Mês: junho 2016

Semana da sopa em casa

Patricia Abbondanza, da parceira Dedo de Moça, compartilha três receitas quentinhas

Chega o frio e a primeira coisa que eu penso é em cozinhar comidas quentes e tomar com um vinhozinho. Existem várias técnicas para fazer uma boa sopa, mas uma coisa é fato: um bom caldo caseiro é essencial. Eu costumo fazer sempre com caldos claros (aqueles mais leves, em que os ingredientes entram todos crus na panela) e dependendo do sabor da sopa eu uso o de carne, frango ou legumes. Essa semana fiz um festival da sopa lá em casa e vou contar um pouco como preparei cada uma.

Segunda: sopa de abóbora com gorgonzola
Sopa de abóbora com gorgonzola (Dedo de Moça)
Cortei a abóbora cabotian em cubos grandes e coloquei em uma assadeira com alho amassado, alecrim fresco, azeite, sal e pimenta (não me perguntem as quantidades porque faço tudo no olhômetro). Levei para assar no forno a 200 graus até a abóbora ficar bem macia. Depois, com ela ainda quente, coloquei no liquidificador para bater com caldo de carne (vou colocando e batendo aos poucos, até ficar na consistência que eu gosto). Voltei para a panela, acrescentei um pouco de creme de leite fresco (bem pouco mesmo, só para dar mais cremosidade) e acertei o sal. Servi com queijo gorgonzola. Yumy!

Terça: sopa de mandioquinha
Sopa de mandioquinha (Dedo de Moça)Em uma panela refoguei cebola com alho (bem pouco), juntei a mandioquinha, cobri com caldo de frango e deixei cozinhar até ficar bem macia. Bati no liquidificador, voltei pra panela e coloquei um pouco de creme de leite fresco, vinho branco e queijo parmesão ralado. Acertei o sal e tá na mesa!

Quarta: falso caldo verde
Caldo verde (Dedo de Moça)
Em uma panela cozinhei a batata no caldo de carne até ficar bem macia. Quando a batata chegou no ponto, juntei um pouco de couve (só pra assustar) e bati no liquidificador. Na mesma panela refoguei bacon e cebola bem picada e coloquei o creme. Deixei cozinhar para pegar o gosto e finalizei com um pouco de couve picada.

Quinta: dia de pedir uma pizza, hehehe.

 

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Bolo de pinhão da fazenda Capoava

Bolo de pinhão da fazenda Capoava
(Foto: divulgação)

Fã de pinhão que sou, gostei desta receita da fazenda Capoava, de Itu (SP). O bolo costuma ser servido nas festas juninas da propriedade do século 18 que hoje funciona como hotel.

Mediante reserva, a Capoava rende um bom programa bate e volta a partir de São Paulo, com almoço recheado de quitutes do receituário de dona Lucy, 94 anos, mãe do proprietário. Algumas dessas receitas estão disponíveis no site da fazenda.

Ingredientes
Para a massa:
2 xícaras de pinhão cozido e triturado
2 xícaras de açúcar
2 xícaras de farinha de trigo
½ colher (sopa) de fermento em pó
100 gramas de nozes picadas grosseiramente
100 gramas de uvas passas
½ xícara de óleo
1 xícara de leite
2 ovos
Para a farofinha:
½ xícara de margarina ou manteiga
1 xícara de açúcar
1 xícara de farinha de trigo
1 colher (café) de canela em pó

Modo de preparo
Em uma vasilha, misture todos os ingredientes secos da massa, depois acrescente os ingredientes líquidos. Misture tudo muito bem e coloque em forma untada.

Com as mãos, misture bem os ingredientes da farofa. Espalhe-a por cima da massa do bolo e leve ao forno médio por mais ou menos 40 minutos.

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Chips de batata-doce assados

chips de batata-doce assada

Minha incumbência para a festa junina na casa de uma amiga era levar um prato salgado. Poxa, salgado? Com tantos doces juninos pedindo para sair dos cadernos de receitas da minha família? De salgado, lembrei da carne louca que recheava sanduíches suculentos. Depois, vi batatas-doces na prateleira e resolvi arriscar um novo petisco. Em vez de doce de batata roxa, fiz um salgadinho com o tubérculo.

Na verdade, eu já tinha feito os chips antes, mas agora acertei mais a mão. O segredo está em cortar fatias bem finas (usei um descascador de legumes para isso), colocar o mínimo de óleo possível na assadeira e só salgar depois de assadas. Assim elas ficam crocantes e sequinhas, perfeitas para petiscar no arraial.

