Categoria: Histórias e receitas

Histórias e receitas: da minha família ou da sua, de chefs de cozinha, de cozinheiros amadores e de todo mundo que tem uma boa lembrança de comida.

Torta de chocolate com creme de baunilha e chantilly – meu filho não quis, então sobrou mais para mim!

Torta de chocolate com creme de baunilha e chantilly

– Filho, vamos fazer uma arte?
E ele, todo sorrisos, aparece na cozinha.
– Sim!
– Vamos lamber o chantilly da pá da batedeira?
– Eca!
Pois é. Esta receita não fez muito sucesso com meu filho, que de cara implicou com o chantilly e, depois, nem quis provar a torta coberta pelo creme branco (gosma? A Coisa?). Olhou para mim com horror, como quem diz:
– Por que você fez uma coisa dessas com chocolate? Justo com chocolate!
Meu filho está errado.
Esta torta é uma delícia, e o chantilly combina perfeitamente com as camadas de biscoito de chocolate e o creme de baunilha com passas.
Há tempos minha mãe dizia que eu deveria testar a receita, uma das favoritas dela. Nos aniversários, era o que ela pedia para minha avó fazer. No fim das contas, fizemos juntas, eu e minha mãe, durante uma visita dela. Ainda bem, porque a receita tinha trechos dúbios ou muito simplificados, como o recheio de “creme de leite e ovos”, citado assim, sem explicação. A ideia é fazer um creme com leite, gemas, açúcar e baunilha. Como minha mãe estava presente, deu tudo certo.

Pedaço de Torta de chocolate com creme de baunilha e chantilly

Teste número 61: torta de chocolate
Fonte – Caderno de receitas da minha mãe.
Grau de dificuldade – Médio.
Resultado – Uma delícia, embora meu filho não admita. Servi em casa e em uma aula de degustação de vinhos (no fim da aula).

Ingredientes
Para a massa:
1 xícara de açúcar
200 gramas de manteiga gelada
1 ovo inteiro
3 xícaras de farinha de trigo
1 xícara de chocolate em pó
1 colher (chá) de fermento
Para o recheio:
500 mililitros de leite
2 gemas
60 gramas de açúcar
40 gramas de amido de milho
1 colher (café) de extrato de banilha
Uvas-passas a gosto
Rum, brandy ou outra bebida para hidratar as passas
Para a cobertura:
500 mililitros de creme de leite fresco
2 colheres (sopa) bem cheias de açúcar
Flores comestíveis (opcional)

Modo de preparo da massa
Com os dedos, misture o açúcar, a manteiga e o ovo, depois junte a farinha e o chocolate e, por último, o fermento. Amasse bem a massa e divida em três partes.
Você vai precisar de três formas iguais untadas e enfarinhadas (ou vai assar uma parte de cada vez na mesma forma, lavando-a entre as etapas para tirar restinhos que possam queimar).
Espalhe a massa na forma como se fosse um biscoitão, com espessura de cerca de um centímetro. Asse no forno a 200 ºC e preste atenção para não queimar (no meu forno, cada parte levou uns 10 minutos para ficar pronta).

Modo de preparo do recheio
Junte todos os ingredientes e leve ao fogo baixo, mexendo sempre, até engrossar e ficar com consistência de mingau.
Em uma tigela pequena, despeje as passas e um pouco de bebida para hidratá-las. Reserve.

Modo de preparo da cobertura
Um pouco antes de começar, coloque o creme e os utensílios (tigela e pá da batedeira) no congelador, para que fiquem bem frios.
Bata o creme até que comece a ganhar consistência. Sem parar de bater, acrescente aos poucos o açúcar e continue a bater até virar chantilly. Cuidado para não exagerar e fazer manteiga.
Mantenha refrigerado.

