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Fruta de sobremesa – em forma de picolé

Picolé de limão com mel

Aí vai mais um post na linha: o que fazer com fruta madura?

Desta vez, fiz picolé. Coisa mais fácil.

É época de manga, adoro manga, compramos demais. Meu filho comeu umas cortadas cubinhos; outras, chupou inteiras, se lambuzando sem medo e sem camisa, como eu fazia em tantas férias no sítio. Ele não tem as mangueiras da minha infância para subir, as frutas vêm da feira mesmo, mas já é alguma coisa pegar o alimento com as mãos, puxar os fiapos com os dentes.

Acontece que sobrou manga. Já ia perder algumas, a polpa molenga demais para receber boas dentadas. Pensei em bater uma vitamina. Ri de mim quando titubeei diante da ideia de misturar manga com leite. Sei que é balela a história de que a combinação faz mal, provavelmente coisa do Brasil colonial que queria manter os escravos longe do leite nas fazendas. Mas essas crendices grudam na gente, às vezes disfarçadas de gosto: manga não combina com leite. Pode combinar, já provei uma boa sobremesa indiana que juntava as duas coisas, mas, na dúvida, que tal um suco?

De tão doce, a manga pedia algo ácido, meio limão espremido. E um pouco de água, para fazer um suco grosso, quase um creme. Peneira, nem pensar. Esse creme podia virar sobremesa. Esse creme podia virar picolé! As forminhas plásticas que andavam esquecidas no armário desde o último verão logo se encheram de manga. Sobraram algumas vazias, e sobravam também bananas maduras no cesto, então fiz uma versão de banana e cacau – desta vez, sem leite, mas já fiz com e fica gostoso.

Nenhum dos picolés foi adoçado, pois as frutas já eram bem doces. Ambos foram testados e aprovados pelo meu filho. (Abaixo, coloquei também o preparo de um picolé de limão que fiz outro dia e que foi igualmente aprovado).

Meu testador oficial de picolés com a versão de banana e cacau (foto: O Caderno de Receitas)

Ingredientes
Picolé 1:
Manga bem madura
Suco de limão
Picolé 2:
Banana bem madura
Cacau em pó
Picolé 3:
Suco de limão cravo
Suco de limão taiti
Mel

Modo de preparo
Bata os ingredientes, despeje em forminhas e deixe endurecer no congelador. (No caso do limão, não precisa nem bater, só misturar.)

Dica
Para facilitar a retirada do picolé pronto, antes de despejar o suco unte levemente o interior das forminhas com um pouco de óleo vegetal pingado em um papel-toalha. Isso não é sempre necessário: fiz só na versão de banana, mais cremosa, que em outra ocasião tive dificuldade para retirar sem quebrar. Na de manga e na de limão, só deixo correr água da torneira sobre o fundo das forminhas antes de retirar o picolé, e as seguro por baixo na hora de puxar.

Para cozinhar mais:

Bolo de cenoura com calda de cacau sem leite

Bolo de cenoura com calda de cacau (sem leite)

Fiz este doce para o meu menino, que está passando por um mês de dieta sem laticínios para investigar uma possível alergia. Tínhamos combinado de fazer um piquenique, e ele, empolgado, queria saber: vai ter bolo? Recorri então a uma receita de massa que lembrava de ter visto no canal Tastemade e inventei na hora uma cobertura de cacau.

O bolo ficou uma delícia, o que me deu mais segurança sobre essa dieta restritiva. Espero que a medida seja temporária, mas até que o período tem sido tranquilo. Fora um almoço em um restaurante onde a garçonete, questionada sobre quais pratos não tinham leite ou derivados, sugeriu que meu filho almoçasse o acompanhamento de salada de folhas. Nesse dia, com um pouco de insistência, encontramos outras opções. Acabamos pedindo uma moqueca.

Quanto ao almoço no parque, precisou ser cancelado porque caiu o maior temporal. Pena, mas acabamos o domingo um piquenique no chão da sala, com direito a toalha xadrez. Um daqueles momentos gostosos que eu espero não esquecer.

Piquenique no apartamento
Ingredientes do bolo
3 cenouras
3 ovos
¾ de xícara de óleo
2 xícaras de farinha
1 ½ xícara de açúcar
1 colher (sopa) de fermento

Ingredientes da calda
½ xícara de cacau em pó 100%
Açúcar aromatizado com baunilha (a gosto)*
1 colher (sopa) de óleo vegetal
Água
*Açúcar guardado com uma fava de baunilha (cujos grãos tinham sido raspados em outra receita)

Modo de preparo do bolo
Com um mixer, bati bem as cenouras com os ovos e o óleo. Em outra tigela, da batedeira, misturei a farinha, o açúcar e o fermento. Juntei a mistura de farinha com a de cenoura, ovos e óleo e bati bem na batedeira.

Despejei a massa em uma assadeira de bolo previamente untada com óleo. Assei em forno pré-aquecido a 200 ºC até que enfiei um palito no meio e ele saiu seco, sem pedacinhos da massa grudados. Esperei o bolo esfriar um pouco e tirei da forma.

