Categoria: Histórias e receitas

Histórias e receitas: da minha família ou da sua, de chefs de cozinha, de cozinheiros amadores e de todo mundo que tem uma boa lembrança de comida.

Lampião e Maria Bonita – doce junino de goiabada caseira, queijo e calda de rapadura

Lampião e Maria Bonita – doce junino de goiabada caseira, queijo e calda de rapadura,(Foto: Tadeu Brunelli / Obá)
(Foto: Tadeu Brunelli)

Achei uma belezura esta sobremesa do menu junino do Obá, um restaurante festeiro que eu adoro. Depois de ver a receita, fazer goiabada cascão em casa entrou para minha lista de projetos futuros com um pé no passado – no caso, nas temporadas no sítio perfumadas por goiabeiras carregadas de fruta madura e por panelas de doce da minha bisavó Maria.

Ingredientes
2 rodelas de queijo meia-cura de 20 gramas cada
1 rodela de goiaba vermelha
2 colheres de sopa de goiabada cascão
Calda de rapadura
1 biscoito tareco ou outro biscoito doce redondo
Para a goiabada cascão:
2 quilos de goiabas vermelhas
3 xícaras (chá) de açúcar
1 e ¼ xícara (chá) de água
Para a calda de rapadura:
200 gramas de rapadura
½ xícara (chá) de água

Modo de preparo
No centro do prato, coloque uma rodela de queijo. Por cima do queijo, coloque o goiabada e, acima, a outra rodela de queijo. Com um maçarico de cozinha, dê uma tostada no queijo para que ele derreta um pouco. Coloque a rodela de goiaba apoiada no queijo e decore com a calda de rapadura e o biscoito.

Preparo da goiabada cascão
Descasque as goiabas e reserve as cascas. Bata a fruta no liquidificador até obter um purê. Passe o purê em uma peneira e reserve. Coloque em uma panela o açúcar e a água e leve ao fogo alto. Vá mexendo sempre, deixando o açúcar dissolver. Pare de mexer e deixe a calda ferver por 5 minutos. Acrescente, então, o purê de goiaba e as cascas reservadas. Continue cozinhando e mexendo sempre até a mistura se desprender do fundo da panela.

Preparo da calda de rapadura
Derreta a rapadura com a água até dissolver.

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Torta Célia (ou 1, 2, 3, 4 ou bolo de vó)

Pedaço de bolo de vó (ou 1, 2, 3, 4) (foto: Simone Pimentel)

Simone Pimentel refez, com a mãe, o bolo de chocolate que era especialidade da avó

 

Texto e fotos: Simone Pimentel

Minha avó a chamava de torta Célia (nunca soube exatamente o motivo, talvez a receita tivesse sido passada por uma prima sua chamada Célia), minha mãe, de 1, 2, 3, 4. Pra mim é bolo de vó, e tem gosto de infância.

Minha avó Maria, a quem eu chamava de “mamãe”, era a cozinheira mais badalada da família. Lembro dela contando, orgulhosa, que aos 16 anos fez um vatapá para duzentas pessoas na casa de seu pai. A cozinha era seu território por excelência e de lá saíam comidas de milho que nunca mais experimentei igual, além de, como boa pernambucana que era, os mais deliciosos e variados doces.

Ela era dessas avós nordestinas que demonstram o afeto muito mais pelos quitutes gostosos do que pelo carinho físico, embora também tenha muitas lembranças de seus afagos.

Quando os aniversários dos netos se aproximavam, ela ligava perguntando se preferia o bolo com cobertura de chocolate ou de coco. O bolo sempre era seu presente de aniversário.

Como eu morava em sua casa, acompanhava de perto os preparativos gostosos desses bolos. Os ingredientes eram separados nas tigelas sobre a mesa do terraço. Cadeira posta em frente à parede, alguidar de barro apoiado entre as pernas e a parede, colher de pau em punho. Poucas vezes tive o prazer de bater um pouco os bolos, ela dizia que tinha que ser a mesma mão do começo ao fim senão desandava. Eu ficava olhando. Um pouco porque gostava de ver aquele rito, um pouco para ficar em bom lugar na disputa com os primos e irmãos pela raspa da colher e do alguidar.