Montagem
Sobre o prato, coloque uma camada de massa, cubra com o creme de baunilha e salpique as passas. Repita o processo e finalize com a terceira camada de massa.
Se sobrar um pouco de bebida das passas, despeje na massa.
Use uma espátula ou uma colher e uma faca sem ponta para espalhar a cobertura de chantilly. Se quiser, enfeite com flores comestíveis.
Mantenha a torta refrigerada.

Dica: essa sobremesa fica melhor no dia seguinte. Se puder, faça com antecedência.

Preparo de torta de chocolate com creme de baunilha e chantilly

Batata-doce de microondas com mel

Batata-doce de microondas com mel
Nem tenho coragem de chamar isto de receita. Está mais para dica de lanche rápido. E remete a uma das sobremesas de que eu mais gostava na infância: mandioca com mel. O cúmulo da simplicidade saborosa.

Desta vez, usei batata-doce roxa, porque encontrei na feira de orgânicos do Parque da Água Branca e, além de gostosa, é linda, linda. Mas este preparo funciona também com outras variedades: lave a batata-doce; fure a casca em vários pontos com um garfo; cozinhe no microondas por alguns minutos (esta deixei 3 minutos) até que fique macia (teste espetando com o garfo); abra ao meio no sentido do comprimento; despeje mel por cima.

Bom proveito!

(Ah, quanto à mandioca com mel, simplesmente cozinho em água, escorro e despejo mel.)

Bombom de mamão verde glaçado e outras delícias da Dona Doceira

Os rolinhos de fita de mamão saíram do pote de compota para se exibir no prato (foto: Fotos: Lucas Terribili / Divulgação)
Os rolinhos de fita de mamão saíram do pote de compota para se exibir no prato

A Dona Doceira, marca goiana que já mantinha atelier em São Paulo, abriu recentemente um café para vender suas criações, antes vistas em casamentos e outros eventos. Flores de coco coloridas, limõezinhos recheados de doce de leite, rosas de suspiros e outras doçuras ocupam um balcão de farmácia dos anos 1950 na loja instalada em uma vila no Itaim Bibi e decorada com objetos de família da proprietária, Adriana Lira. Vem da fazenda da família dela também parte dos ingredientes, como as frutas de produção orgânica.

Nas paredes, quadros com versos lembram que a inspiração ali são os doces de raiz de Goiás Velho, celebrizados pela poeta e doceira Cora Coralina. Para chegar às receitas, Adriana Lira recorreu às memórias de infância, recheadas de avós, bisavós e tias-avós quituteiras, e bateu na porta de cozinheiras goianas — muitas delas ajudaram, até certo ponto. “O pulo do gato não foi passado”, conta. “Tive que perder muita flor de coco até aprender.” (Um desses truques — cozinhar o mamão verde até perder o esbranquiçado —, Adriana passa na receita abaixo.)

Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.” – Cora Coralina

Na versão de Adriana, os doces perdem parte do açúcar e ganham delicadeza: os rolinhos de fita de mamão verde, por exemplo, saíram dos potes de compotas para se exibir sobre pratos; as flores de coco, montadas uma a uma em um processo que leva cerca de meia hora, aparecem com novos sabores, como lavanda, goiaba e maracujá (e corantes naturais em vez da anilina que hoje tinge mesmo os doces das senhoras de Goiás Velho).

À tarde, a Dona Doceira serve café goiano, tostado na lenha e coado. Entre os acompanhamentos, biscoito de queijo e erva-doce, peta (biscoito de polvilho), bolo de araruta e empadão “importado” de Goiás, apresentado em cumbucas de barro e, segundo Adriana, feito como deve ser, com guariroba, frango em cubos — nunca desfiado —, pedaços de porco, linguiça, ovo, tomate em pedaços (não em molho) e banha na massa.

Sobre um carrinho de chá que foi da mãe de Adriana, o licor de murici, cortesia, ajuda a se sentir em casa. E foi bem essa a ideia da doceira ao montar o lugar com “uma elegância escondidinha, simples”, que, para ela, é típica do goiano. “Eu quis passar como é ser recebido em uma casinha de Goiás”, diz.

