Pedro de avental de cozinha

Ter filho é sentir de novo o gosto de experimentar o mundo pela primeira vez. O gosto do pão, o gosto do pêssego, o gosto do vento na cara na praia, o gosto de aprender uma palavra, de beber água da chuva, de raspar a tigela de massa de bolo, do cheiro de sabonete da vovó.

– O que é isso, mamãe?
– Isso o quê?
– Esse cheiro.
E eu, com a cabeça no dia-a-dia, não tinha sentido nada.
– Vem da petshop. Deve ser xampu de cachorro.
– Delícia.

O narizinho atento que se enfia no bolo de chocolate, no meu cabelo, no pelo da ovelha na fazenda.

Agora ele sabe falar. “Tô satisfeito”, diz para a mãe satisfeitíssima. Mas não precisou dizer nada para mostrar o quanto amou pipoca quando comeu pela primeira vez, no circo. Com um ano, ria, comia, colocava algumas na minha boca para dividir a felicidade.

E limão então. Ao chupar uma fatia, uma careta daquelas, seguida pelo já clássico “Mais!”.

Uvas passas são moscas, e isso é bom. Sopa de pedra tem um sabor especial, ainda mais quando o ingrediente mágico vem de um garimpo no parque. A fatia de pão vira dinossauro, tubarão, formiga. Uma transformação por mordida. A alegria de explodir a película da semente do mamão, alegria quase tão grande quanto a de sentir as patinhas do tatu-bola passeando na pele.

O riso. Um riso solto, claro, transparente. Com os olhos.
– A gente tinha um gato que jogava os tomates no chão… Ploft! E brincava com eles até que ficavam cheios de furinhos.
– Hahaha. De novo!
– De novo o quê?
– O barulho.
– Ploft?
– Hahahaha.
– Ploft!
– Hahahaha! De novo!

– Você derrubou o suco sem querer?
– Não. Foi de hipopótamo.
E a bronca vai pelo ralo.

As ambições.
– Eu como muito. Sabe por quê? Pra virar pai!
Ou
– Mamãe, quero comer a Lua!

Eu também, filho.

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