Simone, aos 14 anos, no rito de mexer a massa do bolo
Simone, aos 14 anos, no rito de mexer a massa do bolo

Se algo desse errado, o que acontecia pouquíssimas vezes, a culpa nunca era de minha avó. “O aniversariante não está com a cabeça boa”, ela dizia preocupada.

O tempo passou, minha avó se foi, e a criança que eu era completou 40 anos. Já não moro em Recife, e pedi a minha mãe, que vinha me visitar, para trazer seu caderno de receitas de doces para escolher algo especial para fazermos juntas, mas ela esqueceu de pôr na mala. A receita do bolo, fácil como beijo de vó, ela tinha fresca na memória porque costuma fazer para seus netos.

Fizemos o bolo juntas, e a tigela da batedeira foi toda minha. Depois de tudo pronto, minha mãe disse que eu estava com a cabeça boa. Minha avó teria ficado feliz.

A receita é muito simples, mas teve uns pequenos toques de minha mãe. Lá vai:

Para o bolo:
1 tablete de manteiga, mas minha mãe acrescentou um dedinho a mais
2 xícaras bem cheias de açúcar
3 xícaras rasas de farinha de trigo
4 ovos
1 xícara de leite
1 colher de chá de baunilha
1 colher de sobremesa cheia de fermento
3 colheres de sopa de nescau (minha mãe usa o chocolate do frade, mas eu queria o sabor do bolo da minha avó, que era com nescau)

Os ingredientes em pó ela peneirou. A farinha e o fermento ficaram juntos numa tigela, e o leite e a baunilha juntos em outra.

Na batedeira, batemos a manteiga e o açúcar. Depois de unidos, acrescentamos os ovos e batemos bem. Em velocidade forte e por tempo suficiente para ficar bem batidinho, sem cheiro de ovo.

Massa do bolo de vó (ou 1, 2, 3, 4) (foto: Simone Pimentel)

A partir daí surgiu uma polêmica. Minha mãe queria acrescentar a farinha e o leite misturando devagar na colher. Eu queria continuar usando a batedeira, em velocidade baixíssima, o que prevaleceu. Assim, fomos misturando alternadamente a farinha de trigo e o leite, sem bater muito, só para incorporar. Depois acrescentamos o chocolate, que pode ser em maior ou menor quantidade. Acho que no nosso podíamos ter colocado um pouquinho mais. Untamos duas assadeiras com manteiga e trigo, e dividimos igualmente o bolo entre elas. Não precisa passar colher em cima para ficar nivelado, é só dar uma sacudida leve que ele espalha. Levamos ao fogo já quente em 200 ºC por 20 minutos. Assamos um e depois o outro. E deixamos esfriar.

O recheio/cobertura é mais difícil explicar porque minha mãe não lembrava as proporções, até ligou para minha tia para relembrar, mas acabou fazendo no “olho”.

Ingredientes de recheio/cobertura: leite, maisena, leite condensado, coco fresco ralado. Primeiro põe o leite para esquentar e engrossa um pouco com maisena, acrescenta o leite condensado (usamos uma lata) e vai mexendo para não grudar e sentir a textura. Em seguida acrescenta o coco ralado e vai misturando devagar até ferver e começar a soltar do fundo da panela.

Desenforma o bolo, põe o recheio em cima dessa primeira banda sem moderação. Depois desenforma a outra banda, põe em cima da primeira, e completa passando o recheio em cima e pelas laterais.

É só comer e voltar no tempo.