Café goiano na Dona Doceira
Aceita um café goiano?

Bombom de mamão verde glaçado

Ingredientes
1 mamão verde pequeno
1 litro de água
300 gramas de açúcar
Cravo e anis
Para glaçar:
250 mililitros de água
150 gramas de açúcar

Preparo
Lave o mamão e parta ao meio em sentido longitudinal. Tire as sementes e faça fitas usando cepilho ou descascador. Com as fitas, faça rolinhos e junte-os com agulha e linha, formando um cordão. Deixe os cordões de molho por dois dias, trocando a água pelo menos 3 vezes por dia. Faça a calda em ponto de fio com a água, o açúcar e as especiarias e cozinhe os cordões por 30 minutos ou até a fita do mamão perder a cor branca opaca e ficar transparente. O docinho estará pronto para compota.

Se quiser glaçar, para servir individualmente, coloque os 250 mililitros de água e os 150 gramas de açúcar no fogo, por mais ou menos 20 minutos até atingir 106 ºC. Não mexa em nenhum momento. Se sujar as bordas da panela com respingos, vá limpando com um pano. Terminado o processo, banhe os rolinhos de mamão, já sem o cordão. Coloque para secar em local fresco por 2 horas. Depois de pronto, coloque em tapetinhos transparentes e logo após em forminhas.

 

Um bolo e as delicadas flores de coco da Dona Doceira
Um bolo e as delicadas flores de coco da Dona Doceira

Adriana Lira, a Dona Doceira
Adriana Lira, a Dona Doceira

Serviço:
Dona Doceira – Rua Tabapuã, 838 (dentro da vila), Itaim Bibi. Telefones 
(011) 2157-6114 / 99227-7361 ou (062) 9252-4447.

Fotos: Lucas Terribili / Divulgação

Para cozinhar mais:

A cozinha e o tempo (ou: o doce de figo de três dias)

figo em caldaPela casa toda, o perfume de figo. Ontem também. Nos meus dedos, idem. E a receita começou antes, anteontem.

Que trabalheira, né? Não.

O doce de figo demandou tempo. Paciência. Mas nem tanto trabalho. Exige, sim, algum planejamento. Mais do que isso, pede reorganização de ideias. Porque não estamos acostumados (eu pelo menos não estou) a esperar três dias por uma sobremesa. Receita atraente é receita fácil, prática, talvez “de liquidificador”, quase instantânea — ou curta o suficiente para parecer amigável em um vídeo espiado no Facebook entre uma tarefa e outra.

Enquanto descasco figo depois de figo, alguns antes e alguns depois do jantar, penso, um tanto ranzinza, que preparo de compota não se encaixa na minha vida. Fazia sentido para minhas avós, tias-avós e bisavós que dedicavam uma parte considerável do dia aos quitutes que adoçavam a família. Não para mim, para a minha rotina.  Mesmo bacalhau, só uso daquele já dessalgado… No máximo, espero a fermentação da massa do pão. Aos poucos, no entanto, reavalio meu mau humor. Tremenda bobagem.

Estar ali, na cozinha, faquinha em uma mão e fruta cheirosa na outra, é um prazer. Se eu tivesse obrigação de descascar mil frutas por dia, seria outra história… Mas não. Quero fazer esse doce, e o caminho até ele passa por tirar a pele verde e grossa dos sessenta e quatro figos verdes rechonchudos. Com calma.

Tiro um pedaço de pele verde, ouço meu filho brincar no quarto, tiro mais uma pele, ouço meu marido ralhar com meu filho, tiro mais uma, “filho, você jogou todas as roupas das gavetas no chão!”, tiro mais uma, “não pisa nas roupas!”, tiro mais uma… Em dado momento, meu marido vem me ajudar e, juntos, pelamos todos os figos. O cozimento fica para o dia seguinte, porque deu vontade de ver uma série na TV sem preocupação com frutas dançando em calda quente.

