Categoria: Histórias e receitas

Histórias e receitas: da minha família ou da sua, de chefs de cozinha, de cozinheiros amadores e de todo mundo que tem uma boa lembrança de comida.

Pudim de limão-siciliano da Ana

pudim-limao-sicilianoSemana passada publiquei uma receita e uma lista de dicas para fazer pudim. Alguns dos conselhos foram passados por uma ex-colega de trabalho, Ana Paula Pontes, jornalista e dona da Pudim a gosto.

Mais ou menos na mesma época em que comecei a resgatar receitas dos cadernos da minha família, Ana abriu a empresa em que vende doces inspirados em sabores da sua infância. Quando conversamos há alguns dias, eu estava envolvida com testes desastrados e fiquei aliviada em saber que uma especialista já tinha passado por perrengues parecidos. Segui as instruções dela, como a de cobrir a forma com papel alumínio, e me dei bem.

De família portuguesa, Ana aprendeu a preparar pudim com a mãe, e a sobremesa materna ainda é sua favorita. ”Sempre amei fazer doces, desde pequena, porém o pudim era um dos que eu não acertava”, conta a jornalista, adepta da versão lisa, sem furinhos. “Foi tanto desafio para aprender que se tornou meu negócio do coração.”

Hoje a Pudim a gosto vende 12 tipos de pudim, por encomenda ou nos eventos em que comparece com uma food bike. Compartilho a seguir uma dessas receitas, passada por Ana. Segundo ela, o sabor costuma surpreender os clientes (mas o tradicional de leite condensado ainda é o mais vendido).

Ingredientes
2 limões-sicilianos
1 ½ lata de leite
2 xícaras (chá) de açúcar
1/2 xícara (chá) de água
3 ovos grandes
1 lata de leite condensado

Modo de preparo
Descasque um limão-siciliano e meio (reserve a outra metade), junte as cascas ao leite e leve ao fogo para ferver. Desligue o fogo, tampe a panela e deixe esfriar antes de seguir com o preparo do pudim.

Junte o açúcar e a água em uma panela e ferva em fogo brando até atingir uma cor dourada. Coloque uma colher (sopa) da calda em cada forma e vire com cuidado para untar a superfície interna.

Abra os ovos e retire a película das gemas, puxando-a com os dedos (isso evita o cheiro de ovo no doce). Bata os ovos e passe-os por uma peneira.

Em uma tigela, coe o leite aromatizado, retirando as cascas, e acrescente o leite condensado e os ovos. Jogue a mistura nas formas, cubra uma a uma com papel-alumínio e leve ao forno em banho-maria a 180°C por cerca de uma hora e meia.

Deixe na geladeira por pelo menos 4 horas.

Para desenformar, coloque as formas (se forem de alumínio) na chama do fogão por 10 segundos, em fogo baixo. Passe a faca em volta do pudim para desprendê-lo e vire sobre um prato. Enfeite com as raspas (só a parte verde) da metade do limão que tinha sido reservada.

Rendimento: 8 minipudins.

Ana Paula Pontes e a bicicleta da Pudim a gosto (foto: divulgação)
Ana Paula Pontes e a bicicleta da Pudim a Gosto (foto: divulgação)

Gelatina com laranja de verdade: um jeito diferente de servir suco

ingredientes para gelatina de laranjaGeralmente eu acho gelatina uma coisa meio besta. A última opção de doce no bandejão da firma, aquela que você só pega no dia em que o abacaxi está amarrando a boca. Mas meu filho de dois anos discorda. Experimentou a sobremesa na escola e pediu para comer também em casa. Então lá fui eu buscar uma opção mais saborosa e saudável do que os pós adoçados, coloridos e aromatizados artificialmente vendidos em caixinha. Encontrei então esta receita de gelatina de laranja, que é muito, muito simples.

Se optasse por um pó sabor fruta, teria dado ao meu filho os seguintes ingredientes: açúcar, gelatina, sal, vitaminas A, C e E, reguladores de acidez citrato de sódio e ácido fumárico, aromatizante, edulcorantes artificiais aspartame, ciclamato de sódio, acessulfame de potássio e sacarina sódica e corantes artificiais tartrazina e amarelo crepúsculo FCF (composição de uma gelatina de abacaxi de um grande fabricante).

