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Será este bolinho de polvilho e coalhada o segredo da longevidade?

Bolinho de polvilho e coalhada (foto: O Caderno de Receitas)

Tia Myrian Fonseca Bittencourt, 95 anos e autonomia de 20 e poucos, escreveu a receita do bolinho em um quadrado de papel de nove centímetros, arrancado de um bloco. Do outro lado da folha, aproveitou para me dar as instruções para um pão de queijo assado em forminhas. Há alguns anos, perdeu o caderno em que tinha seus pratos anotados, mas guarda tudo na memória. Assim como guarda os detalhes do método com que costumava alfabetizar alunos, na época em que trabalhava como professora no interior de Santa Catarina. Hoje mora sozinha em Florianópolis, quando não está em Lages visitando parentes.

Na fazenda da família em Lages, bateladas de bolinho eram assadas duas vezes ao dia, de manhã e à tarde. Levavam a coalhada escorrida feita com o leite das vacas da propriedade. Minha mãe, que tantas férias escolares passou ali, lembra da consistência dessa coalhada, de placas grandes, retirada às conchadas de uma bacia e tomada feito sopa, com canela e açúcar mascavo.

Na lembrança da minha mãe, a coalhada da infância não pode, obviamente, ser substituída por nenhuma outra — talvez nem pela coalhada da fazenda, se tomada hoje. Mas tia Myrian, prática, me aconselhou a escorrer qualquer coalhada ou usar ricota. Se a ricota for muito seca ou sem graça, pode ser misturada a leite ou iogurte. Eu fui além no improviso: misturei, meio a meio, ricota e coalhada árabe — desta vez comprei no mercado,  mas também já fiz em casa (confira aqui uma receita de coalhada). Buscava a acidez, ausente na ricota, da coalhada usada nos bolinhos da fazenda.

Funcionou muito bem.  Pelo menos para os paladares dos testadores aqui de casa, que nunca provaram a receita na fazenda.

Teste número 86: bolinho de polvilho e coalhada
Fonte – Anotação da tia Myrian.
Grau de dificuldade – Fácil.
Resultado – Uma delícia. Fica bem melhor na hora, com casquinha crocante. Mas, de tão bom, é grande a chance de não sobrar nada para murchar.

Ingredientes
100 gramas de coalhada árabe
100 gramas de ricota
250 gramas de polvilho azedo
1 ovo
½ colher (sopa) de manteiga
Sal

Modo de preparo
Misture todos os ingredientes até obter uma massa lisa e macia, gostosa de mexer.

Faça rolinhos e os molde no formato da letra “s”.

Disponha em uma assadeira untada, deixando espaço para os bolinhos crescerem.

Leve ao forno pré-aquecido a 200ºC e asse até que comecem a dourar.

Bolinhos de polvilho e coalhada -  testados e aprovados (foto: O Caderno de Receitas)

Para cozinhar mais:

Bolinho de chuva com banana

bolinho de chuva com banana

Bolinho de chuva é um clássico da comida de vó. Mas não da minha avó materna, Viquinha. Que eu me lembre, ela nunca preparou a receita para os netos – não me ressinto, comi uns bons tantos nas férias no sítio, com minha mãe e a família do meu pai.

Foi dentro de um caderno da vó Viquinha, no entanto, que encontrei esta receita. Estava anotada em um pedaço de papel, em uma caligrafia que não conheço. Preparei para meu filho, em uma tarde preguiçosa como bolinho de chuva pede.

Teste número 78: bolinho de chuva com banana
Fonte – Um pedaço de papel guardado em um caderno de receitas da minha avó Viquinha.
Grau de dificuldade – fácil.
Resultado – Bolinhos disformes e saborosos. Para um dia de chuva ou de sol.

Ingredientes
1 ovo
1/3 xícara de açúcar
1/3 de xícara de leite
1 xícara de farinha de trigo
1 colher de chá de fermento em pó
1 banana picada
Óleo para fritar
Açúcar e canela para polvilhar

Modo de preparo
Bata bem todos os ingredientes.

