Categoria: Fora de casa

Dicas e receitas de restaurantes.

Lentilhada com linguiça para uma noite aconchegante em família

Combinação para uma noite sem frescuras: lentilhas com linguiça e bacon

Acabo de passar um fim de semana prolongado com a família em Vitória (ES) e fui muito bem alimentada durante a visita. Hoje e nos próximos dias, vou publicar receitas e dicas dessa curta temporada capixaba.

Começo com esta lentilha simples e saborosa preparada por minha mãe em uma noite fresca, que pedia até um casaquinho (ocasião não muito frequente na cidade). Provada ao lado de gente querida, acompanhada de um bom vinho (na verdade, uns bons vinhos) e queijos e frios artesanais da serra do Espírito Santo, a receita, inspirada em uma preparação do livro Nigellíssima, de Nigella Lawson, deixou a noite ainda mais gostosa.

Em seguida, dou o passo-a-passo detalhado.

Ingredientes
Bacon
Alho-poró (a parte mais tenra)
Azeite aromatizado com alho
Lentilha
Louro
Linguiça
Tomilho fresco
Sal
Cheiro-verde (salsinha e cebolinha)
Pimenta-do-reino e azeite apimentado (opcionais)

Modo de preparo
Em uma panela grande, minha mãe dourou bacon em fogo baixo, sem adicionar gordura porque ele já é gordo o suficiente. Depois, retirou os pedaços de bacon e os deixou de lado para usar mais tarde. Na mesma panela, ela refogou o alho-poró, cortado em fatias finas, na gordura do bacon somada a um pouco de azeite com alho. Em outra panela, para agilizar, começou a cozinhar a lentilha — sem sal, só em água temperada com algumas folhas de louro.

A linguiça dourou um pouco sobre o alho-poró. Em seguida, a panela grande recebeu também a lentilha, os pedaços de bacon e o tomilho. Foi preciso acrescentar um pouco de água fervendo até a lentilha ficar bem cozida.

Por fim, minha mãe temperou a lentilha com sal, pôs um pouco mais de azeite com alho e acrescentou cheiro-verde picado. Na mesa, deixou à mão pimenta-do-reino e azeite apimentado (que ela evitou usar em tudo por causa do netinho de dois anos que participava do jantar). Como acompanhamento, pão.


Para cozinhar mais:

8 razões para conhecer o Eataly SP (e 3 para passar longe de lá)

Na manhã desta terça-feira, uma multidão de jornalistas — eu entre eles — se espalhou pelos três pisos do Eataly São Paulo, uma espécie de disneylândia culinária com inauguração prevista para 19 de maio. Basicamente, era um monte de gente disputando, até que de modo civilizado, uma fatia de presunto cru e uma brecha na vitrine para filmar a produção ao vivo de mozzarella.

Segundo o chef celebridade americano Mario Batali, sócio do empreendimento, quem entra no Eataly se sente um pouco como uma Cinderela chegando à festa do príncipe. Exageros à parte, é dificil não se deslumbrar um tanto diante dos 7 mil produtos (italianos e de fornecedores locais) dispostos em departamentos como rotisseria, padaria e açougue, além de servidos em sete restaurantes.

A seguir, listo alguns motivos que me dão vontade de voltar ao Eataly quando ele de fato abrir ao público:


focaccia1. A focaccia ao pomodoro.

Eu poderia falar da padaria inteira, tocada por padeiros italianos, mas só esse item — macio, cheio de molho — já é uma razão bastante boa para ir ao Eataly.


mozzarella2. A arte da mozzarella ao vivo.

O restaurante chinês Rong He, na Liberdade, ficou conhecido pela vitrine da “Apresentação de Arte de Macarrão ao Vivo”, na qual um cozinheiro, usando só as mãos, estica e puxa pedaços de massa até eles se transformarem em longos fios de macarrão. O setor La Mozzarella do Eataly também tem um showzinho: ali se faz o queijo fresco na frente dos clientes (veja o vídeo no Instagram). Não é tão espetacular quanto a performance chinesa, mas abre o apetite para experimentar a mozzarella, vendida ali e usada nos restaurantes do mercado.


fornodepizza3. A pizza Rossopomodoro na hora do almoço.