Modo de preparo da calda
Mexendo sempre, aqueci o cacau com um pouco de água, açúcar e óleo em uma panela. Provei e estava amargo demais, então adocei mais (só um pouco, porque queria uma calda amarga para equilibrar a doçura do bolo). Joguei a calda ainda quente sobre o bolo desenformado.

O primeiro bolo

bolo de chocolate com cobertura de chocolate

Foi uma lambança, mas valeu cada gota de massa espirrada na parede. De pé sobre um pufe (pobre pufe coberto de chocolate!), meu filho de dois anos pela primeira vez foi meu auxiliar na preparação de um bolo. Ficou uma delícia, mas a melhor parte foi ver a alegria dele ao me ajudar, acompanhar a transformação quase mágica dos ingredientes e, na manhã seguinte, acordar o pai aniversariante para cantar parabéns.

Escolhi essa receita pela simplicidade, pelo chocolate (para o meu marido, não existe sentido em um bolo que não seja de chocolate) e pela nostalgia. Esse era um bolo comum na minha infância, então chamado de nega maluca. O nome já não pega bem, mas a receita fez jus às minhas lembranças — só substituí o achocolatado dos ingredientes por cacau orgânico. E a cobertura? Tão fácil, tão rápida, tão lambuzada, tão gostosa!

Teste número 34
Receita:
bolo de chocolate com cobertura de chocolate
Fonte: caderno de receitas da minha mãe
Resultado: chocolate! Chocolate! (muito bom, embora eu tenha cortado uma parte do fundo da assadeira que ficou meio queimadinha. Preciso me acostumar à assadeira de silicone)

Bolo de chocolate

Ingredientes
1 xícara de óleo
2 xícaras de açúcar
3 ovos
1 xícara de cacau em pó
2 xícaras de farinha de trigo
1 colher (sopa) de fermento em pó
1 xícara de água fervente

Modo de preparo
Com um batedor manual, misturei o óleo, os ovos e o açúcar. Em seguida, juntei o cacau, a farinha e o fermento e bati também. Por último, adicionei a água fervente e misturei aos demais ingredientes.

Assei o bolo em forno a 180º C em uma forma de silicone untada com óleo (o manual de instruções da forma recomendava untar no primeiro uso). Só desenformei quando o bolo já estava frio.

Cobertura de chocolate

Ingredientes
5 colheres de sopa  de leite
1 colher de sopa de manteiga
1 xícara de açúcar
½ xícara de cacau

Modo de preparo
Mexi tudo em fogo baixo até formar um creme. Com uma espátula, cobri o bolo com essa mistura ainda quente.

Meu pequeno cozinheiro em ação
Para cozinhar mais:

Pavê muito simples de chocolate

Pavê de chocolate

Eu queria uma sobremesa simples, mas esta era tão simples que eu fiquei até encucada. Será que não está faltando alguma coisa? Na manhã de sábado, ansiosa porque queria preparar o doce a tempo de servi-lo para convidados no almoço (com emoção é mais gostoso, né?), liguei para a minha mãe em busca de ajuda. Apesar de a receita estar anotada no caderno dela e no da minha avó, minha mãe não se lembrava da preparação. “Hum, não leva nenhum creme de leite mesmo?”, ela perguntou, jogando mais lenha na minha insegurança. Mas depois me encorajou: “Tenta, filha, vai ver que é assim mesmo”.

Tentei. Ao misturar os ingredientes, consegui uma espécie de gemada com chocolate. Ainda em dúvida se aquilo daria certo, corri até a esquina e comprei um pote de sorvete. Mas nem precisava. Algumas horas depois, gelado, meu doce ganhou consistência. Eu tinha um pavê. O sabor do creme de chocolate, que antes de ir à geladeira eu tinha achado muito “ovado”, ficou mais suave, combinando bem com os biscoitos embebidos em vinho (e melhor ainda quando eu o provei com uma conserva de cerejas em vodca feita pelo meu marido).

Ingredientes
3 colheres bem cheias de manteiga
250 gramas de açúcar
5 gemas
3 colheres de cacau em pó (a receita pedia chocolate, mas eu tinha cacau em pó sem açúcar, orgânico, e resolvi usar. Funcionou, porque esse doce realmente não precisava ser mais doce)
Biscoitos tipo champanhe
Vinho de sobremesa (moscatel, no original. Eu usei um restinho de vinho Samos, grego, e completei com um pouco de Porto).

Modo de preparo
Misturei bem a manteiga, o açúcar, as gemas e o cacau até formar um creme (mas acho que podia ter até misturado mais, porque a textura ficou um pouco granulada).

Para montar o doce, espalhei uma camada do creme no fundo de uma tigela. Em seguida, mergulhei rapidamente os biscoitos no vinho, disposto em um prato de sopa, e fiz uma camada de biscoitos sobre a de creme. Fiz então mais uma camada de creme, mais uma de biscoitos embebidos em vinho e mais uma de creme.

Coloquei a tigela no congelador por cerca de uma hora (para acelerar o processo) e depois a desci para uma prateleira da geladeira, onde a deixei até a hora de servir.

