Categoria: Da minha mãe

Testes de receitas do caderno da minha mãe.

Bolo de laranja molhadinho

Um bolo de laranja bem úmido, perfeito para um piquenique com chuva

Fim de ano é aquela época em que tudo se acumula e a gente trabalha mais para folgar uns diazinhos depois. Para mim, pelo menos, sempre foi assim. Honrando a tradição, tenho corrido tanto que demorei para postar mais um teste do caderno de receitas da minha mãe: um bolo de laranja fofinho e úmido que eu fiz algumas vezes na infância e na adolescência e repeti recentemente em um piquenique com amigos.

As confraternizações também se acumulam no fim de ano. Nessa, choveu, todo mundo teve que correr do parque e buscar abrigo no prédio de uma amiga, mas mesmo assim o programa foi uma delícia. E o bolo, preparado em cima da hora, deu certo, fazendo jus à lembrança de receita simples que eu tinha – difícil foi limpar a cozinha depois, porque usei uma tigela pequena demais e voou massa pra todo lado. Fora a sujeira, houve mais um porém: as laranjas com que eu fiz o suco não eram tudo isso. Fossem elas mais saborosas e azedinhas, teria sido melhor.

Minha blusa depois de bater as claras (fica a dica: use avental e uma tigela grande)

Ingredientes
4 ovos
2 xícaras de açúcar
2 xícaras de farinha de trigo
2 xícaras de suco de laranja
1 colher de sopa de fermento químico

Modo de preparo
Com o batedor de claras do processador, bati as claras em neve e juntei as gemas depois, uma a uma. Quando estava bem batido, juntei o açúcar e bati mais. Depois, coloquei a farinha alternando com uma das xícaras de suco e então o fermento.

Despejei a mistura em uma forma untada e enfarinhada e coloquei em forno médio alto (200 graus). Para saber se o bolo estava assado, espetei um palito de dentes bem no centro dele: como a madeira saiu cheia de massa úmida grudada, eu soube que era preciso assar mais. Depois de um pouco mais de forno, fiz o teste do palito novamente e, desta vez, ele saiu limpinho.

Tirei o bolo do forno e, depois de fazer vários furinhos na massa com o palito, despejei sobre o doce a xícara restante de suco de laranja.

Banana em calda (eu só queria um docinho)

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Terminei o almoço com vontade de comer sobremesa, mas a opção disponível no restaurante (picolé) definitivamente não era o que eu queria. Horas mais tarde, quando a fissura ainda me acompanhava, decidi vasculhar o caderno de receitas da minha mãe. Lá estava a solução: doce de fruta em calda, que eu faria aproveitando umas bananas bem maduras, perto de passar do ponto. Simplíssimo. Mas consegui me enrolar.

Já fiz doce de banana outras vezes. Na panela e no forno. Com e sem açúcar. Cozido em água ou acrescentando só um tiquinho de líquido para soltar o caramelado que gruda no fundo do recipiente. Sempre fica bom, mas geralmente não é belo.

Desta vez, a ideia era seguir as instruções da receita, e ela indicavam que eu deveria “dar uma fervura na fruta primeiro”. Cortei as bananas em rodelas, joguei em água fria suficiente para cobri-las e deixei ferver. No meio do caminho, pensei: jogo fora a água?

Liguei para a minha mãe, e ela: “Ah, banana eu não teria fervido. Isso é pra outras frutas mais durinhas, como goiaba. Com banana eu só faria uma calda e jogaria as rodelas nela. Se você jogar fora a água, vai perder o gosto.”

Legal, mas as minhas nove bananas pratas já estavam na água. Resolvi deixar lá, mexendo pouco, até a água evaporar. À parte, fiz uma calda com ¼ de xícara de açúcar e um pouco da água do cozimento da banana. Só no final, juntei a banana e deixei evaporar um pouco mais.

Ruim não ficou. Mas ficou pior que outros doces de banana que já fiz. As bananas ganharam uma consistência molenga, farinhenta. Para comer de colherada, não me convenceu. Mais tarde, vou tentar servir como calda de sorvete. E da próxima vez vou seguir as instruções dadas por telefone pela minha mãe. Aí conto aqui como ficou.

Para cozinhar mais:

Uma receita vapt-vupt para comemorar o Dia Mundial do Pão

Pão de minuto com manteiga

Quando estou na cozinha, muitas vezes me sinto como uma criança brincando com kits de pequeno cientista ou pequeno mágico. Fazer pão é o auge dessa sensação. Você pega uns pós e uns líquidos, mistura até transformá-los em um massa gosmenta, coloca esse negócio no forno, espera alguns minutos e… Tcharan! Tira de lá uma das melhores coisas do mundo.