Bolo de vó (ou 1, 2, 3, 4) sendo montado (foto: Simone Pimentel) Bolo de vó (ou 1, 2, 3, 4) sendo coberto (foto: Simone Pimentel)

Bolo de vó (ou 1, 2, 3, 4) (foto: Simone Pimentel)

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Crepe de mexerica flambada – sobremesa de improviso com uma fruta da estação

Crepe de mexerica (Foto: O Caderno de Receitas)

As melhores mexericas (ou tangerinas, ou bergamotas) da minha vida eu comi em uma temporada na Serra Gaúcha. Saborosas, suculentas, ácidas na medida, recém-colhidas. Em São Paulo, na falta de um pé de mexerica no quintal que eu não tenho, apelo para a feira ou para o mercado. Não é a mesma coisa, mas trabalhamos com o que temos, e esta é a melhor época para comprar essas frutas cheirosas.

No último domingo, Dia dos Namorados recheado de atividades com a famíllia, eu não tinha pensado em sobremesa para o jantar a dois até servir, cedo, o jantar do meu filho. Cozinhei para ele rolinhos de panquecas com queijo, presunto e molho de tomate acompanhados de espinafre refogado. Sobrou massa e, ali ao lado, no cesto de frutas, havia muitas mexericas dando sopa, então juntei as duas coisas e preparei um doce que espalhou um aroma incrível pela casa. Chamei de crepe, em vez de panqueca, para dar um ar meio francês e assim ter desculpa para contar que fiz uma aula de crepes e galetes na Cordon Bleu de Paris — mas, na verdade, panqueca para mim é das comidinhas simples e gostosas da infância, e remete mais a férias no sítio em Atibaia do que a refeições em restaurante francês.

Ingredientes
Massa
(rende 4 panquecas de mais ou menos 20 cm de diâmetro)
100 gramas de farinha de trigo
3 ovos
200 mililitros de leite
1 pitada de sal

Calda
(os ingredientes são para a calda de duas panquecas; se quiser usar toda a massa nesta sobremesa, dobre a quantidade da calda, mas a faça em duas etapas):
1 colher (sopa) beeeem cheia de manteiga
2 colheres (sopa) cheias de açúcar
3 mexericas
25 mililitros de cointreau
25 mililitros de brandy

Modo de preparo
Bata todos os ingredientes da massa.

Despeje conchadas da massa em uma frigideira, de preferência antiaderente, pré-aquecida e untada com óleo (eu uso um em spray para facilitar). Incline a frigideira para que a massa se espalhe e forme uma camada fina. Espere a massa endurecer um pouco e as laterais começarem a se soltar. Rapidamente, pegue a panqueca com uma espátula e vire para cozinhar do outro lado. Retire e reserve.

Unte novamente a frigideira e repita a operação (em uma frigideira de 25 centímetros de diâmetro, você fará quatro panquecas). É possível preparar as panquecas com antecedência e guardar na geladeira.

Antes de começar a calda, dobre cada panqueca ao meio e depois dobre novamente, formando um leque.

Para a calda, misture em uma frigideira a manteiga e o açúcar, depois junte os gomos de duas mexericas (com os caroços retirados) e o suco da terceira mexerica. Quando tiver uma calda caramelada, é hora de flambar com o cointreau e o brandy misturados.

Disponha as panquecas em leque na frigideira com a calda. Pegue uma conchada de cointreau e brandy e, com cuidado, aproxime a concha inclinada da chama do fogão, para a bebida pegar fogo. Despeje a bebida em chamas sobre uma panqueca, depois repita a operação com a outra panqueca. Espere o fogo acabar e sirva imediatamente.

A maior festa junina do mundo (e uma receita de curau)

Festa junina

Não existia nada mais animado que a festa junina da vila.

Será que a fogueira era tão grande quanto a torre de labaredas que habita a minha memória? E os dias e noites de festa, tão sem fim?

A vila em questão era o conjunto de residências (12?) com uma pracinha em que morei quando criança. Lembro com saudade dos paralelepípedos, dos tatus-bolas do jardim, do entra e sai da casa de amigos, do Pimpão, meu cachorro que sempre escapava para visitar o açougueiro do bairro e voltava todo pimpão com um osso entre os dentes.