“Bravo!”, clamou a chef Lidia Bastianich, sócia do Eataly, quando meus dedos resgataram da tábua o queijo que escorregou da minha fatia de pizza. Eu não abriria mão do único naco de mozzarella que me cabia daquela delícia de estilo napolitano, com massa alta e fofa, molho farto de tomate San Marzano e queijo minimalista (pelo menos para padrões paulistanos).
Parceria com a rede italiana Rossopomodoro, a pizzaria contraria os costumes de São Paulo e funciona também no almoço.


panela-eataly4. As panelas de barro capixabas ao lado das Le Creuset.

Dá samba a mistura de produtos locais com os importados. A origem de deles está explicada em plaquetas sobre as prateleiras.


img_53155. Os peixes de belos olhos.
No dia da visita, a peixaria reunia peixes mais bonitos do que os que costumo encontrar em supermercados de São Paulo. Resta esperar que não tenha sido algo só para jornalista ver.

6. O arancino, bolinho de risoto de linguiça recheado com queijo.
Bolinho de arroz é bom. Bolinho de risoto é melhor. Bolinho de risoto de linguiça então…

7. Os frios.
Presunto San Daniele, queijo de cabra paraibano, grana padano e outras perdições reunidas lado a lado.


img_53108. A porchetta.
Úmida, gorda, com uma casquinha crocante, pode ser levada para casa ou comida em um sanduíche ali mesmo.

Agora, os motivos para manter distância do Eataly.

1. A muvuca.
O mercado ainda nem abriu, então só posso supor que os 4.500 metros quadrados serão tomados por uma turba sedenta por pão, vinho e outras gostosuras. Mas é uma boa aposta, baseada na atração que o Eataly NY desperta em turistas brasileiros, no interesse de quem passava na rua no dia da “pré-estreia” e na lotação de feiras e outros eventos gastronômicos de São Paulo.

2. O risco de gastar demais.
Como na visita as mercadorias não tinham preços marcados, não sei dizer se eram especialmente caras ou baratas (a comunicação do Eataly promete preços justos. A ver). De qualquer forma, é daqueles lugares perigosos, cheios de produtos tentadores pedindo para entrar no carrinho. Se você está duro, melhor evitar.


eatalysp3. O fato de ser um supermercado.
As tendas que abrigam frutas, verduras e legumes são charmosas e a arquitetura arejada impressiona, mas trata-se de uma rede com outras 28 lojas pelo mundo (15 na Itália, 9 no Japão, duas nos Estados Unidos, uma em Dubai e uma em Istambul). Simpatizo mais com um mercado municipal como o de Pinheiros, em que nem tudo é tão bonito porém é mais autêntico (por enquanto…), ou com o pequeno empório familiar a duas quadras da minha casa. No entanto, confesso: se o fim do mundo estivesse próximo e eu precisasse de um abrigo, talvez corresse para o Eataly.

O Eataly São Paulo fica na avenida Presidente Juscelino Kubitschek, 1.489.


Para cozinhar mais:

Jujuba de caju da Sucré Patisserie

jujuba-de-caju
Jujuba de caju: docinho com jeito de infância (foto: divulgação)

A confeitaria de Lia Quinderé, de Fortaleza (CE), começou afrancesada. Aos poucos, porém, a chef deixou a tapioca invadir o macaron e as frutas tropicais se misturarem ao chocolate belga. Natural, já que, apesar de ter estudado em Paris e Chicago, algumas de suas lembranças mais doces vinham dos tachos das cozinheiras da fazenda da família em Quixeramobim e das panelas da tia-avó quituteira.

