Categoria: Histórias e receitas

Histórias e receitas: da minha família ou da sua, de chefs de cozinha, de cozinheiros amadores e de todo mundo que tem uma boa lembrança de comida.

Doce cremoso de mandioca — o errado que deu certo

O creme ficou ainda mais gostoso com cerejas bêbadas (em conserva de vodca)

Era para ser um pudim. Decidi fazê-lo ontem à noite, de última hora, enquanto meu filho tomava um iogurte antes de dormir. Eu não queria perder a mandioca que já estava cozida, e a receita era simples à beça, rapidinha. Mas não rápida o suficiente. Para colocar o menino na cama a tempo, fiz tudo tão correndo que esqueci um ingrediente básico: o leite.

Só percebi o erro quando o negócio já estava no forno, então decidi seguir em frente e ver no que dava. Deu numa sobremesa gostosa, de alguma forma lembrando um doce de ovos português, carregado no açúcar, ao qual se misturou a brasileiríssima mandioca. Ficou ainda melhor quando acompanhado de uma conserva de cerejas em vodca que tínhamos em casa (preparada pelo meu marido).

Hoje pretendo comprar mais ovos e preparar um pudim de verdade com a outra metade da mandioca. Mas decidi já compartilhar aqui a receita do meu erro que deu certo.

Teste número 33
Receita:
pudim de aipim (ou mandioca, como é mais comum falar em São Paulo)
Fonte: caderno de receitas da minha mãe
Resultado: outra coisa — um creme gostoso, mas não um pudim. Faria de novo, mas diminuiria o açúcar. Ficou ainda mais gostoso com cerejas bêbadas (em conserva de vodca).

Ingredientes
1 xícara de mandioca cozida passada no processador
1 xícara de açúcar derretido em água (ou menos, se você não gostar de doce tão doce)
50 gramas de manteiga derretida
2 ovos, sendo as claras em neve

Modo de preparo
Levei o açúcar ao fogo com uma xícara de água. Queria uma calda mais grossa, então deixei apurar.

Usei um pouco da calda para untar as formas refratárias. O resto, misturei à mandioca. Acrescentei a manteiga derretida e as gemas e mexi bem. Por fim, juntei as claras em neve e as incorporei ao creme delicadamente, com uma espátula.

Despejei o creme em formas refratárias e as posicionei sobre uma assadeira com água, em banho-maria. Levei ao forno aquecido a 180ºC e deixei até o creme ficar consistente.

Em um dos potes com creme, salpiquei uvas-passas antes de assar
Em um pote, salpiquei uvas passas antes de assar. O outro, servi com cerejas em conserva de vodca


Para cozinhar mais:

Jujuba de caju da Sucré Patisserie

jujuba-de-caju
Jujuba de caju: docinho com jeito de infância (foto: divulgação)

A confeitaria de Lia Quinderé, de Fortaleza (CE), começou afrancesada. Aos poucos, porém, a chef deixou a tapioca invadir o macaron e as frutas tropicais se misturarem ao chocolate belga. Natural, já que, apesar de ter estudado em Paris e Chicago, algumas de suas lembranças mais doces vinham dos tachos das cozinheiras da fazenda da família em Quixeramobim e das panelas da tia-avó quituteira.

A confeiteira Lia Quinderé (foto: divulgação)
A confeiteira Lia Quinderé (foto: divulgação)

Conheci Lia, 33 anos, em uma apresentação dos produtos da marca dela, a Sucré Patisserie, na Chocolate Academy, em São Paulo. Na ocasião, soube que a chef cursou Direito, mas mudou de rumo em busca de “algo que faça pular da cama todo dia para trabalhar”. Também provei pequenas delícias como o caramelo de mel de jandaíra com crocante de farinha d’água, a jujuba de caju e a coxinha de macaxeira com recheio de carne seca. Infelizmente, fiquei sabendo que, apesar de a Sucré ter 20 pontos de venda, incluindo um na Julice Boulangère, em São Paulo, por aqui só chegam os produtos embalados, como o chocolate em barra e o brigadeiro em um pote que imita leiteira. Para comer novamente os doces mais frescos e os salgadinhos, teria que ir a Fortaleza (até que não é má ideia…). Quem não tem Ceará pode também ficar com a receita abaixo, enviada pela confeiteira para o blog.

Jujuba de caju

Ingredientes
350 gramas de caju
8 gramas de pectina (encontrada em lojas de ingredientes para confeitaria ou de produtos naturais)
35 gramas de açúcar
100 gramas de glucose
375 gramas de açúcar
8 gramas de ácido tartárico (opcional; segundo a chef, é achado em lojas para gastronomia molecular)

Modo de preparo
Passe o caju em um processador, extraindo o suco. Leve ao fogo o caju, a pectina e a primeira parte do açúcar e deixe por aproximadamente 10 minutos, mexendo sempre. Adicione o restante do açúcar e mexa. Quando voltar a ferver, adicione a glucose e cozinhe até 108ºC (ponto de pérola: quando a calda está espessa e, ao escorrer, deixa uma gota suspensa na extremidade).

Desligue o fogo e adicione o ácido tartárico (opcional). Enforme imediatamente em uma forma quadrada sem fundo. Quando frio, corte em pequenos quadrados e sirva.

Rendimento
30 unidades

Arroz com castanhas da chef Renata Vanzetto

arroz
Arroz de jasmim com castanhas: bom acompanhamento para um ensopado

Nesta semana fui conhecer o novo menu do Marakuthai, restaurante contemporâneo de sotaque tailandês instalado nos Jardins, em São Paulo, e me fartei com um entradas refrescantes, um bom peixe com curry verde picante e sobremesas doces como a vida pede. Para compartilhar no blog, pedi à chef Renata Vanzetto uma receita bem simples, com potencial de renovar um básico do dia a dia: o arroz de jasmim com castanhas.

Na verdade, a preparação é tão simples que é mais uma ideia do que uma receita. No restaurante, esse arroz servia de acompanhamento para um bobó vegetariano de banana-da-terra e palmito pupunha. Em casa, acredito que ele vá bem com uma infinidade de ensopados e mesmo com outras preparações de peixe, frango ou vegetais.

Ingredientes
1 xícara de arroz de jasmim
2 xícaras de água
Sal a gosto
Castanha de caju (torrada e salgada) a gosto
Cebolinha picada e gergelim preto (opcional)

Modo de preparo
Cozinhe o arroz só com água e sal. Na hora de servir, coloque por cima a castanha de caju. Se quiser, salpique ervas, como cebolinha, e gergelim.

Arroz de jasmim com castanhas: bom acompanhamento para um ensopado
Arroz de jasmim com castanhas: bom acompanhamento para um ensopado

Duas tentativas de fazer biscoitos de gengibre

Biscoitos de gengibre - O Caderno de Receitas

Meu filho anda fascinado pela história do Homem Biscoito de Gengibre, um sujeitinho desaforado que foge do forno gritando: “Você não me pega!”. Alguns fins de semana atrás, resolvi preparar para ele (e com ele) o tal biscoito. Foi um daqueles momentos bonitos da maternidade: nós dois juntando ingredientes, cortando a massa com o molde, sentindo o cheiro de especiarias se espalhar pela casa. Pena que o resultado não foi tão bonito. Os biscoitos ficaram gostosos, mas disformes. “Cadê o olho, mamãe?”, perguntava meu pequeno, enquanto eu, com uma faca, tentava fazer cortes que simulassem um rosto.

Ele se convenceu com o improviso (bem mais que eu). Outro dia, pediu novamente os biscoitos. Com o menino fora de casa, parti para mais uma tentativa, com outra receita. Tirei o passo-a-passo do livro Feito com Carinho (assim como da primeira vez), substituí glicose de milho por mel (assim como da primeira vez) e usei só metade dos ingredientes do original (assim como da primeira vez). Agora, deu certo.

Teste número 31
Receita: biscoitos de gengibre.
Fonte: livro Feito com Carinho, da Publifolha.
Resultado (foto abaixo): muito gostoso, quase um caramelo, mas sem formato definido (a massa borbulhou no forno; não sei se me enganei com alguma quantidade ou o quê).
História do Homem Biscoito de Gengibre e receita que deu errado

Teste número 32
Receita: gingerbread.
Fonte: livro Feito com Carinho.
Resultado (foto abaixo): bem gostoso, com formatos divertidos (mas devo dizer que o sabor do biscoito feioso era melhor).
O teste 32, com biscoitos em diferentes formatos: ainda bem que a gente não desiste fácil, né?

Ingredientes
110 gramas (1/2 xícara) de manteiga sem sal, mais um pouco para untar
350 gramas de farinha de trigo (isso para começar; ao amassar, eu adicionei algumas colheradas a mais para dar liga), mais um pouco para polvilhar
1 colher de chá de bicarbonato de sódio
1 colher de chá de gengibre em pó
150 gramas (1 xícara) de açúcar mascavo
2 colheres de sopa de mel (o original pedia glicose de milho)
1 ovo batido

Modo de preparo
Misturei a manteiga, a farinha, o bicarbonato e o gengibre até fazer uma farofa.

Adicionei o açúcar, o mel e o ovo e misturei mais. Como a massa estava grudenta demais para moldar, acrescentei mais farinha.

Em uma superfície enfarinhada, estendi a massa com um rolo até deixá-la com uns dois milímetros de espessura. Usei cortadores para dar formato aos biscoitos, depois fiz olhos, botões e boca com um palito (o livro recomendava usar uvas passas em vez de fazer buracos, mas meus biscoitos eram pequenos, ficaria esquisito).

Coloquei os biscoitos em assadeiras untadas, deixando espaço entre eles. Levei ao forno a 190ºC por cerca de 10 minutos, até ficarem dourados (alguns queimaram… Preste mais atenção do que eu!).


Para ler sobre o Homem Biscoito de Gengibre:

Pudim de bacalhau (um bolinho gigante de bacalhau)

Minha contribuição para a Sexta-Feira Santa: pudim de bacalhau com molho de manteiga, limão e salsinha
Minha contribuição para a Sexta-Feira Santa: pudim de bacalhau com molho de manteiga, limão e salsinha

Se você gosta de bolinho de bacalhau, vai se esbaldar com este prato, que parece uma versão tamanho família (e assada) do petisco frito. A sugestão da minha avó Viquinha é servi-lo com molho maître d’hôtel — como o caderno dela não traz o passo a passo do molho, busquei na internet. Ficou uma delícia, ainda mais acompanhado de uma boa salada verde.

Fica aí minha sugestão simples, saborosa e de última hora para a Sexta-Feira Santa.

Teste número 30
Receita:
pudim de bacalhau
Fonte: caderno da avó Viquinha
Resultado: muito bom (um bolão de bacalhau bem feito)

Rendimento
4 porções

Ingredientes
300 gramas de bacalhau (comprei o já dessalgado, congelado)
½ pão francês (ontem eu usei uma fatia de pão tipo brioche, porque era o que tinha em casa)
2 batatas grandes cozidas
Azeite
2 dentes de alho
1 tomate
1 colher de sopa de manteiga derretida
2 ovos (com as claras batidas em neve)
Sal
Pimenta-do-reino moída na hora

Modo de preparo
Descongelei o bacalhau em água com sal (recomendação da embalagem) e o cozinhei só em água por 15 minutos.

Bati no processador o bacalhau e o pão.

Amassei a batata com um garfo.

Refoguei em bastante azeite o alho bem picado, em seguida coloquei os cubinhos de tomate e, depois, o bacalhau e o pão. Tudo rapidinho.

Em uma tigela, misturei o bacalhau, a batata, a manteiga e as duas gemas. Temperei com sal e pimenta-do-reino. Coloquei um pouco mais azeite.

Acrescentei as claras batidas em neve e misturei levemente.

Coloquei a massa em uma tigela untada e levei ao forno quente (220ºC) até começar a dourar.

Para o molho maître d’hôtel:
Derreti 3 colheres de manteiga e, na hora de servir, juntei o suco de meio limão, uma colher de sopa de salsinha picada no processador, sal e pimenta-do-reino moída na hora.