Ali vivi uma infância de interior no meio de São Paulo. Algo mais evidente na festa junina, quando os moradores se juntavam para organizar o que, para mim, era a maior festa do mundo (e, de algum modo, talvez ainda seja). Corta bandeirinha, empilha lenha, decora a cadeia, prepara os quitutes, come come come corre corre corre dança dança dança…

Outro dia, publiquei no Facebook um vídeo de pé de moleque e duas amigas comentaram: que saudade da festa junina da vila! Por um instante, pensei: vamos nos reunir, vamos refazer a festa, agora com nossos filhos! Impossível. Podemos nos reencontrar, claro. Vai ser bom, acho. Mas lembrança não se refaz.

A vila, mesmo se ainda estiver lá, já não está. Talvez tenha sobrevivido ao furor imobiliário que não aguenta ver uma nesga de horizonte na cidade, mas, para mim, agora é uma vila, e não a vila, a minha vila, a nossa vila. Provavelmente é a vila de outras crianças. Ou melhor: espero que seja a vila de outras crianças.

Minha criança, meu filho, vai ter suas próprias vilas. Algumas, vai conhecer ao meu lado. Outras, vai desbravar por conta própria, e talvez encontre nelas um pouco da vila que mora em mim.

Em tempo: em breve vou publicar a receita do pé-de-moleque, porque ainda estou fazendo testes. Por enquanto, publico novamente uma receita de curau superfácil que está entre as mais buscadas do blog.

Curau de fubá: sobremesa junina de última hora

Curau com fubá e leite de coco caseiro

Ingredientes
100 gramas de coco ralado desidratado (cuidado para não comprar a versão adoçada!) ou ½ xícara de leite de coco industrializado
1 xícara de leite
½ xícara de fubá
¼ de xícara de açúcar
1 colher (sopa) de manteiga
Canela para polvilhar

Modo de preparo
Bata no liquidificador o coco ralado com água quente suficiente para cobri-lo. Esprema a mistura em uma peneira fina para obter o leite. (Se for usar o leite de coco pronto, pode pular os passos deste parágrafo.)

Coloque em uma panela o leite de coco, o leite de vaca, o fubá e o açúcar. Mexendo sempre para não empelotar, esquente a mistura até ferver. Acrescente a manteiga, misture e desligue o fogo.

Despeje o curau em duas tigelas pequenas e alise a superfície com uma espátula. Salpique canela e leve à geladeira.

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Biscoito champanhe caseiro

Biscoito champanhe

Meu próximo pavê será feito com biscoitos champanhe caseiros em vez daqueles industrializados (que eu já adoro, desde criança). A receita vem do goU, aplicativo da escola de gastronomia Atelier Gourmand que reúne mais de 3 mil receitas, livros digitais e aulas-vídeos.

Com colaboração de chefs como Alex Atala, Erick Jacquin e Fabrice le Nud, o app cobra mensalidade para acesso completo, mas parte do material está aberta no site gou.cooking, incluindo vídeos que detalham de métodos de preparo de legumes a diferentes modos de fazer merengue.

Biscoito champanhe
Ingredientes
12 gemas
8 ovos grandes
600 gramas de açúcar
750 gramas de farinha de trigo
1 colher (chá) de essência de baunilha
50 gramas de açúcar cristal, para polvilhar

Preparo
Coloque na batedeira as gemas, os ovos e o açúcar e bata por 20 minutos.  Transfira para uma tigela grande, junte a farinha de trigo e a baunilha e misture manualmente. Unte assadeiras próprias para biscoito champanhe e pingue a massa usando uma manga de confeitar e bico liso. Polvilhe o açúcar cristal sobre os biscoitos e leve ao forno pré-aquecido a 200 °C por cerca de 35 minutos ou até estarem bem corados.

Foto: divulgação.