Dito isso, eu nem precisava de uma desculpa para fazer pão, mas hoje eu tinha uma: 16 de outubro é o Dia Mundial do Pão. Vasculhei o caderno de receitas da minha mãe e encontrei o  pão de minuto da Genoveva. Prepará-lo leva cerca de meia hora a mais do que o nome da receita promete (uns 20 minutos de forno e outros dez para preparar), mas é de fato rapidinho e fácil.  Para ter ideia, a parte mais chatinha é ralar o parmesão, que, ao ser aquecido, espalhou um cheiro delicioso na casa.

Não sei se dona Genoveva – avó de amigas da minha mãe, vizinhas dela na infância em Curitiba – usava queijo ralado na hora ou de saquinho, mas eu sempre prefiro o gosto da primeira opção. Quanto à margarina que constava nos ingredientes originais, troquei por manteiga. E, na hora de comer os pãos quentinhos, de massa saborosa e quebradiça, pus mais manteiga. Melhor deixar a ricota para comer outra hora com um pão integral magrinho.

Pão de minuto da Genoveva

Ingredientes

  • 1 xícara de amido de milho
  • 1 xícara de farinha de trigo
  • 1 colher de sopa cheia de fermento químico em pó
  • 1 colher de sopa de açúcar
  • 1 colher de chá rasa de sal
  • 1 ovo (mais uma gema para pincelar os pães)
  • 2 colheres de sopa cheias de manteiga (mais um pouco para untar a forma)
  • ½ xícara de leite
  • ½ xícara de parmesão ralado (mais um um pouco para polvilhar sobre os pães)

Modo de preparo

Sobre uma tigela, peneirei o amido de milho, a farinha de trigo, o fermento, o açúcar e o sal. Juntei um ovo, as duas colheres de sopa de manteiga, o leite e a ½ xícara de queijo ralado.  Misturei tudo com as pontas dos dedos, sem sovar (ou seja, sem apertar a massa com a base das mãos), até a massa ficar bem ligada.

Enrolei sete pãezinhos com cerca de 4 centímetros de comprimento e os dispus em uma assadeira untada. Pincelei gema sobre cada um deles e polvilhei queijo ralado por cima.

Assei em forno quente (200ºC) por 20 minutos.

Sopa fresca de vegetais

Sopa Walita - sopa morna de vegetais - Foto O Caderno de Receitas

Poucas coisas remetem mais ao aconchego de um lar do que um prato de sopa. Esta de vegetais que eu vou ensinar hoje era uma das favoritas dos jantares da minha infância – compete com a de feijão, a de letrinhas e o caldo verde; com certeza ganha daquela de legumes batidos até todos os gostos virarem uma coisa só.

Recentemente, em uma visita da minha mãe à minha casa, nós folheamos o caderno de receitas dela e eu escolhi esta para fazermos juntas. Como os vegetais, com exceção da batata, são adicionados crus, em temperatura ambiente, a sopa não é muito quente, então cai bem em uma noite de primavera. Serve como entrada ou prato único e é simples mesmo de fazer. Basicamente, é só cozinhar umas batatas e bater o caldo com os vegetais – não por acaso, minha bisavó Maria, mãe da minha avó paterna, aprendeu a preparação em um curso de uma marca de liquidificadores.

Com certeza vou repetir a receita. Só aconselho cautela para fazê-la em uma noite romântica, porque o sabor pungente do alho-poró, que eu adoro, para alguns pode não ser o melhor tempero de beijos.

Ingredientes da Sopa Walita

Ingredientes

4 batatas

50 gramas de parmesão

1 ou 2 cenouras em pedaços

1 ou 2 talos de alho-poró

Um pouco de cheiro-verde

1 tomate cortado em 4

1 colher de manteiga

Sal

Pimenta-do-reino

Modo de preparo

Cozinhei a batata em pedaços em uma pequena quantidade de água e sal (líquido suficiente para cobri-las).

Ralei com um mixer (mas você pode usar o liquidificador – é que o meu quebrou) o parmesão, a cenoura, o alho-poró e o cheiro-verde. Em seguida, juntei a batata e a água do cozimento e bati junto com os outros ingredientes. Por último, adicionei o tomate e bati.

Como a sopa estava um tanto grossa, juntei um pouco de água quente. Finalizei com a colherada de manteiga e mexi.