Pena que eu esqueci o prato de chips em casa na hora de sair para a festa da minha amiga, que mora longe, longe, e precisei comprar qualquer coisa em uma padaria no caminho… Tudo bem, aproveitei para comer a batata-doce como lanche — ela também funciona como acompanhamento em refeições.

Ingredientes
Batata-doce roxa
Temperos (cominho e orégano secos, páprica doce, sal; não usei pimenta pensando nas crianças da festa)

Modo de preparo
Lave a batata-doce e seque com papel-toalha. Corte em fatias bem finas com um descascador de legumes ou um mandolim (fatiador).

Unte assadeiras levemente (usei um spray para isso) e distribua as fatias lado a lado, sem sobreposição. Salpique as ervas sobre elas.

Leve ao forno bem baixo (o meu ficou em 140 ºC). Depois de alguns minutos, mexa as fatias, depois deixe que terminem de assar. Quando prontas, eles estarão meio retorcidas, com as bordas levantadas e já crocantes (a parte central às vezes endurece só depois de esfriar).

Tire do forno e jogue a batata-doce sobre uma grade de metal para esfriar, depois transfira para uma tigela forrada com papel-toalha. Jogue o sal e misture.

Consuma na hora ou nos próximos dias, pois os chips vão amolecendo.

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Lampião e Maria Bonita – doce junino de goiabada caseira, queijo e calda de rapadura

Lampião e Maria Bonita – doce junino de goiabada caseira, queijo e calda de rapadura,(Foto: Tadeu Brunelli / Obá)
(Foto: Tadeu Brunelli)

Achei uma belezura esta sobremesa do menu junino do Obá, um restaurante festeiro que eu adoro. Depois de ver a receita, fazer goiabada cascão em casa entrou para minha lista de projetos futuros com um pé no passado – no caso, nas temporadas no sítio perfumadas por goiabeiras carregadas de fruta madura e por panelas de doce da minha bisavó Maria.

Ingredientes
2 rodelas de queijo meia-cura de 20 gramas cada
1 rodela de goiaba vermelha
2 colheres de sopa de goiabada cascão
Calda de rapadura
1 biscoito tareco ou outro biscoito doce redondo
Para a goiabada cascão:
2 quilos de goiabas vermelhas
3 xícaras (chá) de açúcar
1 e ¼ xícara (chá) de água
Para a calda de rapadura:
200 gramas de rapadura
½ xícara (chá) de água

Modo de preparo
No centro do prato, coloque uma rodela de queijo. Por cima do queijo, coloque o goiabada e, acima, a outra rodela de queijo. Com um maçarico de cozinha, dê uma tostada no queijo para que ele derreta um pouco. Coloque a rodela de goiaba apoiada no queijo e decore com a calda de rapadura e o biscoito.

Preparo da goiabada cascão
Descasque as goiabas e reserve as cascas. Bata a fruta no liquidificador até obter um purê. Passe o purê em uma peneira e reserve. Coloque em uma panela o açúcar e a água e leve ao fogo alto. Vá mexendo sempre, deixando o açúcar dissolver. Pare de mexer e deixe a calda ferver por 5 minutos. Acrescente, então, o purê de goiaba e as cascas reservadas. Continue cozinhando e mexendo sempre até a mistura se desprender do fundo da panela.

Preparo da calda de rapadura
Derreta a rapadura com a água até dissolver.

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Torta Célia (ou 1, 2, 3, 4 ou bolo de vó)

Pedaço de bolo de vó (ou 1, 2, 3, 4) (foto: Simone Pimentel)

Simone Pimentel refez, com a mãe, o bolo de chocolate que era especialidade da avó

 

Texto e fotos: Simone Pimentel

Minha avó a chamava de torta Célia (nunca soube exatamente o motivo, talvez a receita tivesse sido passada por uma prima sua chamada Célia), minha mãe, de 1, 2, 3, 4. Pra mim é bolo de vó, e tem gosto de infância.

Minha avó Maria, a quem eu chamava de “mamãe”, era a cozinheira mais badalada da família. Lembro dela contando, orgulhosa, que aos 16 anos fez um vatapá para duzentas pessoas na casa de seu pai. A cozinha era seu território por excelência e de lá saíam comidas de milho que nunca mais experimentei igual, além de, como boa pernambucana que era, os mais deliciosos e variados doces.

Ela era dessas avós nordestinas que demonstram o afeto muito mais pelos quitutes gostosos do que pelo carinho físico, embora também tenha muitas lembranças de seus afagos.