Despeje colheradas da massa no óleo quente e frite até dourar.

Polvilhe com açúcar e canela.

Para cozinhar mais:

Outras receitas com banana.

Torta de figos e peras caramelizados – da cozinha de Francis Mallmann para a minha

Torta de figos e peras caramelizados - O Caderno de Receitas

Meu último post foi sobre figos tostados. Alguns passos a mais e você tem esta torta. Se bem que, para falar a verdade, eu primeiro fiz a torta – e gostei tanto que, em um dia de preguiça, improvisei a sobremesa só com o recheio, variando o tempero.

O original está no livro Terra de Fogos – Minha Cozinha Irreverente, do chef argentino Francis Mallmann, bom de brasas e de papo: “Minha teoria: sempre é melhor comer frutas, mas quando escolhermos uma sobremesa, que ela seja sanguinária, criada e preparada com luxúrias”, escreve ele no capítulo de doces.

Na cozinha de Mallmann, figo se rasga com as mãos e a frigideira serve para tostar preservando a crueza da fruta. “Trata-se apenas de pousá-lo sobre o calor ardente para dar aquele perfume de queimado.”

Quando coloquei a receita em prática, juntei também peras, porque tinha em casa. Aí sobrou um pouquinho de massa e sobrou pera, então fiz também duas minitortas de pera. A versão miniatura e sem figo entrou na lancheira do meu pequeno crítico favorito, que aprovou e já pediu repeteco.

tortinha de pera - O Caderno de Receitas

Ingredientes
Para a massa:
200 gramas / 1 ½ xícara de farinha de trigo
100 gramas de manteiga
70 gramas / ½ xícara de açúcar aromatizado com baunilha (faça guardando no açucareiro uma fava de baunilha usada em outra receita) ou açúcar normal e algumas gotas de extrato de baunilha
1 ovo
1 colher (chá) de água
Para o creme de confeiteiro:
25 gramas / 2 ½ colheres de amido de milho
320 mililitros / 1 ½ xícara de leite
4 gemas
100 gramas / 2/3 xícara de açúcar aromatizado com baunilha (adaptação minha, já que Mallmann recomenda usar açúcar simples mais ½ fava de baunilha; uma terceira opção é usar açúcar simples mais algumas gotas de extrato de baunilha)
Para o recheio:
Figos e peras
1 xícara de açúcar

Modo de preparo
Da massa
Corte a manteiga em cubinhos e deixe no congelador alguns minutos para endurecer.

Com a ponta dos dedos, misture em uma tigela a farinha, o açúcar e a manteiga gelada, até fazer uma espécie de farofa. Junte ovo batido levemente com a água e, se for o caso, as gotas de extrato de baunilha.

Misture até obter uma massa lisa, então enrole em filme plástico e guarde na geladeira por no mínimo uma hora.

Enfarinhe uma superfície de trabalho e um rolo de macarrão. Abra a massa, formando um círculo um pouco maior que a fôrma, contando a altura da borda. Mallmann recomenda uma de 24 centímetros; eu tinha uma fôrma de fundo removível rasa de 22 centímetros, que deixou sobrar um pouco de massa, então usei também duas formas pequenas, de empada.

Enrole a massa no rolo, depois a desenrole sobre a fôrma. Ajuste a massa à fôrma com cuidado – mas, se por acaso rasgar um pouco, não se desespere e remende, apertando com os dedos para grudar bem. Retire os excessos da lateral, pressionando a massa sobre a borda para cortar. Use um garfo para fazer vários furinhos no fundo.

Leve a massa ao forno pré-aquecido a 180 graus Celsius até que doure (15 a 20 minutos). Espere estar fria para desenformar e transferir para o prato em que irá à mesa.