Em vez disso, dei ao meu filho laranjas-peras orgânicas, gelatina e um pouco de água. Nem açúcar coloquei, porque ele é fã dos alimentos ácidos e o suco estava ótimo mesmo sem adoçar. É verdade, tive que espremer laranjas, mas acho que valeu a pena. Até eu gostei. Servi a gelatina no jantar e no dia seguinte, no café da manhã. Sem culpa. Porque é basicamente um jeito diferente de apresentar um suco de fruta.

Teste número 37
Receita – Gelatina de laranja.
Fonte –
Caderno de receitas da minha mãe.
Grau de dificuldade – fácil, fácil.
Resultado – Gostoso. Uma sobremesa leve, ou parte de um lanche.

Ingredientes
5 folhas de gelatina sem sabor
5 laranjas
½ xícara de água
Açúcar a gosto (eu não coloquei nada, mas a receita pedia, e acho que a maior parte das pessoas vai preferir adoçar um pouco)

Modo de preparo
Piquei a gelatina e misturei com 5 colheres de sopa de água.

Espremi as laranjas.

Juntei o restante da água à gelatina e levei em uma panela ao fogo baixo até dissolver, sem deixar ferver. Tirei do fogo e juntei o suco de laranja.

Passei o líquido por uma peneira e em seguida o distribuí em quatro pequenas formas de silicone. Deixei na geladeira por seis horas.

Na hora de desenformar, passei com cuidado uma faca nas laterais das formas, então as virei sobre pratinhos e apertei um pouco para soltar os doces.

Um pudim de cada vez

Pudim de leite condensado, baunilha e limão: refiz a receita para descobrir o que minha avó não dizia (foto: O Caderno de Receitas)

Eu nunca tinha feito um pudim antes de começar o projeto de testar as receitas dos cadernos da minha mãe e da minha avó. Na verdade, não me lembro de ter visto alguém fazer um pudim (minha mãe deve ter cozinhado alguns, mas não acompanhei, ou não guardei na memória). Para cozinheiras experientes, preparar essa sobremesa que eu adoro provavelmente é fácil, mamão com açúcar. Mas eu penei para chegar a um resultado satisfatório. Fiz, refiz, pedi conselhos, refiz, gritei por socorro, refiz novamente. E aí deu certo. Para o bem da minha auto-estima.

Entre todos esses testes, aprendi alguns truques que não estão escritos nos cadernos de receitas. Se você também nunca fez um pudim, ou nunca fez um que deu certo, ou faz bons pudins mas acha que ainda pode aprender alguma coisa, siga-me.

9 fatos que aprendi ao fazer pudim

1. Ele exige tempo.
Depois de pronto, o doce deve passar pelo menos seis horas na geladeira antes de ser tirado da forma. Minha primeira tentativa, um desastre completo, já começou mal quando, munida de presunção e uma receita ultra-resumida do caderno da minha mãe, resolvi preparar a sobremesa de última hora, para um jantar com convidados. Mesmo se o creme não tivesse vazado no forno (ver item 2), o pudim não teria esfriado o suficiente, desmoronando na hora de desenformar.

2. Nem toda forma serve.
Eu sabia da existência de forma específica para pudim, com um furo no meio, mas não tinha uma em casa e arrisquei usar uma forma de fundo removível. No forno, parte do creme escapou e invadiu a água do banho-maria, criando uma meleca aromática e difícil de limpar sem entupir a pia. Depois, fiz testes em uma forma de alumínio própria para pudim e em miniformas de silicone. As duas versões funcionaram, mas a pequena fez mais sucesso com meu filho, que gostou de ver a sobremesa sair da forma direto para o pratinho dele.
Outra opção, sem a emoção de desenformar, é assar e servir o doce em tigelinhas individuais.

3. Açúcar queimado não é bem açúcar queimado.
Gosto de pudim nadando em calda. Fazê-la são outros quinhentos. Fui da rala e clara demais à queimada, meio amarga. Por fim, cheguei ao caramelo dourado dos meus sonhos. Seguindo orientação da Regina, diarista que faz a limpeza de casa e é uma supercozinheira, primeiro joguei uma xícara de açúcar em uma panela de fundo grosso. No fogo médio, fui mexendo até dourar (sem chegar a queimar de fato), então adicionei meia xícara de água (cuidado aqui, porque o açúcar fica muito quente, e o vapor também). Mexi mais até a água o açúcar se misturarem bem. Untei o interior da forma com a calda, lambuzando toda a superfície, e deixei um laguinho delicioso no fundo.