Quando os aniversários dos netos se aproximavam, ela ligava perguntando se preferia o bolo com cobertura de chocolate ou de coco. O bolo sempre era seu presente de aniversário.

Como eu morava em sua casa, acompanhava de perto os preparativos gostosos desses bolos. Os ingredientes eram separados nas tigelas sobre a mesa do terraço. Cadeira posta em frente à parede, alguidar de barro apoiado entre as pernas e a parede, colher de pau em punho. Poucas vezes tive o prazer de bater um pouco os bolos, ela dizia que tinha que ser a mesma mão do começo ao fim senão desandava. Eu ficava olhando. Um pouco porque gostava de ver aquele rito, um pouco para ficar em bom lugar na disputa com os primos e irmãos pela raspa da colher e do alguidar.

Simone, aos 14 anos, no rito de mexer a massa do bolo
Simone, aos 14 anos, no rito de mexer a massa do bolo

Se algo desse errado, o que acontecia pouquíssimas vezes, a culpa nunca era de minha avó. “O aniversariante não está com a cabeça boa”, ela dizia preocupada.

O tempo passou, minha avó se foi, e a criança que eu era completou 40 anos. Já não moro em Recife, e pedi a minha mãe, que vinha me visitar, para trazer seu caderno de receitas de doces para escolher algo especial para fazermos juntas, mas ela esqueceu de pôr na mala. A receita do bolo, fácil como beijo de vó, ela tinha fresca na memória porque costuma fazer para seus netos.

Fizemos o bolo juntas, e a tigela da batedeira foi toda minha. Depois de tudo pronto, minha mãe disse que eu estava com a cabeça boa. Minha avó teria ficado feliz.

A receita é muito simples, mas teve uns pequenos toques de minha mãe. Lá vai:

Para o bolo:
1 tablete de manteiga, mas minha mãe acrescentou um dedinho a mais
2 xícaras bem cheias de açúcar
3 xícaras rasas de farinha de trigo
4 ovos
1 xícara de leite
1 colher de chá de baunilha
1 colher de sobremesa cheia de fermento
3 colheres de sopa de nescau (minha mãe usa o chocolate do frade, mas eu queria o sabor do bolo da minha avó, que era com nescau)

Os ingredientes em pó ela peneirou. A farinha e o fermento ficaram juntos numa tigela, e o leite e a baunilha juntos em outra.

Na batedeira, batemos a manteiga e o açúcar. Depois de unidos, acrescentamos os ovos e batemos bem. Em velocidade forte e por tempo suficiente para ficar bem batidinho, sem cheiro de ovo.

Massa do bolo de vó (ou 1, 2, 3, 4) (foto: Simone Pimentel)

A partir daí surgiu uma polêmica. Minha mãe queria acrescentar a farinha e o leite misturando devagar na colher. Eu queria continuar usando a batedeira, em velocidade baixíssima, o que prevaleceu. Assim, fomos misturando alternadamente a farinha de trigo e o leite, sem bater muito, só para incorporar. Depois acrescentamos o chocolate, que pode ser em maior ou menor quantidade. Acho que no nosso podíamos ter colocado um pouquinho mais. Untamos duas assadeiras com manteiga e trigo, e dividimos igualmente o bolo entre elas. Não precisa passar colher em cima para ficar nivelado, é só dar uma sacudida leve que ele espalha. Levamos ao fogo já quente em 200 ºC por 20 minutos. Assamos um e depois o outro. E deixamos esfriar.

O recheio/cobertura é mais difícil explicar porque minha mãe não lembrava as proporções, até ligou para minha tia para relembrar, mas acabou fazendo no “olho”.

Ingredientes de recheio/cobertura: leite, maisena, leite condensado, coco fresco ralado. Primeiro põe o leite para esquentar e engrossa um pouco com maisena, acrescenta o leite condensado (usamos uma lata) e vai mexendo para não grudar e sentir a textura. Em seguida acrescenta o coco ralado e vai misturando devagar até ferver e começar a soltar do fundo da panela.

Desenforma o bolo, põe o recheio em cima dessa primeira banda sem moderação. Depois desenforma a outra banda, põe em cima da primeira, e completa passando o recheio em cima e pelas laterais.

É só comer e voltar no tempo.

Bolo de vó (ou 1, 2, 3, 4) sendo montado (foto: Simone Pimentel) Bolo de vó (ou 1, 2, 3, 4) sendo coberto (foto: Simone Pimentel)

Bolo de vó (ou 1, 2, 3, 4) (foto: Simone Pimentel)

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