A avó Argonne, a mãe, Sueli, Lizandra e a irmã, Liliana, agora mãe de Isabel
Por Lizandra Magon de Almeida*
Este relato faz parte de uma série de depoimentos sobre as delícias e as histórias da cozinha materna
Na minha família, todas as celebrações sempre foram em torno de muita comida. De um lado, uma avó baiana que morava no interior de São Paulo e protegia os mais exigentes preparando o prato preferido de cada um nos almoços de domingo. Independentemente do menu principal. Para o meu pai, cuscuz paulista e, de sobremesa, ambrosia. Para o meu primo, sempre tinha macarrão e carne moída e, para a minha prima, milho verde na manteiga. Minha irmã e eu sempre comemos de tudo, então a gente experimentava a comida dos adultos e a dos primos também.
Do outro lado, uma avó italiana, que costurava, limpava a casa e até os 85 anos atravessava a cidade de ônibus ou metrô para comprar onde fosse mais barato. Típica primogênita italiana, era uma fazedora nata. Então é claro que, na cozinha, ela preparava tudo em casa. Antes do Natal, muitas vezes nos reunimos para enrolar os cappelletti, um a um, todos do mesmo tamanho (ela caprichava mais nos grandes eventos – no dia a dia, era mais da prática do que da perfeição). Em outras ocasiões, fazia gnocchi, que a gente também comia de joelhos. O molho, obviamente, era de tomate fresco com carne, cozido a manhã inteira.
A família tem várias outras cozinheiras de mão cheia – não posso esquecer da minha tia, irmã do meu pai, e da minha prima e comadre, chef, professora de gastronomia e confeiteira de muita classe. Ou seja, comida boa nunca faltou.
Diante desse entorno poderoso – e de um marido cheio de vontades, com suas referências baiana e interiorana – minha mãe se tornou uma cozinheira altamente sincrética e muito prática. Aprendeu a fazer uma moqueca de peixe imbatível e sempre cozinhou massas, mas nunca se animou muito a fazer em casa como a minha avó.
Virou uma especialista em comida de mãe… aquela comfort food da qual você sempre se lembra, na alegria e na tristeza. O estrogonofe, por exemplo, que ela faz mais com frango do que com carne, é irresistível. A carne assada também. E o rosbife, o frango ensopado… Sempre comidas muito caseiras, com aquele temperinho gostoso, e acompanhados de arroz, uma verdura cozida e uma salada, na mais pura tradição mediterrânea.
‘É diferente, né? Fiz semana passada e seu pai adorou’, disse ela rindo, daquele jeito de mãe que nunca sabe muito bem como receber um elogio”
Tudo isso, porém, pareceu trivial demais quando comecei a pensar em que prato a representaria para este texto. Então lembrei dessa receita também muito simples, mas um tantinho mais sofisticada, que ela adaptou de algum livro antigo. Até hoje é sucesso garantido. Liguei para confirmar a receita e ela gostou da minha sugestão. “É diferente, né? Fiz semana passada e seu pai adorou”, disse ela rindo, daquele jeito de mãe que nunca sabe muito bem como receber um elogio.
Filé de peixe ao vinho
(Serve quatro pessoas)
Ingredientes
8 filés de peixe (pode ser pescada, tilápia, merluza ou qualquer outro peixe branco em filés)
Sal
Pimenta-do-reino
6 colheres de sopa rasas de azeite de oliva
2 colheres de sopa de manteiga
2 cebolas picadas
4 dentes de alho picados
2 xícaras de vinho tinto
Tempere os peixes com sal e pimenta-do-reino e reserve. Refogue em uma frigideira o azeite, a manteiga, a cebola e o alho picados. Coloque o refogado em uma forma refratária e acomode os filés de peixe por cima. Regue com o vinho tinto e leve ao forno por cerca de 15 minutos, dependendo da espessura dos filés. Sirva com arroz, purê de batatas e brócolis refogado.
*Lizandra Magon de Almeida é jornalista e autora do livro A Vida é Sopa – Receitas e histórias para o corpo e a alma (editora Pólen)
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