4. Cheiro de pudim assando é tão bom quanto pudim.
O que torna uma provação esperar horas para comer o doce.

5. Está pronto quando a parte de cima (que será o fundo) começar a mudar de cor.
Outro conselho da Regina, mencionada no item 3.

6. Papel-alumínio mantém o creme homogêneo.
Dica de Ana Paula Pontes, que aprendeu a fazer o doce com a mãe e hoje é dona da empresa Pudim a Gosto: cobrir a forma com papel-alumínio durante o cozimento evita a formação de uma crosta na superfície. Testei e deu certo.

7. O segredo para tirar da forma está no trio paciência, faca e fogão.
“Primeiro, jamais tente fazer isso com o pudim quente”, diz Ana Paula. “Depois, basta aquecer um pouco a forma em cima da chama do fogão, passar com firmeza uma faca sem serra em volta do doce, girar um pouquinho a forma de um lado para o outro, para que se desprenda, e, então, virar em um prato.” Atenção: o truque da chama não vale para utensílios de silicone que não devem ser colocados diretamente sobre o fogo.

8. Quebrou? Tem conserto.
Nem sempre dá certo. Acontece de a gente se esforçar e o pudim rachar mesmo. Tudo bem. Eu quero doce, não quero estresse. “Em vez de colocar a sobremesa inteira na mesa, sirva individualmente no prato com a calda por cima”, sugere Ana Paula.

9. Não sou bidu.
Eu já deveria saber, mas às vezes esqueço. A gente aprende vendo. Melhor ainda, aprende fazendo junto. Mas o que não aprendi em casa, com a minha mãe (que se dividia entre trabalhar fora e cuidar de três filhos), posso buscar em outras fontes: uma amiga, o marido, a diarista, um professor, a internet, um livro ou mesmo minha mãe, que está a um telefonema de distância.

E agora, vamos à receita, tirada do caderno da minha avó materna (o da minha mãe tinha uma parecida, mas sem o tchans do limão).

O minipudim, tirado da forminha de silicone direto no prato de sobremesa do meu filho (foto: O Caderno de Receitas)

Teste número 36
Receita –
 Pudim de leite condensado com baunilha e raspas de limão.
Fonte – Caderno de receitas da minha avó Viquinha.
Grau de dificuldade – Médio (fácil depois que você aprende os macetes).
Resultado – Depois de algumas tentativas, fiz um pudim como deve ser: simples, aromático, doce, cremoso.

Ingredientes
1 lata de leite condensado
1 lata de leite de vaca (medido na lata de leite condensado)
4 ovos
Alguns pingos de extrato de baunilha
Raspas de um limão (pode ser substituído por uma laranja)
1 xícara de açúcar

Modo de preparo
Misture todos os ingredientes, exceto o açúcar, e bata bem. Reserve.

Mexendo sempre com uma colher de pau, derreta o açúcar em uma panela no fogo médio. Quando começar a dourar, junte meia xícara de água (com cuidado, porque o açúcar fica muito quente). Continue a mexer até criar uma calda homogênea.

Use a calda para untar uma forma para pudim e despeje o resto no fundo da forma. Cubra com o creme feito com os outros ingredientes.

Coloque a forma de pudim sobre uma tigela preenchida com água, para cozinhar em banho-maria. Cubra a forma de pudim com um pedaço de papel-alumínio. Leve ao forno a 180ºC. Quando a superfície começar a mudar de cor, faça um teste enfiando um palito na massa. Se sair seco, está pronto (no meu forno, isso demorou cerca de uma hora. Talvez eu pudesse ter cozinhado um tiquinho menos).

Deixe o pudim na geladeira por pelo menos seis horas.

Na hora de desenformar, aqueça um pouco o fundo da forma na chama do fogão. Passe uma facas nas laterais. gire a forma de um lado para o outro e então vire-a sobre um prato grande o suficiente para comportar toda a calda. Se for preciso, dê batidinhas no fundo da forma até o doce se soltar.