A confeiteira Lia Quinderé (foto: divulgação)
A confeiteira Lia Quinderé (foto: divulgação)

Conheci Lia, 33 anos, em uma apresentação dos produtos da marca dela, a Sucré Patisserie, na Chocolate Academy, em São Paulo. Na ocasião, soube que a chef cursou Direito, mas mudou de rumo em busca de “algo que faça pular da cama todo dia para trabalhar”. Também provei pequenas delícias como o caramelo de mel de jandaíra com crocante de farinha d’água, a jujuba de caju e a coxinha de macaxeira com recheio de carne seca. Infelizmente, fiquei sabendo que, apesar de a Sucré ter 20 pontos de venda, incluindo um na Julice Boulangère, em São Paulo, por aqui só chegam os produtos embalados, como o chocolate em barra e o brigadeiro em um pote que imita leiteira. Para comer novamente os doces mais frescos e os salgadinhos, teria que ir a Fortaleza (até que não é má ideia…). Quem não tem Ceará pode também ficar com a receita abaixo, enviada pela confeiteira para o blog.

Jujuba de caju

Ingredientes
350 gramas de caju
8 gramas de pectina (encontrada em lojas de ingredientes para confeitaria ou de produtos naturais)
35 gramas de açúcar
100 gramas de glucose
375 gramas de açúcar
8 gramas de ácido tartárico (opcional; segundo a chef, é achado em lojas para gastronomia molecular)

Modo de preparo
Passe o caju em um processador, extraindo o suco. Leve ao fogo o caju, a pectina e a primeira parte do açúcar e deixe por aproximadamente 10 minutos, mexendo sempre. Adicione o restante do açúcar e mexa. Quando voltar a ferver, adicione a glucose e cozinhe até 108ºC (ponto de pérola: quando a calda está espessa e, ao escorrer, deixa uma gota suspensa na extremidade).

Desligue o fogo e adicione o ácido tartárico (opcional). Enforme imediatamente em uma forma quadrada sem fundo. Quando frio, corte em pequenos quadrados e sirva.

Rendimento
30 unidades

Arroz com castanhas da chef Renata Vanzetto

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Arroz de jasmim com castanhas: bom acompanhamento para um ensopado

Nesta semana fui conhecer o novo menu do Marakuthai, restaurante contemporâneo de sotaque tailandês instalado nos Jardins, em São Paulo, e me fartei com um entradas refrescantes, um bom peixe com curry verde picante e sobremesas doces como a vida pede. Para compartilhar no blog, pedi à chef Renata Vanzetto uma receita bem simples, com potencial de renovar um básico do dia a dia: o arroz de jasmim com castanhas.

Na verdade, a preparação é tão simples que é mais uma ideia do que uma receita. No restaurante, esse arroz servia de acompanhamento para um bobó vegetariano de banana-da-terra e palmito pupunha. Em casa, acredito que ele vá bem com uma infinidade de ensopados e mesmo com outras preparações de peixe, frango ou vegetais.

Ingredientes
1 xícara de arroz de jasmim
2 xícaras de água
Sal a gosto
Castanha de caju (torrada e salgada) a gosto
Cebolinha picada e gergelim preto (opcional)

Modo de preparo
Cozinhe o arroz só com água e sal. Na hora de servir, coloque por cima a castanha de caju. Se quiser, salpique ervas, como cebolinha, e gergelim.

Arroz de jasmim com castanhas: bom acompanhamento para um ensopado
Arroz de jasmim com castanhas: bom acompanhamento para um ensopado

Saudade do coentro

Caldo de peixe com espuma de coentro e socol (embutido feito na serra do Espírito Santo)
Caldo de peixe com espuma de coentro e socol (embutido feito na serra do Espírito Santo)

Uma das boas lembranças da minha adolescência no Espírito Santo é a da moqueca capixaba fumegante que devorávamos depois de passar horas na praia alimentando a fome. Recém-chegada de São Paulo, minha família inicialmente torcia o nariz para a floresta de coentro que cobria as panelas de barro, mas logo se acostumou (até porque não tinha opção) e passou a apreciar a vegetação local.