Ao servir, ajustei o sal e acrescentei um pouco de pimenta-do-reino ralada na hora.

Bolinhos de polvilho quase como na fazenda

Ontem eu e minha mãe cozinhamos juntas pela primeira vez desde a minha adolescência. Ela veio me visitar em São Paulo com a desculpa de comemorarmos meu aniversário, embora eu saiba (e concorde) que a atração principal aqui de casa é meu filho. Foi gostoso cabular o trabalho para passar um tempo com ela e o pequeno, com direito a fornadas de bolinhos de polvilho saindo no meio da tarde.

Para minha mãe, esses bolinhos lembram infância. Mais especificamente, as férias que ela passava em Lages (SC) na fazenda de meus tios-avós – na minha memória, um lugar quase mítico, aonde eu nunca fui, mas que imagino em detalhes pelas histórias que sempre ouvi.

Na casa da tia Vera e do tio Afonso, toda tarde se espalhava pelo ar o cheiro dos bolinhos de polvilho que seriam servidos logo mais, acompanhados de manteiga, queijo e geleia. A receita levava a coalhada escorrida produzida ali mesmo, que descansava em bacias na cozinha e era consumida também pura, feito iogurte, no café da manhã.

Difícil competir com a coalhada azedinha e gelatinosa das vacas da fazenda. Nos arredores do meu prédio, não encontramos coalhada nenhuma e partimos para o plano B, que é usar ricota. Fizemos uma rodada e achamos meio insossa. Seguimos então instruções adicionais dadas por telefone por outra tia-avó, Myriam, que, aos 92 anos, mora sozinha em Florianópolis, continua cozinhando e adora discutir peculiaridades de diversas versões de receitas.

Com mais manteiga e sal, os bolinhos da segunda fornada ficaram bem mais saborosos (que surpresa, né?), apesar de minha mãe ainda notar uma certa falta de acidez na massa. Em lanche da tarde, são uma boa base para passar manteiga ou geleia – testei com uma orgânica de figo ótima, da marca Novo Citrus, e com o docinho de abacaxi que eu resolvi usar feito geleia.

Se você pretende testar a receita, sugiro prestar atenção nas dicas da tia Myriam:

– A quantidade de manteiga sugerida é mesmo só uma sugestão. Como o teor de gordura e água na coalhada e na ricota variam, essas proporções precisam ser ajustadas. Se usar ricota, provavelmente você precisará usar mais manteiga (na segunda fornada, eu usei o dobro da sugestão da receita) e talvez leite.

– A massa tem que estar úmida o suficiente para não ficar quebradiça ao ser moldada, mas também não pode ser molenga. (Eu achei a textura parecida com a de massinha de brinquedo).

– Nenhum médico vai concordar com isso, mas capriche no sal. Aos poucos: vá testando a massa crua. Deve estar salgadinha.

– Deixe os bolinhos crescerem e dourarem um pouco.

– É normal (e charmoso) que, ao assar, eles ganhem rachaduras na superfície. Mas, se racharem demais, faltou manteiga.

– Essa dica é minha: não esqueça o avental e evite roupas escuras ao misturar os ingredientes. O polvilho cria uma névoa branca que salpica até a calça.

Ingredientes

300 gramas de coalhada escorrida (ou ricota)

2 ou 3 ovos (dependendo do tamanho)

2 colheres de manteiga (ler dicas acima)

1/2 colher de sopa de sal (ler dicas acima)

1/2 quilo de polvilho azedo

leite (se necessário)

Erva-doce (opcional. Eu fiz sem)

Modo de preparo

(Já segue @ocadernodereceitas no Instagram? Lá eu postei um vídeo do passo a passo desta receita)

Em uma tigela, misturamos os ingredientes, juntando o polvilho aos poucos. Como a massa estava esfarelando, acrescentamos um pouco de leite (na segunda fornada, colocamos também mais manteiga e sal). Eu e minha mãe nos revezamos para sovar bem a massa (ela me mostrou como fazer isso usando a almofada da base da mão).

Com a massa sovada, fizemos cobrinhas curvadas como um S com cerca de 4 cm de comprimento. Colocamos em uma assadeira untada, deixando espaço para os bolinhos crescerem. Eles ficaram prontos em pouco mais de 20 minutos.

As duas fornadas renderam uns 30 bolinhos. Um terço da massa sobrou, e a congelei para assar mais tarde (a graça desses bolinhos é comê-los assim que saem do forno).

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