Para cozinhar mais:

Torta mousse de iogurte com morangos e merengue

Beleza de sobremesa: torta de iogurte e morangos do Chef Rouge (foto: divulgação)
Beleza de sobremesa: torta de iogurte e morangos do Chef Rouge (foto: divulgação)

Com esta sobremesa do restaurante Chef Rouge eu finalizo a sequência de receitas para o Dia dos Namorados. Mas vamos combinar que ninguém — casado, namorado ou solteiro — deveria precisar de desculpa para aproveitar uma boa refeição em uma sexta-feira à noite, né?

Agora com licença que vou me preparar para a grande noite… Mentira, estou saindo para fazer uma entrevista.

Tarte Rive Gauche

Rendimento: 10 porções

Ingredientes
Para a massa
180 gramas de manteiga
130 gramas de açúcar
2 ovos
350 gramas de farinha de trigo

Para a mousse de iogurte
100 gramas de claras
150 gramas de açúcar
1 copo de iogurte natural
2 colheres (chá) de gelatina sem sabor
400 gramas de chantilly

Para o merengue
150 gramas de clara
300 gramas de açúcar

Para a montagem
1 caixa de morangos
Frutas vermelhas para decoração

Modo de preparo
Da massa
Coloque em um recipiente a manteiga e o açúcar e mexa até a massa ficar homogênea. Acrescente os ovos e mexa por um minuto. Adicione a farinha de trigo e misture. Leve à geladeira e deixe descansar por cerca de 20 minutos. Estique a massa na mesa, modele na forma e leve ao forno por 12 minutos a 180 ºC.

Da mousse de iogurte
Em uma panela, misture 100 gramas de claras e 150 gramas de açúcar, leve ao fogo baixo em banho-maria e mexa até dissolver o açúcar. Depois, bata na batedeira até ficar em neve; acrescente o iogurte e a gelatina e mexa lentamente com uma espátula ou colher, acrescentando o chantilly aos poucos.

Do merengue
Em uma panela, misture 150 gramas de clara e 300 gramas de açúcar, leve ao fogo baixo em banho-maria e mexa até dissolver o açúcar. Depois, bata tudo na batedeira até ficar firme.

Da montagem
Com a massa assada, coloque uma camada de mousse, depois morangos picados e mais uma camada de mousse. Finalize com o merengue e as frutas vermelhas.

Chef Rouge: rua Bela Cintra, 2.238, Jardins., São Paulo. Tel. (11) 3081-7539.

Confira outras receitas para o Dia dos Namorados.

Para cozinhar mais:

Figos recheados de gorgonzola e envoltos em presunto cru

Salada com tomate assado e figo envolto em presunto de Parma e recheado de gorgonzola (foto: divulgação)
Salada de folhas com tomate, figo, presunto cru e gorgonzola (foto: divulgação)

Ainda dá tempo de preparar um prato especial para a noite do Dia dos Namorados (ou para comer sozinho, com gosto). Neste post compartilho uma entrada do menu especial que o restaurante Piselli preparou para a data. Você pode também conferir outras opções, de entrada ao café da manhã seguinte, que publiquei nos dias anteriores.

Rendimento: duas pessoas

Ingredientes
1 tomate italiano
Orégano
Azeite
Sal
Pimenta-do-reino
2 figos frescos
50 gramas de gorgonzola
40 gramas de presunto de Parma
Vinagre balsâmico
Manjerona
40 gramas de radicchio ou rúcula

Modo de preparo
Asse o tomate no forno por cerca de uma hora a 150 graus com um pouco de orégano, azeite, sal e pimenta-do-reino.

Abra os figos em cruz e recheie com o gorgonzola.

Envolva os figos em presunto de Parma e asse-os até o queijo derreter e o presunto ficar dourado (o restaurante recomenda fazer isso no forno à lenha, mas não é todo mundo que tem um, né?).

Para o molho de balsâmico, misture 1/3 de balsâmico com 2/3 de azeite, mais sal, pimenta-do-reino e manjerona picada.

Na hora de servir, coloque as verduras embaixo e o figo e o tomate por cima. Regue tudo com o molho balsâmico.

Restaurante Piselli: rua Padre João Manuel, 1.253, Cerqueira César, São Paulo. Tel. (11) 3081-6043.