Do creme de confeiteiro
Dissolva o amido em duas colheres de sopa de leite frio. Esquente o restante do leite, sem deixar ferver, e reserve (se for usar a fava de baunilha, corte-a ao meio no sentido do comprimento, raspe as sementinhas que ficam dentro e coloque tudo para aquecer junto com o leite; se for usar o extrato de baunilha, adicione algumas gotas ao leite).

Faça uma gemada clara e lisa batendo as gemas com o açúcar. Junte o leite quente e, sem seguida, o leite com amido, e bata mais. Leve ao fogo baixo, batendo sempre, até começar a ferver. Deixe um pouco mais, só alguns minutos, depois tire do fogo. Atenção para não deixar coagular e transformar o creme em ovos mexidos.

(A etapa seguinte, segundo Mallmann, seria passar o creme em uma peneira para tirar possíveis grumos. Eu pulei esse passo e ficou tudo bem.)

Reserve o creme na geladeira, em uma tigela coberta com filme plástico. Na hora de usar, se estiver endurecido, bata para recuperar a textura.

Montagem
Espalhe creme de confeiteiro sobre a massa de torta.

Corte os talos dos figos e rasgue-os ao meio com as mãos. Corte as peras em pedaços irregulares.

Aqueça uma frigideira (eu usei uma de ferro; não use aqui as de cobertura antiaderente, porque o açúcar fica muito quente).

Coloque o açúcar na frigideira e espere derreter. Adicione o figo, com a polpa virada para baixo. Cozinhe por alguns minutos, até fique tostado na parte cortada, depois retire com uma espátula e espalhe sobre a torta. Em seguida repita os procedimentos com a pera.

Pingue sobre a torta o caramelo que sobrou na frigideira.

Para cozinhar mais:

Broinhas de fubá sem depender da padaria

broinhas-de-fuba-o-caderno-de-receitas

Broinha de fubá era a comida especial da padaria. Da padaria boa, mais longe, a que meus pais iam só de vez em quando, de carro. Um lanche para comer frio ou quente, mas melhor quente. Puro ou com manteiga. O ideal: quente, com nacos de manteiga derretendo.

Desde então, nas padarias da vida, as broinhas rivalizam com o pão com manteiga na chapa na preferência dos meus cafés da manhã. Gosto das versões bem aeradas, de massa macia que envolve grandes espaços, e também das mais compactas, algumas se aproximando de um biscoito amanteigado.

Agora posso fazer minhas próprias broinhas de padaria. Descobri esta receita simples de pãozinho de milho em um caderno de receitas da minha avó Viquinha. É bem comida de vó, comida de verdade, com gordura de porco em vez de margarina (se bem que, em outras receitas dela, o ingrediente industrial dá as caras).

Usei banha do frigorífico Cancian e fubá, farinha de trigo e ovo orgânicos comprados na feira do Parque da Água Branca. Adicionei 5 em vez das 4  colheres de fubá pedidas na receita original porque a massa me pareceu líquida demais e porque as quantidades não são exatas: o ovo varia de tamanho, a medida em colher não tem a precisão de uma balança, a banha sem derreter não ocupa perfeitamente a xícara. Misturando tudo, cheguei a uma consistência mole, de angu grosso, mas possível de moldar com movimentos suaves – uma vez na forma, as bolinhas acabam virando discos.

Ficou um bolinho saboroso, macio mas consistente, bom para comer no café da manhã ou fazer um lanche. De vez em quando. Porque é bem gordo, então nem passei manteiga, comi puro mesmo. Deve ficar bom também com geleia.

Teste número 76: broinha de fubá
Fonte –  Caderno de receitas da minha avó Viquinha.
Grau de dificuldade – fácil.
Resultado – Bolinho de milho com gosto de comida de vó.