6 delícias com história que provei na Semana Mesa SP

Saí do evento Semana Mesa SP, que aconteceu de 3 a 5 de novembro, com boas experiências gastronômicas na memória e um queijo na bolsa – só não comprei mais coisa precisava encarar um longo percurso de transporte público a partir do Senac Santo Amaro, local do evento. As melhores experiências eu compartilho aqui. O queijo é meu.

Este eu levei pra casa: queijo de cabra temperado com aroeira
Este eu levei pra casa: queijo de cabra temperado com aroeira

1. Queijo de cabra da família de Ariano Suassuna

O produto do laticínio Grupiara de Taperoá, na Paraíba, é bom mesmo, mas a história e a embalagem ajudam. A criação de cabras da fazenda Carnaúba, que produz o leite para o queijo, começou há 40 anos, em uma sociedade do escritor Ariano Suassuna com o primo Manoel Dantas Vilar. No Mesa SP, Joaquim Pereira Dantas Vilar, filho de seu Manelito, contou que Suassuna tinha ganhado um prêmio literário pelo Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta e resolveu investir na compra dos animais o dinheiro recebido. São de Suassuna também os desenhos que ilustram a embalagem do queijo, que, ontem, recebeu medalha de ouro no Prêmio Queijo Brasil – Inês, filha de seu Manelito, não conseguia segurar o choro de felicidade pela premiação quando comprei minha caixa de queijo de cabra aromatizado com aroeira no estande da marca.

A versão do Slow Food Campo Grande para o feijão tropeiro leva castanha de baru
A versão do Slow Food Campo Grande para o feijão tropeiro leva castanha de baru

2. Baru tropeiro

Conheci o prato no estande da unidade de Campo Grande (MS) do movimento Slow Food, aquele que prega comer com prazer e calma, valorizando produtos artesanais de qualidade produzidos de forma sustentável. O baru tropeiro que comi ali exemplicava bem a busca pelas origens dos alimentos. Misturava castanha de baru do Assentamento Andalucia, em Nioaque, com feijões verdes das índias terenas, carne soleada à moda pantaneira e farinha de mandioca de Anastácio (cidade conhecida por promover todo ano uma festa da farinha que em que se vende bolo de massa puba a viagra de mandioca – mistura da raiz com leite condensado e pinga).

Azedinho e saboroso, o cambuci rende bons doces (além de ficar ótimo na caipirinha)
Azedinho e saboroso, o cambuci rende bons doces (além de ficar ótimo na caipirinha)

3. Geleia de cambuci com pimenta

Para uma fruta que já foi abundante em São Paulo mas  andava meio esquecida, até que o cambuci tem me perseguido bastante no último mês. Provei seu sabor azedinho pela primeira vez, na forma de sorvete, no Bar e Armazém Cambuci, no bairro paulistano do Cambuci. No fim de semana passado fiz uma segunda visita ao estabecimento e o experimentei novamente em geleia, caipirinha e na própria fruta. No Mesa SP comi outras geleias, incluindo uma com pimenta, e fiquei sabendo da Rota do Cambuci, um projeto que promove festivais para resgatar essa fruta típica da Mata Atlântica do Sudeste.

Para a moqueca ficar melhor, só faltou a vista para o mar
Para a moqueca ficar melhor, só faltou a vista para o mar

4. Moqueca de aratu do chef Edinho Engel

Ok, o Senac Santo Amaro, onde aconteceu o Mesa SP, não tem a mesma vista para a Baía de Todos os Santos. Mas a moqueca de aratu do chef Edinho Engel que eu comi com talheres de plástico durante o evento não deixava nada a dever para o que eu comi no Amado, restaurante dele em Salvador, na Bahia. Até dispensei parte do sanduíche de pernil do Mercadinho Dalva e Dito, do chef Alex Atala, para deixar mais espaço para essa delícia, feita com aratu (um tipo de caranguejo) da cooperativa Repescar, que reúne pescadores artesanais de comunidades da Ilha de Itaparica e conta com uma unidade de beneficiamento de pescado.

Peixe pra vegetariano comer
Peixe pra vegetariano comer

5. Lambaris da horta

Não, não achei que têm gosto de peixe. Fritas e empanadas em farinha de milho, as folhas de lambari da horta ficam com gosto de fritura. Da boa. Melhor aidna se acompanhadas por geleias, como a de café e a de pimenta, produzidas por Tanea Romão, do Kitanda Brasil, de Tiradentes (MG). Os lambaris da horta, aliás, fazem parte do Banco de Hortaliças Não-Convencionais da Fazenda Experimental Risoleta Neves em São João Del Rei, ali do ladinho de Tiradentes.

6. Chocolate de cacau recém-descoberto

A Amazônia esconde muitas variedades de cacau ainda não catalogadas, contou Cesar Mendes, fundador da Amazônia Cacau, de Belém (PA). Ele descobriu uma delas em uma expedição recente pela floresta e produziu um delicioso chocolate 65%, cujos pedacinhos foram distribuídos junto com amêndoas da nova variedade durante a palestra de Mendes no evento (infelizmente, estava escuro demais no auditório para fotografar a amostra).