Engraçado. Divido a atenção entre grupos no WhatsApp, consumo informações via redes sociais em inúmeros (inúmeros) acessos ao longo do dia, mas acho estranho diluir no tempo o preparo de um prato. Na verdade, olho o celular incontáveis vezes ao dia porque não consigo esperar. Ou porque não consigo esperar simplesmente pensando na vida. Nem que seja só um tiquinho, só até o elevador chegar. De vez quando preciso de um figo em calda para me fazer parar. (E de lambuja ganho um doce lindo e aromático para açucarar meus dias.)

Teste número 60: compota de figo verde
Fonte – Caderno de receitas da minha mãe.
Grau de dificuldade – Médio.
Resultado – Um doce bem doce e perfumado. Com queijo fica uma coisa!

Ingredientes
1 quilo de figos verdes
1 quilo de açúcar
4 cravos

Modo de preparo
A receita original sugeria envolver as mãos em fubá e usar uma gilete para descascar as frutas. Parecia a receita certa para um acidente, então pesquisei alternativas e cheguei a isto: com uma faca, corte os cabinhos dos figos e, no lado oposto (o mais arredondado), faça um corte em cruz na pele. Arranje as frutas em uma panela, cubra com água e ferva por 10 minutos. Desligue o fogo, escorra as frutas, espere que esfriem e então as coloque em um saco plástico com pouco ar. Deixe no refrigerador por pelo menos 24 horas.

Tire o saco do refrigerador e deixe as frutas descongelarem em temperatura ambiente.

Com ajuda de uma faquinha, retire a pele dos figos, puxando a partir do corte em cruz. Passe as frutas por água, depois escorra. Com cuidado para não arrebentar, dê uma espremida leve em cada uma delas, soltando o excesso de líquido.

Faça uma calda com o açúcar: coloque-o com 250 ml de água em uma panela em fogo baixo até derreter, sem mexer, por cerca de 5 minutos.  

Coloque os figos e os cravos na calda. Deixe ferver e mantenha no fogo médio até que comecem a ficar transparentes (cerca de uma hora). Quando a calda estiver engrossando, adicione água.

Dica: se você não for servir o figo imediatamente e quiser guardá-lo em potes, é melhor fazer mais calda, porque a fruta se conserva melhor quando submersa nesse líquido.

figo em calda aberto

Espinafre com requeijão gratinado

espinafre com requeijãoSegunda-feira, vamos de básico com um gostinho especial. Esta receita eu tirei do caderno da minha mãe e fiz, em parte, com ingredientes orgânicos (o espinafre e o requeijão, comprados na feirinha do Parque da Água Branca). Servi como acompanhamento de um frango refogado e, no dia seguinte, com uma carne grelhada. Comida simples, do conforto, com jeito de casa de mãe mesmo — como a que eu comia na casa da minha mãe e agora faço para o meu filho.

Teste número 59: espinafre com requeijão
Fonte – Caderno de receitas da minha mãe.
Grau de dificuldade – Fácil.
Resultado – Um acompanhamento reconfortante. Mas podia ter ficado menos líquido. Da próxima vez, vou fazer sem leite.

Ingredientes
½ pote (cerca de 100 gramas) de requeijão cremoso
1 maço grande de espinafre picado
½ cebola pequena picada
1 colher (sopa) de manteiga
Sal
Pimenta-do-reino
Um pouco de leite (opcional)
Parmesão

Modo de preparo
Refogue a cebola na manteiga. Ainda mexendo, junte o espinafre, o sal, a pimenta, o requeijão e, se quiser, o leite (mas eu achei que, com leite, ficou um pouco líquido demais, pois o espinafre solta água).

Transfira para uma assadeira, rale queijo parmesão por cima e leve ao forno para gratinar.