Ingredientes
5 colheres (sopa) de fubá
7 colheres (sopa) de farinha de trigo
1 ovo batido
½ xícara de banha (sem derreter nem amassar na xícara)
½ xícara de leite
1 pitada de sal (dissolvida no leite)
1 pitada de erva-doce
1 colher (sopa) de fermento químico

Modo de preparo
Em uma tigela, misture todos os ingredientes com uma colher. Se ficar muito líquido, adicione um pouco de fubá ou farinha. Se estiver muito seco, junto um pouco de leite. A ideia é chegar a uma consistência de angu grosso, ainda mole, mas possível de moldar.

Pegue colheradas de massa, enrole entre as mãos untadas e posicione as bolas sobre uma assadeira também untada. Uma vez na assadeira, as bolas vão virar discos, mas tudo bem.

Asse em forno a 190 ºC até as broinhas ficarem firmes e a base adquirir um tom dourado (no meu forno, levou cerca de 30 minutos).

Deixe esfriar sobre uma grade (ou coma os bolinhos ainda quentes).

Para cozinhar mais:

Panquecas de fermento natural

Panqueca de fermento natural com tomate e pesto - O Caderno de Receitas

Não foi para isso que você criou seu fermento natural com tanto carinho, mas esta receita de Sandor Ellix Katz no livro A Arte da Fermentação quebra um bom galho na hora de fazer uma refeição rápida, com o que está à mão (claro, isso só vale quando você já tem o fermento natural; veja aqui como começar um). Também minimiza o problema de desperdício, já que, alimentado constantemente e nem sempre usado com a mesma frequência, o fermento tende a aumentar muito de volume.

Para fazer panquecas, basta misturar o fermento puro com ovo e, se você quiser, queijo e vegetais variados. O resultado é uma massa azedinha, que combina com ingredientes salgados – para versões doces, um pouco de bicarbonato de sódio (uma colher de chá para duas xícaras de massa) ajuda a neutralizar o ácido lático e acrescenta maciez. Katz sugere também uma versão com adição de água e farinha de trigo (ou outro cereal) e algumas horas de fermentação, mas não vi muito sentido. O que gostei aqui foi justamente da opção de uso imediato em contraposição ao período longo necessário para fazer um bom pão com o mesmo fermento. Em outras palavras, se eu estivesse com tempo, provavelmente faria uma baguete, e não uma panqueca.

Por outro lado, a panqueca, como uma omelete, tem a vantagem de incorporar com facilidade outros ingredientes que estão dando sopa na geladeira. Abobrinha, rabanete, alho, cebola, batata, pimentão… Inclua o que quiser. Abaixo, indico uma receita básica e uma sugestão um pouco mais elaborada, mas o mexidão não tem limites.

Ingredientes da versão básica
Fermento natural
1 ovo
Parmesão ralado na hora
Sal
Azeite

Modo de preparo
Misture 5 colheres de sopa do fermento, o ovo batido, o parmesão e o sal.
Leve ao fogo baixo em uma pequena frigideira untada com azeite. Quando a panqueca estiver firme e dourada embaixo, vire-a para dourar o outro lado. Você pode usar um prato para ajudar na virada: posicione-o sobre a frigideira e vire as mãos rapidamente para transferir a panqueca, que ficará com a parte mais crua para baixo; deslize então a panqueca de volta para a frigideira para dourar o lado que faltava.
Sirva regada com mais azeite.
Acompanha bem tomate picado e molho pesto (como na foto acima).

Ingredientes da versão recheada
Fermento natural
1 ovo
Tomate
Parmesão
Sal
Pimenta-do-reino
Cebola
Azeite

Modo de preparo
Misture 5 colheres de sopa do fermento, o ovo batido, tomate picado, parmesão ralado, sal e pimenta.
Em um frigideira, refogue a cebola em um fio de azeite, depois despeje a massa de fermento. Deixe em fogo baixo até firmar um pouco, depois vire a panqueca. Você pode usar um prato para ajudar na virada: posicione-o sobre a frigideira e vire as mãos rapidamente para transferir a panqueca, que ficará com a parte mais crua para baixo; deslize então a panqueca de volta para a frigideira para dourar o lado que faltava.
Regue com azeite na hora de servir.