Não basta ir ao cinema no shopping na tarde de feriado, tem que comprar pipoca. E não basta comprar pipoca, tem que ser a que vem com o balde de chapéu de caubói. Mas, claro, não basta comprar a pipoca e o balde de caubói.
“Vale mais a pena comprar o combo”, informa a atendente preocupada com as minhas finanças.
“O combo?”
“É, pipoca, dois sucos, sorvete, chapéu-balde ou copo-bota por 55. Só o brinde é 40…” (Depois vi que era 35.)
Resisto: “O sorvete deve ter leite, meu filho não pode”.
“Pode substituir por bala. Não tem leite.”
“Eu posso, mamãe! Eu quero, mamãe!”
Eu cedo.
Momentos depois, tento equilibrar dois copos de suco doce de uva pouco menores do que o lixinho do banheiro de casa, um balde de pipoca maior do que o lixinho do banheiro de casa e o chapéu-balde que eu achava que caberia na cabeça do filho, mas não cabe e tampouco cabe na bolsa, que fica entreaberta.
O filho ajuda, milagrosamente nada se espatifa no chão e chegamos a nossos lugares sem dar banho de uva em ninguém. Mais uns 5 minutos e coloco os copos nos braços das cadeiras, enfio os canudos (biodegradáveis?) na tampa, busco um banco de criança e encaixo o filho, entrego o barril de pipoca pra ele, entucho o chapéu na bolsa, desligo o celular.
Alguns trailers, enfim o filme. Toy Story 4 é incrível, um mundo que eu gostaria que existisse ou continuasse existindo. Em 3D, dá até pra esquecer que estou num shopping metido a fino, cuidadosamente arquitetado pra enfiar a faca bem fundo nos clientes diferenciados — se eles não cortarem os pulsos antes.
Mas agora na tela está a Betty, olha ela, uma boneca de porcelana sem medo de se quebrar, e estão também o Woody, o Buzz, a Jessie, o Garfinho. Na plateia, gargalhadas e um tiquinho de choro emocionado. Ah, tudo vale a pena.
Até que o filme acaba, as luzes acesas mostram as pipocas e outras porcarias pisoteadas pelo chão, o balde está pela metade, os copos de suco ainda pesados.
O filho empaca na praça de alimentação pra comer mais pipoca e bala, o dia que estava tão bonito vai acabando. Bate uma irritação que pode ser uma bad depois do pico de açúcar e sal do combo. Pode também ser a ressaca por ter cedido ao combo todo.
Ainda tem a fila do elevador.
Me identifiquei ao ler o seu post. Foi um deja vu do que eu passei uma semana antes. Só não caí no papo da atendente e nao ignorar o famigerado chapéu que, segundo ela, era para despejar a pipoca…e não consegui ser ninja como vocês…o chão ficou forrado de pipoca ao final do filme…e os olhos inchados de tanto chorar…
Acho que em toda sessão metade das pipocas dos espectadores cai no chão!