Hoje, estou de volta a São Paulo. O coentro, que agora adoro, tempera as imagens dos fins de semana quando meus pais e os três filhos se aboletavam no carro para explorar a terra para onde nos transferimos. Parte da minha família continua lá. Para matar a saudade da comida, fui ao lançamento do Menu Capixaba no restaurante Brasil a Gosto, em São Paulo (atualização: o restaurante se transformou no Instituto Brasil a Gosto e abre só para eventos).

Compartilho abaixo duas receitas da chef Ana Luiza Trajano com inspiração na culinária do Espírito Santo. Para matar a saudade dos pais e da irmã (e dos pratos feitos do jeito tradicional, bem mais “coentrados”), já estou com as passagens compradas.

Caldo de peixe com espuma de coentro e crocante de socol

Ingredientes
10 g de alho
10 ml de óleo de urucum
450  ml de caldo de peixe
Sal a gosto
6 g de pimenta dedo-de-moça
20 g de coentro
10 ml de caldo de legumes
20 g de socol (um embutido preparado na serra do Espírito Santo; se não estiver no Espírito Santo e não achar o produto, sugiro usar presunto cru)

Modo de preparo
Em uma panela, doure o alho no óleo de urucum e coloque o caldo de peixe deixando-o reduzir 1/3 e ficar cremoso. Tempere com pouco sal e adicione a pimenta dedo-de-moça. Sirva quente com a espuma de coentro e o crocante de socol.

Para fazer a espuma de coentro, coloque em uma tigela o caldo de legumes frio e o coentro e bata com um mixer até incorporar os dois. Coloque a mistura em um sifão e reserve. No momento de servir, agite o sifão e coloque a espuma por cima do caldo de peixe.

Para o crocante de socol, corte o socol em fatias bem finas, espalhe em uma assadeira e leve ao forno a 160º C por 6 minutos, virando no meio do tempo. Quebre em pedaços bem pequenos e sirva dentro e por cima do caldo de peixe.

Moqueca capixaba

Na versão da chef Ana Luiza Trajano para a moqueca capixaba, o pirão vem na mesma panela que o peixe
Na versão da chef Ana Luiza Trajano, a moqueca leva coentro e cebolinha

Ingredientes
720 g de filé de abadejo
60 ml de azeite
20 g de sal temperado
40 ml de óleo de urucum
20 g de alho batido
1,5 l de caldo de peixe
80 g de cebola cortada em tirinhas
80 g de tomate cortado em tirinhas
30 g de cebolinha verde picada
30 g de coentro picado
2 pimentas dedo-de-moça
2 bananas-da-terra
Sal a gosto

Para o pirão
25 ml de óleo de urucum
15 g de alho
40 g de cebola picada
300 g de aparas de peixe
100 ml de caldo de peixe
60 g de farinha de mandioca
Sal a gosto

Modo de preparo
Tempere o peixe de véspera com o azeite e o sal temperado. Reserve.

Em uma panela, doure o alho em óleo de urucum e adicione o caldo de peixe, deixando-o reduzir 1/3. Em uma panela de barro, faça uma cama com metade da cebola e do tomate, coloque os filés de peixe por cima, cubra com o restante do tomate e da cebola, o coentro e a cebolinha picados. Adicione o caldo de peixe reduzido e deixe em fogo médio até que o peixe cozinhe. Coloque as bananas da terra cortadas em anéis transversais, acerte os temperos e sirva com o pirão de peixe.

Para o pirão, em uma panela média, doure o alho e a cebola no óleo de urucum. Adicione as aparas e o caldo de peixe, mexendo com um fouet para que os pedaços de peixe se quebrem. Quando cozidos, adicione a farinha de mandioca sem parar de mexer até que a farinha cozinhe e o pirão fique uniforme. Acerte o sal e sirva com a moqueca.