que joguei fora rápido, para ninguém além de mim provar o gosto do fracasso – antes tirei algumas fotos, imbuída de um espírito maso-jornalístico, mas decidi que não mereço expô-las em público, para o bem da minha auto-estima.

À noite, quando minha mãe ligou para saber como tinha ficado a torta, investigamos o que poderia ter dado errado: “Você jogou uns pedacinhos de manteiga por cima, filha?” “Não, não está na receita, mãe!” “Ah, mas eu jogava…” E a banana? “Então, filha, vi a foto que você colocou no Facebook. Tem que ser mais madura.” Eu deveria saber desse detalhe de antemão, porque ele não consta na lista de ingredientes. Assim como eu deveria imaginar que uma xícara do caderno de receitas não é necessariamente uma xícara, aquela indicada por um tracinho no meu copo medidor: ela pode ser rasa, cheia, meio cheia, bem cheia – e às vezes isso não está especificado em lugar nenhum. Vai de feeling, sabe?

Estou reclamando, mas, na verdade, eu já sabia, ou desconfiava, de tudo isso. Se resolvi seguir as receitas da minha mãe ao pé da letra, foi para ver no que dava. E deu errado. Porque no texto muito está subentendido – tanto pela confiança na experiência básica da cozinheira quanto por minha mãe já ter acompanhado ao vivo o preparo dos pratos (ou pelo menos os provado). Só que, no meu caso, isso não funciona. Vi minha mãe cozinhar alguns desses doces e salgados, mas faz tempo, e agora estamos em cidades diferentes e nos encontramos pouco. Terei que me virar com dicas por telefone e meu próprio instinto. Medo.

No caso da torta, eu estava razoavelmente tranquila porque ela é um clássico da minha infância. Eu sabia bem que resultado deveria obter – e isso, como me diria mais tarde a chef e autora de livros de cozinha Heloisa Bacellar, é essencial, mais do que estabelecer medidas exatas na receita (em breve publicarei aqui uma entrevista com a Helô). Quando a cobertura da torta no forno foi mudando direto de branco pálido para preto queimado, sem passar pelo dourado, eu logo percebi que algo estava muito errado. E provavelmente isso significava que eu estava certa quando senti falta de manteiga para tanta farinha,  fato mais tarde confirmado por minha mãe e uma tia (meu experimento com o caderno de receitas esta mobilizando a família mundo afora!).

Teoricamente, os erros estavam explicados, e eu tinha os ingredientes para fazer uma segunda tentativa na manhã seguinte, mas procrastinei por uma semana. Era um dia ensolarado quando desisti de ir a uma aula de ioga, vesti o avental e coloquei em prática as instruções do caderno somadas às dicas obtidas por telefone. E não é que a torta de banana deu certo? Sozinha em casa, provei o primeiro pedaço e aprovei a cobertura crocante salpicada por pedaços de goiabada. Ficou tão boa que senti só um tiquinho de culpa por trocar o exercício por um doce.

Foto: Mariana Weber

Agora, sim, fazia sentido a memória dessa receita como uma das minhas favoritas. Muitas vezes minha mãe a preparava quando eu tinha que levar um prato para alguma festinha. Que eu me lembre, o meu tabuleiro de doce era sempre um dos melhores, e eu sempre comia um pouco dele, por mais que estivesse cercada de novidades.

Abaixo, dou o passo a passo já modificado, com comentários e adaptações. Além da questão da manteiga, acrescentei outras informações ao original, digamos, sucinto. Se quiser, adapte. Mas duvido que fique melhor que a minha… Ops, a da minha mãe!

Ingredientes
– 1 ½ xícara de maizena
– 1 ½ xícara de açúcar
– 1 ½ xícara de farinha
– 1 colher (sopa) de açúcar aromatizado com baunilha (você pode comprar a versão industrializada, mas eu tinha e usei aqui uma versão caseira, feita com uma fava de baunilha já sem as sementes imersa em um pote de açúcar)
– 2 colheres (sopa) bem, bem cheias de manteiga para a massa, mais uma para salpicar sobre a torta montada
– 1 ovo
– Bananas bem maduras cortadas ao meio no sentido do comprimento (eu usei 8 bananas, mas depende do tamanho da fruta)
– 1 bom punhado de ameixas secas e goiabada cortada em pedacinhos (minha mãe contou que, a despeito da receita anotada, não colocava ameixas, só goiabada. Como eu só soube disso depois de ir à compras, coloquei também as ameixas e acho que funcionou bem)

Modo de preparo
Peneire e misture a maizena, a farinha e os açúcares em uma tigela grande. Acrescente o ovo e a manteiga e misture delicadamente com os dedos até obter a consistência de uma farofa bem granulada, como a de cobertura de bolo cuca. Se for preciso, acrescente manteiga.

Em uma assadeira untada, distribua uma camada de farofa, outra de banana e então pedaços de ameixas e goiabada. Novamente distribua uma camada de farofa, uma de banana e os pedaços de ameixas e goiabada. Cubra com uma camada de farofa e salpique sobre ela pedaços de manteiga.

Leve ao forno médio alto até a cobertura ficar dourada (aqui em casa, isso levou uma hora e vinte minutos).

Coma quente, assim que sair do forno. Coma fria. Coma gelada. Coma com sorvete.

Para cozinhar mais: