Categoria: Histórias e receitas

Histórias e receitas: da minha família ou da sua, de chefs de cozinha, de cozinheiros amadores e de todo mundo que tem uma boa lembrança de comida.

Brownie com manteiga de amendoim

Aceita um pedaço de brownie de chocolate e manteiga de amendoim? (foto: divulgação)
Aceita um pedaço de brownie de chocolate e manteiga de amendoim? (foto: divulgação)

Estou passando por uma fase de amor por manteiga de amendoim. Comprei uma versão meio natureba, com alfarroba e açúcar mascavo, e costumo comê-la sobre pedaços de maçã ou banana. Uma colherada da pasta acrescenta sabor, graça e cerca de 100 calorias a um lanchinho da tarde saudável.

Manteiga de amendoim também é o que faz a diferença na receita abaixo, da Adoro Brownie, indicada para aqueles momentos de indulgência em que valor calórico é a última coisa que importa. Está precisando adoçar o dia? Este doce certamente tem potencial para satisfazer sua necessidade de açúcar.

Ingredientes da massa de chocolate
3/4 de xícara de manteiga sem sal
1 xícara de açúcar
4 ovos
1 colher de chá de essência de baunilha
250 g de chocolate meio amargo
3/4 de xícara de farinha de trigo peneirada

Ingredientes da massa de amendoim
1/2 xícara de pasta de amendoim
2 colheres de sopa de manteiga sem sal
2 colheres de sopa de açúcar
1 ovo
1 colher de sopa de farinha de trigo

Modo de preparo
Primeiro faça a massa de chocolate: derreta a manteiga com o chocolate, então adicione os ovos, o açúcar e a baunilha e misture bem; por último acrescente a farinha de trigo peneirada.

Em seguida, misture bem todos os ingredientes da massa de amendoim.

Em uma forma de 25 x 25 cm, untada e enfarinhada, coloque colheradas da massa de chocolate, deixando espaços vazios para preencher com a massa de amendoim. Com a lateral de uma colher, arraste a massa de amendoim em direção à massa de chocolate para um efeito marmorizado.

Leve ao forno médio por 25 a 30 minutos.

Sequilho de araruta (ou a história do biscoito dos 7 erros)

Minha mãe me disse que na adolescência sempre assava estes biscoitos de araruta, muito simples de preparar. Pois para mim a receita pareceu encantada. Tudo o que eu tentava fazer dava errado.

Acabei acertando a mão, então publico o passo a passo no fim do post.  Antes, porém, vamos aos meus tropeços:

Erro número 1 – Acreditar que encontraria farinha de araruta facilmente em São Paulo.
Entrei em um, entrei em dois, entrei em três, entrei em quatro, entrei em cinco mercados. Nada. Em um deles, o atendente me olhou entre pasmo e ofendido quando perguntei pelo item. Desisti de fazer o biscoito naquele dia. Só iria encontrar a tal farinha semanas depois, em um box do mercado de Pinheiros. Em tempo: araruta é uma planta da América do Sul cuja fécula já foi muito usada e, segundo minha mãe, podia ser achada em qualquer supermercado, junto com o amido de milho e o polvilho de mandioca.

Erro número 2 – Tentar dividir a receita (ou ser desatenta, você decide qual é a questão).
Meio quilo de farinha de araruta me pareceu muita coisa. Resolvi fazer tudo pela metade. Em vez de três ovos, usaria um e meio. Só que, na hora de despejar as gemas na mistura, me distraí e joguei duas.

Erro número 3 – Não checar se tinha todos os ingredientes à mão na quantidade necessária.
Que mal meia gema a mais faria? Meu primeiro impulso foi seguir em frente, até porque o tamanho dos ovos varia. Mas pensei de novo e decidi completar as quantidades para fazer a receita inteira. Mais araruta, mais farinha, mais gema, mais manteiga. Ops, acabou a manteiga?!

Erro número 4 – Insistir no erro (ou ter preguiça de voltar ao supermercado).
Eu quase tinha a quantidade de manteiga necessária. Misturei os ingredientes e percebi que a massa estava um pouco seca, difícil de moldar. Mas quem sabe vai, né? Montei discos meio mequetrefes, untei uma forma com óleo e segui em frente.

Erro número 5 – Exagerar na decoração.
Meu marido tinha jogado fora um resto de goiabada que morava na minha geladeira. Um resto que seria suficiente para esta receita, a qual pede apenas um tiquinho do doce no alto de cada biscoito. Comprei um tijolão novo de goiabada só para fazer os biscoitos e caprichei na quantidade desse ingrediente – pena que ele grude um tanto no dente depois de assado.

Erro número 6 – Não separar todos os ingredientes que serão usados na receita.
Os biscoitos já estavam no forno quando me dei conta: “Esqueci de colocar a baunilha!”.

Erro número 7 – Resolver a vida enquanto os biscoitos estão no forno.
Uns minutinhos de distração e o fundo deles começou a escurecer.

Depois dessa sequência de tropeços, o resultado ficou melhor do que eu esperava. Um tanto quebradiço, com jeito de sequilho. Meu filho viu, quis experimentar e aprovou, então já valeu (ele só reclamou um pouco quando um troço de goiabada grudou em um dente, mas depois a gente vê isso com a dentista).

Guardei um tanto da massa na geladeira para assar no dia seguinte. Com uma colherada extra de manteiga, pedaços menores de goiabada e mais atenção no tempo de forno, os biscoitos ficaram bem melhores. A receita desencantou (mas outro dia ainda vou tentar fazê-la direitinho do começo ao fim).

Depois de um acerto aqui e outro ali, os biscoitos de araruta saíram - e ficaram bons!

Biscoitos de araruta

Ingredientes
½ quilo de araruta
250 gramas de farinha de trigo
250 gramas de açúcar
1 colher de sopa de fermento químico
250 gramas de manteiga
3 ovos (as claras em neve)
Gotas de extrato de baunilha (a gosto)
Raspas de casca de limão (opcional)
Pedaços de goiabada (ou goiabada cremosa)

Modo de fazer
Misture os ingredientes secos. Junte a manteiga e amasse tudo com as mãos. Adicione também as gemas, a baunilha e as raspas de limão e amasse mais. Por último, acrescente as claras batidas em neve.

Faça bolinhas e amasse para moldar pequenos discos. Coloque-os em uma assadeira untada. Sobre cada um deles, posicione um pedacinho de goiabada ou um pouco de goiabada cremosa.

Asse em forno baixo.

Sopa gelada de cajá-manga

 Um sobremesa de fruta refrescante, delicada e linda
Sopa de cajá-manga com chips de abacaxi, sorbet de maracujá e suspiros: uma sobremesa refrescante, delicada e linda (foto: divulgação)

Nos últimos tempos publiquei por aqui várias receitas para encarar os dias de calor. Insisto no tema. Até porque esta sopa de cajá-manga é daquelas sobremesas para as quais vale a pena reservar um pedaço da fome. Azedinha e refrescante, ela faz parte do menu especial de verão que o restaurante Cantaloup serve até sábado (31 de janeiro). Vem acompanhada de sorbet de maracujá, chips de abacaxi (gostoso e lindo) e merengue de laranja de uma delicadeza só.

Brenda Freitas, que comanda a confeitaria do restaurante, passou ao Caderno de Receitas o passo-a-passo da sopa, do chips e do merengue, mas aconselhou comprar o sorbet, pela dificuldade de fazê-lo sem uma máquina de sorvetes. Meu conselho: se estiver sem tempo ou paciência, prepare só a sopa, que já vai ser uma delícia.

Ingredientes da sopa
200 gramas de polpa de cajá-manga
½ xícara de açúcar refinado
5 colheres de chá de suco de laranja

Modo de preparo da sopa
Bata tudo no liquidificador e sirva bem gelado.

Ingredientes dos suspiros
100 gramas de claras de ovos (ou claras de três ovos grandes)
200 gramas de açúcar refinado
80 mililitros de água
Raspas de duas laranjas

Modo de preparo dos suspiros
Faça uma calda com o açúcar e a água. Quando começar a ferver e engrossar um pouco, bata a calda com a clara até ficar em ponto de neve. Jogue as raspas de laranja e mexa.
Com ajuda de um saco de confeitar, aplique a mistura em um silpat (tapete de silicone que vai ao forno) ou em uma assadeira coberta de papel-manteiga.
Asse os suspiros em forno bem  baixo (100 graus) por aproximadamente duas horas, até ficarem seco por fora e úmidos por dentro.

Ingredientes dos chips
¼ de abacaxi
Acúcar de confeiteiro para polvilhar

Modo de preparo dos chips
Fatie a fruta em fatias bem fininhas. Deixe secar em folhas de papel por aproximadamente duas horas.
Disponha as fatias cuidadosamente em um tapete de silicone ou em uma assadeira coberta de papel-manteiga e cubra-as com açúcar de confeiteiro peneirado.
Asse em forno baixo (100ºC) por duas horas. Deixe esfriar então guarde em um pote hermeticamente fechado.

Montagem
Na hora de servir, coloque um chips de abacaxi, dois suspiros e uma bola de sorbet sobre a sopa. Se quiser, decore também com flores e brotos.

Pavê muito simples de chocolate

Pavê de chocolate

Eu queria uma sobremesa simples, mas esta era tão simples que eu fiquei até encucada. Será que não está faltando alguma coisa? Na manhã de sábado, ansiosa porque queria preparar o doce a tempo de servi-lo para convidados no almoço (com emoção é mais gostoso, né?), liguei para a minha mãe em busca de ajuda. Apesar de a receita estar anotada no caderno dela e no da minha avó, minha mãe não se lembrava da preparação. “Hum, não leva nenhum creme de leite mesmo?”, ela perguntou, jogando mais lenha na minha insegurança. Mas depois me encorajou: “Tenta, filha, vai ver que é assim mesmo”.

Tentei. Ao misturar os ingredientes, consegui uma espécie de gemada com chocolate. Ainda em dúvida se aquilo daria certo, corri até a esquina e comprei um pote de sorvete. Mas nem precisava. Algumas horas depois, gelado, meu doce ganhou consistência. Eu tinha um pavê. O sabor do creme de chocolate, que antes de ir à geladeira eu tinha achado muito “ovado”, ficou mais suave, combinando bem com os biscoitos embebidos em vinho (e melhor ainda quando eu o provei com uma conserva de cerejas em vodca feita pelo meu marido).

Ingredientes
3 colheres bem cheias de manteiga
250 gramas de açúcar
5 gemas
3 colheres de cacau em pó (a receita pedia chocolate, mas eu tinha cacau em pó sem açúcar, orgânico, e resolvi usar. Funcionou, porque esse doce realmente não precisava ser mais doce)
Biscoitos tipo champanhe
Vinho de sobremesa (moscatel, no original. Eu usei um restinho de vinho Samos, grego, e completei com um pouco de Porto).

Modo de preparo
Misturei bem a manteiga, o açúcar, as gemas e o cacau até formar um creme (mas acho que podia ter até misturado mais, porque a textura ficou um pouco granulada).

Para montar o doce, espalhei uma camada do creme no fundo de uma tigela. Em seguida, mergulhei rapidamente os biscoitos no vinho, disposto em um prato de sopa, e fiz uma camada de biscoitos sobre a de creme. Fiz então mais uma camada de creme, mais uma de biscoitos embebidos em vinho e mais uma de creme.

Coloquei a tigela no congelador por cerca de uma hora (para acelerar o processo) e depois a desci para uma prateleira da geladeira, onde a deixei até a hora de servir.

Bolinhas de queijo da tia Ana (mãe da Fernanda)

Biscoito caseiro de queijo

Cresci em São Paulo, mas tive a sorte de morar em uma vila onde as crianças circulavam à vontade e entravam sem cerimônia nas casas umas das outras, muitas vezes deixadas com as portas destrancadas. Uma coisa meio hippie. Lá aprendi a andar de bicicleta, fiz viagens imaginárias de mapa-múndi na mão e mochila nas costas, admirei fogueiras de festa junina, montei espetáculos teatrais, joguei queimada (para ser mais precisa, perdi jogos de queimada), dancei em bailinhos e dei meu primeiro beijo (shhh! Não espalha!). Também fiz grandes amigos, que deixei de encontrar com frequência quando, adolescente, saí da cidade, mas que estarão sempre ligados às lembranças de um período delicioso da minha vida.

Minha melhor amiga era a Fernanda, uma menina doce e tranquila, que zelava por mim, a mais nova da turma (os pirralhos dos meus irmãos e dos amigos deles não contavam). A Fê era o máximo. À noite, se eu tinha medo de atravessar sozinha o pátio entre os sobrados para voltar para casa, principalmente depois de ver um filme de terror, ela se oferecia para me acompanhar. Estudava em um colégio alemão e tinha lições de casa indecifráveis! E, como eu, gostava de ler e escrever. Trocamos cartas logo depois que me mudei para Vitória. Hoje professora, ela me contou ter usado nossa correspondência como exemplo para tentar explicar a seus alunos, crianças, que as pessoas algum dia já se comunicaram por cartas.

Recentemente, lendo os cadernos de receita da minha família, achei curioso como eles funcionavam feito redes sociais. Minha avó anotava o passo a passo de um prato supimpa feito por uma conhecida, testava a preparação, acrescentava um comentário aqui e uma dica de outra amiga ali e então passava a novidade para a frente. Lembrei disso quando vi a receita abaixo anotada no caderno da minha mãe como “Bolinhas de queijo (Ana)”. Ana, amiga da minha mãe, é mãe da Fernanda, minha melhor amiga na vila. No meu caderno (este blog), as bolinhas viraram “Bolinhas de queijo da tia Ana (mãe da Fernanda)”, porque assim faz mais sentido para mim.

Reflexões à parte, esta receita é simples que só e fica uma delícia com um café da tarde.

Ingredientes
1 xícara e meia de farinha de trigo
1 xícara de manteiga (o original levava margarina, mas substituí)
1 xícara bem cheia de queijo ralado (usei gruyère, porque minha geladeira está cheia desse queijo, comprado em uma promoção, mas geralmente usaria parmesão)

Modo de preparo
Misturei tudo com as mãos até formar uma massa uniforme. Dividi a massa em bolinhas (e algumas “minhocas”, para o meu filho) e as levei ao forno pré-aquecido a 200ºC em uma assadeira (nem precisa ser untada).

Biscoito de queijo em forma de minhoca
Para as crianças, minhocas de queijo